No tempo em que os animais falavam foi importante haver quem impusesse visões ordenadas das coisas que compunham o mundo e a existência. A religião funcionou, então, como Lei e permitiu a sobrevivência da espécie humana. Os deuses foram criados para nos protegerem do mundo hostil e, sobretudo, de nós próprios.
Houve sempre povos que reclamaram para si favores especiais das divindades. Alguns ainda hoje o reclamam. E fazem oferendas e matam os próprios irmãos só porque interpretam de forma diferente a suposta mensagem divina. Os fanáticos andam por aí ao cheiro e são atraídos quando sentem o odor de merda e sangue misturado. Acorrem, de imediato, como hienas.
Agora que triunfámos sobre a barbárie e sobre a própria divindade, somos livres. As divindades deixaram de fazer sentido e tornaram-se desnecessárias. Somos bem capazes de tomar conta de nós próprios e dispensamos o paternalismo do criador que inventámos.
Deus não morreu, simplesmente nunca existiu como sabemos. Como sempre soubemos.
No mundo actual a religião não tem mais o papel regulador das sociedades, tornou-se um arcaísmo. Paz à sua alma.
Mas o mundo, longe de estar globalizado, está partido em pedaços. Se vivemos a era tecnológica deste lado do planeta, outras zonas existem onde a religião continua a prevalecer sobre a inteligência. Esse problema poderá tornar-se verdadeiramente preocupante a médio prazo.
O Império Romano tem sido recordado a propósito daquilo que designamos por Crise dos Cartoons. Todos sabemos como se desgregou a Ocidente como um baralho de cartas por jogar. Ao cair o poder imperial, a Europa mergulhou num período letárgico esquecendo toda a herança cultural clássica que acabou usurpada pela hierarquia cristã que veio a impor a sua lei por muitos e longos séculos.
Agora que nos conseguimos libertar, mais uma vez, do jugo dogmático e castrador da religião não podemos permitir que um bando de fanáticos venha cuspir sobre as tumbas dos que fizeram da grandeza do espírito humanista o destino da Europa.
Deus, se existisse, haveria de estar do nosso lado.
1 comentário:
Meu caro 100cabeça, ainda não percebi bem qual a tua opinião acerca da famosa crise dos cartoons. Neste teu post parece temeres uma invasão de "um bando de fanáticos" que "venha cuspir sobre as tumbas dos que fizeram da grandeza do espírito humanista o destino da Europa", não sei se com isso te queres referir aos seguidores do Islão, se assim for, gostava de te lembrar que a riqueza do "espírito humanista" está antes de mais no seu universalismo, na capacidade de aceitar e assimilar as riquezas de diferentes culturas e não de as recusar ou ostracizar.
Não percebo como alguns intelectuais da nossa praça falam da suposta "superioridade da civilização ocidental" como se ela fosse um nicho à parte da restante barbárie, como se o mundo fosse possível de guetizar, como se a civilização não fosse ela também global. Francamente continuo a pensar que o mundo é só um e estes discursos só me fazem lembrar é gente do género do Salazar que passou a vida a fodernos para defender a "superior civilização ocidental".
Para mim a crise dos cartoons, foi só uma gota de água que fez transbordar o copo da paciência dos árabes; são séculos de invasões, humilhações, roubos (é ver os magníficos museus da Europa),abusos, cruzadas, Palestina, bombardeamentos e danos colaterais, feitos por portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, americanos, dinamarqueses, russos, italianos... o ocidente radioso. É normal que os homens se sintam fartos, eu também me sentiria.
O problema por mim deve estar é no petróleo e o resto é conversa.
Quanto à liberdade de expressão, o grande perigo é este ambiente de confrontação e de pré-guerra, como se pode constatar pelo que está a acontecer nos EUA, Inglaterra. Aliás é este ambiente a napalm no ar que verdadeiramente põe em causa a grandeza da Europa.
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