Ontem de manhã fui ao Centro Cultural de Belém. Visitei a exposição "Tudo o que é sólido dissolve-se no ar" e a mostrazinha de trabalhos de Osgêmeos, "Pra quem mora lá, o céu é lá". Cá fora caía uma chuva miúdinha, daquela que se diz só molhar os tolos. Em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, e ali por perto, dezenas de carros negros com chauffeur estacionados a esmo por tudo quanto era e não era lugar de estacionamento. Lá dentro, no Centro Cultural, o ambiente do costume.
Um parêntesis para dizer que em "Tudo o que é sólido..." há um painel de trabalhos de ilustração publicados no jornal O Combate no qual estão 3 desenhos da minha autoria. Finalmente cheguei ao Centro Cutlural de Belém sem ser na condição de visitante. Apesar da modéstia da coisa não deixa de ser uma curiosidade que me faz sorrir. Mas, adiante, que o motivo deste post não era propriamente estar para aqui a babar-me por tão pouco.
Quando saímos, a coisa continuava congestionada pela frota de veículos topo de gama. Em frente ao mosteiro havia velhinhas sentadas nos bancos da orla do jardim, com ar de gozo e chapéus de chuva abertos. Depreendi que não eram tolas. Uma ou outra personagem feminina vestida de forma estranha fez-me pensar que se trataria de algum casamento de socialites. Saí dali sem dar grande importância ao facto, apenas um pouco confuso, tal era a balbúrdia estabelecida no exterior.
Ao chegar a casa o mistério foi esclarecido. Havia nos Jerónimos uma celebração especial. Portugal e Espanha festejavam o 25º aniversário da adesão dos nossos países à União Europeia. Ok, então era isso. Agora tudo fazia sentido. As velhinhas com ar de gozo, os carros negros espalhados por todo o lado, as senhoras vestidas de rebuçado, era a Europa interpretada pelos habitantes da Península Ibérica: confusão e aparato. Assim é que é e é assim que é bonito.
4 comentários:
E viva a República!
Jorge, tantos veículos topo de gama e senhores engravatados com ar de quem não teme a polícia nem tem limites para a imaginação (estaconam como querem e lhes apetece mesmo ali, defronte aos Jerónimos) dão bem a imagem de como a coisa é desiquilibrada. É mau.
Silvares, o que mais me incomoda é que a futilidade sem culpa, a falta do limite por conta do tal poder econômico, não é mais exclusividade da aristocracia.
É péssimo!
Lina, o problema da burguesia é que, lá no fundo, sempre invejou a futilidade aristocrática.
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