Andámos para aí a fazer manifestações pela independência de Timor. Lembram-se? Foi uma das últimas causas nacionais, que pôs os portugueses com os corações nas mãos. Todos os dias chegavam notícias. Os indonésios eram maus como as cobras, havia bandos armados liderados por um tal Guterres que era uma espécie de inverso do nosso Primeiro Ministro, o António. Todos os dias sabíamos das desgraças de um povo inteiro que adoptámos como nosso irmão. Foi uma cena do caraças.
Quando chegou, finalmente, a independência vimos a cerimónia em directo na TV. Chorámos, rimos, sorrimos, os portugueses sentiam que tinham cumprido o seu dever. Mas, com a paz no território, as notícias foram escasseando. Cada dia que passava afastava mais e mais Timor, até que ficou no seu lugar longinquo. Definitivamente.
Nos dias que correm só ouvimos notícias de Timor quando acontece alguma coisa má ou quando Xanana vem a Portugal assistir a um jogo de futebol. Até parece que os meios de comunicação social só se interessam pelas desgraças ou fait divers aparvalhados. Hoje chegou a notícia de confrontos violentos nas ruas de Díli e os timorenses voltaram a merecer honras (pelo menos) no jornal Público. Foto a cores na capa, uma carrinha a arder com alguns homens em poses dinâmicas de violência. Duas páginas quase completas no interior.
A paz não interessa nem ao menino Jesus. Timor será notícia apenas quando o sangue correr? Se fosse apenas Timor... descrever o sorriso e a hospitalidade dos timorenses foi tema fastidioso, talvez demasiado fantástico. A construção de uma nação não deve ser suficientemente interessante para fazer notícia. Até porque Timor é um país miserável (ao que consta) e só será curiosidade quando abrir em Díli uma dependência do Casino de Lisboa. Com coktail de gambas e putas finas.
1 comentário:
É verdadenão poderia estar mais de acordo. Dou por mim ás vezes a perguntar-me, porque razão se "varre " Timor, do nosso horizonte, por longos periodos.Que raio de ligação temos nós com este povo a quem enchemos a boca a chamar de irmão, mas com quem não falamos, e que vive distanciado de nós como se tratasse da ovelha negra da familia? Não entendo. Porque deixamos que outros nos distraiam e perdemos de vista estes irmãos, para só nos lembrarmos deles, na desgraça, (no sangue, como você diz)? Parecemos uma enorme " Casa Pia " damos tão pouco para quem precisa de tanto. E não precisaria de ser dinheiro, mas sermos mais fraternos e demonstrarmos mais sensibilidade. Enfim, vozes que ficam perdidas, nesta floresta imensa onde vivemos, cujo eco as árvores não transportam para além deste pequeno quadradinho onde escrevemos. Estou consigo. Se recrutar " soldados " para essa missão.
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