A pequena multidão que se deslocou ao CCB no Domingo faz da exposição de 26 pinturas e mais umas coisas relacionadas com a vida de Frida Khalo um fenómenozinho no nosso acanhado universo artístico.
Anteriormente constituiram sucessos assinaláveis as exposições, em Serralves, das obras de Andy Warhol, Bacon e Paula Rêgo.
Haverá algo de comum entre estas exposições?
Atente-se, a título de exemplo, na actual exposição da pintora mexicana.
Mais do que a qualidade da sua pintura, o público conhece (ou pensa conhecer) a personagem. A obra funcionará mais como um espelho, através do qual o espectador poderá confirmar a imagem que construiu da sua autora.
O espectador eventual, amador de pintura ou simples consumidor de suplementos dominicais de semanários, sente-se preparado para encarar as obras de Frida pois estas aparecem-lhe descodificáveis na sua brutalidade simples.
São suficientemente explícitas para não produzirem grandes problemas conceptuais e suficientemente "naifs" para tornarem suportável a visão de certos horrores que, num registo mais académico, poderiam tornar-se chocantes ou mesmo insuportáveis à vista do espectador leigo.
Há assim uma espécie de aproximação da pintura à notícia tablóide. "Coluna desfeita produz obra-prima!" ou qualquer coisa deste género. Isto retira uma carga erudita desconfortável que tantas vezes acompanha o fenómeno artístico e, embora a pintura de Frida Khalo seja tão áspera e agressiva como as instalaçõs de Hirschhorn, revela-se muito menos (quase arriscaria dizer, nada) hermética e próxima das experiências de vida do consumidor.
E o que tem isto de comum com as outras exposições atrás citadas?
Bom, todos os artistas referidos são personagens quase literárias. O ícone Pop, o pintor maldito e a genialidade lusitana temperada pelos nevoeiros londrinos ombreiam com a masculinidade feminina do buço de Frida. São todos suficientemente humanos para serem queridos e, sobretudo, compreendidos.
Isto coloca uma questão: o que esperamos nós da obra de arte?
Será identificação? Talvez.
E, se for assim, ficam os robôs de Leonel Moura postos de parte do universo da criação artística?
As questões conceptuais da arte continuam a ser pasto de pequenos rebanhos de seres algo estranhos, algo raros, mas que existem. Disso não tenhamos dúvidas.
Entretanto admiremos o buço de Frida (quando a febre baixar e as filas forem menos embaraçosas).
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