O mercado de obras de arte vive tempos agitados. As grandes leiloeiras, nomeadamente as incontornáveis Christie's http://www.christies.com/home_page/home_page.asp e Sotheby's http://www.sothebys.com/, vão oferecendo a eventuais compradores alguns trabalhos de grandes mestres. Note-se que estou a falar de trabalhos de grandes mestres e não, obrigatoriamente, grandes trabalhos. Ouvimos falar em "mirós" ou "picassos" e logo surgem, associados a estas designações generalistas, números incompreensíveis em euros ou libras ou dólares, números astronómicos seja qual for a moeda. As leiloeiras esperam sempre que haja alguém ou alguma instituição com poder económico suficiente para adquirir os produtos que comercializam.
Nos meses (anos?) mais recentes têm sido transaccionadas muitas obras deste calibre com base e ponto de partida nos preços propostos. Frequentemente atingem-se novos recordes que deixam o comum dos mortais de queixo caído perante a dimensão do fenómeno e os donos das leiloeiras a esfregarem as mãos de contentamento. A cada novo leilão é mais um record que se ultrapassa. Isto tem sido assim.
Até que, um dia destes, não sei se anteontem ou no dia anterior, a Sotheby's não conseguiu vender "um" Van Gogh. O quê? Um Van Gogh sem comprador!!?? Soaram os alarmes e de imediato surgiu a palavra "crise". O mercado terá entrado em crise?
O que eu gostaria de frisar é que existe a possibilidade de o tal Van Gogh ser uma obra pouco apelativa. Talvez o objecto em si não seja particularmente brilhante e, mesmo numa situação tão abstrusa como é esta de comercializar objectos artísticos, haverá a necessidade um mínimo de paixão entre comprador e objecto. Digo eu. Ou seja, as tabelas de preços são estabelecidas segundo parâmetros específicos, vende-se mais o nome do autor do que o objecto propriamente dito.
Pessoalmente, para dar um exemplo, considero o Miró da colecção Berardo um pequeno horror, uma obra desinteressante. O Ernst dessa mesma colecção é pouco deslumbrante e os picassos também não são nada de extraordinário. Mas sempre são "um" Miró, "um" Ernst e "dois" picassos!
Para finalizar acrescento apenas que entre a paixão e o interesse monetário há uma distância imensa, difícil de quantificar ou explicar quando falamos de objectos de arte. Não creio que haja uma crise só porque "um" Van Gogh patinou num leilão. Talvez a tal paisagem não fosse assim tão apetecível ou então o preço base de licitação poderia ser apenas assim a dar para o exageradíssimo, uma vez que exagerado já ele era de certezinha absoluta.
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