quinta-feira, junho 17, 2010

Um gajo


Conheço um gajo meio estranho. É um gajo que tem uma necessidade incontrolável de comunicar. Aquilo é quase uma doença!

Já falei com ele dessa sua obsessão (esta frase desliza como um skate!), tentei explicar-lhe que, por vezes (demasiadas vezes, na minha opinião) aquela torrente de ideias e imagens que ele larga para fora da cabeça, acaba por incomodar as outras pessoas. Ele concorda comigo e promete tentar controlar-se. Mas ainda hoje o encontrei a pregar, autenticamente. Assim à maneira do Santo António a pregar aos peixes. Olhei discretamente as caras que o rodeavam e notei que estavam todos de boca aberta. Uns com ar de enfado, outros pareciam espantados. Espantados apenas e mais nada. Senti alguma pena dele, mas o gajo é completamente descontrolado.

Disse-me um dia que, quando começa a falar, é como se as ideias lhe ganhassem corpo dentro da boca e precisasse de as deitar fora, só para poder continuar a respirar. Explicou-me que o mundo só faz sentido quando verbaliza. E que verbalização dali vem!

As coisas que diz são consistentes e fazem sentido, mas ele descreve uma espécie de Apocalipse constante. Acaba por chatear. Lá no fundo aquele gajo é um chato de primeira. Mas, pensando bem, qual é o problema? As outras pessoas podem sempre virar costas e ir embora. Se o ouvem é porque há ali qualquer coisa que faz sentido.

O conselho que lhe dei foi que tentasse desenhar ou pintar, algo do género. Ele prometeu-me que vai tentar. Entretanto continua a falar. Fala, fala, fala... o discurso interminável dos loucos.

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