terça-feira, abril 04, 2006

Perder o futuro


No Domingo a capa do suplemento do Público trazia uma imagem dos tumultos em Paris com o estranho título de "Medo de Perder o Futuro". Falava-se das razões para a revolta da chavalada.
Perder o futuro... como pode perder-se algo que não se possui? Como pode perder-se o que ainda não aconteceu? O futuro possui-se? Eu possuo um futuro? Como poderei sabê-lo antes de lá chegar? Fiquei deveras confuso e a coisa não me tem saído da cabeça.
Poderei ter expectativas, desejos, anseios. Poderei sonhar com algo que venha a acontecer ao ponto de tentar influenciar os acontecimentos por forma a dar um jeitinho na realidade. Mas é tudo muito vago, muito no campo das hipóteses.

Decididamente, se há coisas que dificilmente se possam perder, o futuro será uma delas.
Nunca perdi o futuro. Simplesmente aconteceu muitas vezes que o futuro não correspondeu ao que imaginara, no passado, nada mais. O futuro não se perde. Quando muito não corresponde a algo ou a alguma coisa. O futuro pode apenas ser diferente daquilo que desejámos que ele viesse a ser.

Por outro lado também não me parece que se possa encontrar o futuro uma vez que ele acontece de acordo com o passado imediatamente anterior. Ou seja, o futuro é o momento que acabaste de viver, tão depressa se transformou em passado. O futuro precipita-se constantemente, tropeçando no passado, quase não deixando tempo ao presente. O presente será aquilo que mais dificilmente se compreende por não ter intervalo de tempo que lhe valha. Entalado entre o passado e o futuro, praticamente não existe. O presente sim, é constantemente perdido. Sempre perdido nas voltas do ponteiro dos segundos, passo a passo, o presente, na verdade, quase não existe.

Os jovens parisienses talvez protestem por não conseguirem encontrar o presente, embora tenham alguma dificuldade em compreendê-lo. Na verdade o que lhes faz falta é "o agora" e não "o amanhã". Se "o agora" os satisfizesse já não andariam aos trambolhões pelas ruas, em busca de glórias passadas, em busca de um tempo perdido que nunca lhes pertenceu nem poderá alguma vez vir a pertencer.

2 comentários:

Anónimo disse...

?????????????????????????????

Silvares disse...

Pois, nem eu percebo muito bem esta cena do futuro!
:-)