domingo, junho 20, 2010

Toda a gente te ama depois de estares morto


A morte tem este dom espantoso de aperfeiçoar aquilo que fomos em vida. Nada melhor que um funeral para nos fazer sentir coisas profundas. Perante a fragilidade de um cadáver arrumadinho no caixão esfumam-se todos os ódios. A contemplação do féretro é como olhar um espelho negro. É depois de mortos que os santos são canonizados e os grandes seres humanos são revelados em todo o seu esplendor. É a dança macabra da vaidade humana a rodopiar nas mentes dos que por cá ficam.

Daí toda a tristeza e grande parte da mágoa que deveras é sentida. E também daquela que é fingida.

6 comentários:

Anónimo disse...

Há mortes prematuras que "salvam" biografias, e outras, como a do Saramago, que servem para penitenciar os erros cometidos contra o morto, em vida. Mas já é tarde!

Silvares disse...

Eduardo, segue-se oytro post sobre a morte de Saramago, precisamente porque ele não foi tão homenageado como seria de esperar... ou talvez como se esperava. O Presidente da Rpública, por exemplo, não compareceu ao funeral e o Vaticano mostra quase alegria com a morte do escritor.

Anónimo disse...

É verdade, a morte tem esse dom, e não é sem razão que os santos só são canonizados depois de mortos. A morte enfeita tudinho. Mas agora falando em nós, as pessoas comuns do povo, a gente bem que merecia ser homenageado em vida, pelos nossos entes queridos, não achas? Mas, não! Em vida ninguém vale nadinha, nenhum centavo, tudo que fazemos tem um defeito. Mas depois de mortos, ah, aí todo mundo chora, ai que saudades, tadinho, era um santo. Shazan! Rsrs. Bobeou vão leiloar até nossas meias! Paradoxal não? bjssssssssss

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Rui,

no caso do Vaticano, até se compreende, e o Saramago não perde nada! No caso do Presidente da República, são protocolos de Estado, e se compreende também! E acho, que no caso presente, Saramago perde muito pouca coisa! A respeito postei no Drops Azul Aniss, um texto de 1872 que diz bem sobre o momento atual de Portugal. Me permito transcreve-lo, por que sei que não é leitor do Drops:


Portugal, 1872

Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal.

Eça de Queirós, As Farpas, 1872

Silvares disse...

Marli, afinal não é sempre assim.
:-(

Eduardo, o presidente está de férias com a família e o Vaticano apregoa o perdão. Mas, pelo que vejo, é um perdão selectivo.
O texto de Eça parece profecia. Com foi ele acertar tão definitivamente no retrato de Portugal e da Grécia? Assim se compreende a grandeza da sua obra literária, foi obra de inspiração divina!