Quer-me cá parecer que há alguém (ou talvez alguma coisa) que anda a alimentar-se do que não devia.
Há alguém (ou alguma coisa) gulosa do mal-estar alheio, que cresce e se sente mais confortável quando a miséria avança, seja na versão material ou cultural, a miséria é para este alguém (ou alguma coisa) um pitéu saboroso.
Esta coisa (ou Alguém, com maiúscula) devora-nos a alma e atira os restos aos bichos que mantém como animais de estimação. Estou convencido que estamos perante um caso de polícia ao nível do Divino. Anda um deus qualquer, estúpido ou enlouquecido pela sífilis, a estragar ainda mais a humanidade.
Lá vai o tempo em que sonhei que o mundo estava todo ao contrário por não haver quem se interessasse pela posição relativa das coisas no Universo. Andava a estudar Geometria Descritiva no mais elevado grau de dificuldade, o que explica tal alucinação. Mas, apesar dos miolos fritos no lume brando da Geometria, havia algo de inquietante na visão dos meus sonhos.
Deus era afinal o Diabo que, com as manhas que todos sabemos possuir, nos havia convencido de ser bom e bem intencionado ao ponto de lhe chamarmos Deus do Amor e outras patetices do género. Assim se explicava tanto mal e tamanhas maldades a assolarem a tristeza deste mundo, ainda por cima premiada por multidões submissas a encherem os templos de lamentos e outras coisas semelhantes a orações rezadas num zumbido de mosca.
O mundo estava ao contrário! Na verdade, uma vez que o mundo é esférico, isso não deveria constituir surpresa nem provar rigorosamente nada de importante. A não ser que entre Deus e o Diabo a diferença resida, apenas e lamentavelmente, numa questão de posição e perspectiva.
Chiça penico, convenhamos que os meus sonhos de adolescência não foram particularmente saudáveis, mas também, perante o quadro actual, até que poderão ser considerados sonhos cor-de-rosa (desde que não sejam rosas de paixão que aí já a cor é outra!).
Sim, pois, e tal e coiso, "Venha o Diabo e escolha", "Valha-nos Deus", pátati, pátatá, a religião regressa em força para cumprir a sombria profecia de João Paulo II para o jovem século que agora vivemos.
Disse ele que este seria o século da religião.
Querem lá ver que o homem, afinal, era bruxo!
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