"Não farás para ti qualquer imagem nem nada semelhante ao que existe nos céus, na terra ou nas águas que ficam debaixo dela; não te curvarás diante delas, nem as servirás: porque eu, o Senhor teu Deus, sou um deus ciumento, que castiga a maldade dos pais nos filhos, até à 3ª e 4ª geração daqueles que me aborrecem; e faço misericórdia aos milhares que me amam e guardam os meus mandamentos."
Êxodo (20, 4-6)
A liberdade de expressão não é uma imagem de marca das religões. A natureza dogmática das crenças religiosas impede vozes discordantes e ameaça com terríveis castigos toda a blasfémia. A criação de imagens, como se pode constatar pela transcrição de uma passagem do Antigo Testamento, foi expressamente proibida por Deus.
Esta questão levou a violentas disputas na história do cristianismo. O triunfo dos que defendiam o papel pedagógico das imagens, como via de conhecimento para as hordas de iletrados que enxameavam (e continuam a enxamear) os templos, foi devastador no Ocidente católico e todos nós estamos bem familiarizados com as obras de arte sacra que marcam a nossa cultura e a nossa civilização.
A produção de obras de arte sacra foi um factor determinante para a difusão da fé católica apesar das reservas de algumas igrejas. Entre os ortodoxos cristãos cristalizou na representação dos ícones, com regras rígidas e supervisão apertada dos doutores da igreja. Para os protestantes o papel das imagens é muito menos importante e olhado de soslaio.
O medo da idolatria está na base de todas as reservas relativamente à produção de imagens naturalistas. A escultura, em particular, foi durante muito tempo demonizada por estar relacionada com os cultos pagãos.
Não é de admirar que a questão ressuscite, de tempos a tempos, voltando a incendiar os peitos mais fundamentalistas com o ardor da pureza da fé.
Num mundo globalizado onde a imagem é mãe de todas as coisas não há espaço para discussões serôdias como a que está a ser gerada pela questão dos cartoons dinamarqueses. Se não houvesse um fundamentalismo cego e retrógrado tão enraízado no mundo muçulmano, esta patetice só nos faria sorrir.
O problema é que esse fundamentalismo existe e toda esta historieta lamentável é aproveitada para abanar a nossa liberdade de expressão.
Os fanáticos religiosos no mundo árabe passaram à acção violenta. Multiplicam-se as agressões a embaixadas da Dinamarca e a boçalidade furiosa está à solta.
Lamentável.
1 comentário:
Excelente post.
Estou totalmente de acordo: é lamentável e assustador ver o medo que, no ocidente, começa a existir relativamente ao fundamentalismo muçulmano, que deve ser tratado como... fundamentalismo!
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