Charles Darwin terá afirmado que "Um matemático é como um cego num quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá." É uma frase engraçada e um pouco obscura (repleta de escuridões e incertezas) que tenta brincar com a dificuldade (incapacidade?) de descrever o mundo que nos rodeia de forma objectiva e compreensível para os mortais comuns. Principalmente quando essa descrição é tentada segundo as regras abstractas da Matemática, essa coisa deslumbrante, apenas ao alcance de uns quantos cegos fechados em quartos escuros.
Li aquela frase (e retirei o essencial do páragrafo anterior) de um texto assinado por um tal Anthony Huberman, curador da exposição "para o cego no quarto escuro à procura do gato preto que não está lá" (ver aqui) em exibição na Culturgest, em Lisboa. O texto é muito interessante e, parece-me, sublinha a grandeza da tarefa que a arte contemporânea impõe, tanto aos artistas que a produzem, quanto aos espectadores que pretendem fruí-la.
Os artistas e os espectadores, quando tentam explicar o mundo que os rodeia através do objecto artístico, serão como os matemáticos, caindo facilmente num emaranhado de explicações que poderão resultar mais confusas que lúcidas.
A solução será deixar fluir as formas (a informação) através dos nossos sensores individuais, tentando retirar dessa situação alguma possibilidade de haver uma Revelação. A fruição artística é aqui encarada como uma brincadeira séria e profunda, como se olhássemos o mundo com os olhos deslumbrados de uma criança que aprende constantemente a reinventar o universo. É bonito. Já os expressionistas alemães haviam proposto algo do género lá para os primórdios do século passado.
Pessoalmente estou convencido de que tudo isto se passa num plano mais esotérico e menos atmosférico. Na minha perspectiva, o objecto de arte resulta de uma acumulação de energias nele depositadas durante o acto da sua criação. Essas energias ficam em estado de suspensão e são activadas (ou animadas) quando a energia individual do observador entra em contacto com elas. A fruição do objecto artístico resulta desta fusão de energias (a energia em suspensão do objecto com a energia pessoal do observador) que desencadeiam uma pequena tempestade cerebral de resultados imprevisíveis.
Quando o observador se afasta, a tempestade amaina e restam pequenas ondas de choque que se vão transmutando em memórias. Parece-me simples, apesar de praticamente inexplicável.
Quero dizer, esta ideia carece de comprovação científica (como provar a existência de tais energias?) e pode não significar nada para ti, leitor. É isso que faz com que esta ideia seja uma espécie de obra de arte. Ofereço-ta e espero que te faça bom proveito.
4 comentários:
E ainda chamam a matematica de ciencia exata.
Entendo que dentro desse "bom proveito" posso levar o post para o Varal!
Lina, a exactidão é uma pretensão perigosa.
Eduardo, esteja à vontade.
Sinto-me totalmente a vontade em comentar teu post e dizer que entendi justamente apenas por sentir que os questionamentos são tão reias e absurdos quanto podem parecer. Sinto por não saber que a arte é mais que a tecnica ou a qualidade impressa, sem desprezar obviamente a contribuição do conhecimento. Mas por sentir o resgate do momento e sua criação que fica impregnado na cria que ao deparar-se com outra energia capta e transfere essa emoção, ás vezes logica mas sem razão.Confortável a minha situação pois por não ser especialista nem erudita suponho o raso da escuridão que pela tua visão me realiza em inspiração. Observações que resultam na constante e necessária explicação. Entender que o sentir é único e difuso sem ser.
Teu comentário no Varal me trouxe aqui para confirmar o que entendi.
beijos
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