Um grande escritor, um pintor extraordinário, um compositor maravilhoso, qualquer um deles pode, a qualquer momento, produzir uma obra de merda. Não custa quase nada, basta-lhes estarem num dia não ou andarem com a cabeça ocupada com outras cenas, exteriores à grandeza eloquente a que habituaram os seus admiradores. Um café demasiado amargo pode fazer abortar o pensamento de um génio. As coisas que nos proporcionam prazer, que são belas ou perfeitas, nem sempre surgem do mesmo modo perante os nossos olhos. Um ângulo errado, uma luz inapropriada, uma aparelhagem mal equalizada, pequenas coisas que estragam coisas enormes, grãos de areia capazes de emperrar a mais complexa das máquinas. Nós também podemos estragar o trabalho de um artista genial. Com a nossa indiferença, a nossa ignorância ou, muito simplesmente, quando já consumimos tanta arte excelente que não somos capazes de meter para dentro nem mais uma letra, uma nota ou um acorde vibrante de cor sem a seguir regurgitarmos tudo numa torrente de enfado.
Toda esta verborreia a propósito de ter lido A Música do Acaso (The Music of Chance), de Paul Auster. Quem já leu compreenderá onde quero chegar. Quem quiser compreender onde quero chegar terá de ler este livro. Mas poderá acontecer que nada disto faça qualquer sentido. Estou em crer que é o mais certo.
Toda esta verborreia a propósito de ter lido A Música do Acaso (The Music of Chance), de Paul Auster. Quem já leu compreenderá onde quero chegar. Quem quiser compreender onde quero chegar terá de ler este livro. Mas poderá acontecer que nada disto faça qualquer sentido. Estou em crer que é o mais certo.
9 comentários:
Gosto do que li dele.
O titulo que sugeres e fazes uma provocação, não lí.
Mas fiquei curiosa.
"só pela dúvida vale a vida. duvida?"rettamozo.
Lina, não duvido nem um pouquinho!
:-)
Não sei se comi alguma coisa que me caiu mal ou se o bom do Paul estava numa crise criativa quando acabou o livro, não sei...
Concordo com tudo que disse sobre um genio e as possibilidades de um dia produzir uma obra menor! O ACASO, temática de fixação recorrente na obra do Paul ( meu escritor predileto, dos contemporâneos americanos) pode ter acontecido, como em outras obras suas em que não atinge o nível que dele nos acostumamos! Outra observação a se fazer, é a pressão que escritores do seu calibre recebem dos Editores! Um ou mais livro por ano, não podem manter o mesmo padrão! São genios, mas são humanos!Por acaso!
Também gosto bastante de Paul Auster e o livro aqu citado até nem é tão mau quanto isso. Pelo menos até chegar às últimas páginas e ao desenlace da coisa toda, que me parece destoar do resto. Quando você nota a pressão de fazer algo que se venda toca outro factor complicado. Um artista obrigado a sê-lo pode acabar por se parecer com um funcionário público. A vida não é fácil!
:-)
O problema é que o Paul Auster não é "um grande escritor". Utilizaria outro adjectivo para o classificar, talvez bom ou então, sólido. Conheço razoavelmente a obra deste autor e, tirando o que considero um momento fulgurante da sua escrita que é o Livro das Ilusões, ainda hoje um dos meus livros favoritos de sempre, o resto da sua obra é ... sólida. Não é genial, mas o que escreve tem sempre alguma qualidade. Não salva a literatura mas também não atenta contra ela. E fiquemo-nos pela escrita, já que quando resolve investir na 7ª arte, os resultados são decepcionantes. Para quem tiver dúvidas sobre esta afirmação, aconselho o visionamento do filme A Vida Interior de Martin Frost (curiosamente, uma história incluída na narrativa do excelente Livro das Ilusões). Cada macaco no seu galho...
Perante uma autoridade não me atrevo a contestar!
:-)
Apesar de não ter lido mais do 3 ou 4 livros de Paul Auster inclino-me a concordar plenamente contigo. Tenho para ali O Livro das Ilusões. Vou ter de o ler, é claro.
Olha, curioso, tenho uma opinião semelhante à do Jorge. O Auster vai remexendo, remexendo a sua temática principal, de tal modo que começa a dar a sensação de receituário, da qual escapa airosamente ao conseguir (às vezes) outros pontos de vista com que retoma a dita temática. Neste aspecto os livros complementam-se.
Eu já me perdi na narrativa e nos labirintos da realidade de tal modo que me lembro das histórias, mas não sei quais os títulos. Não posso dizer mais nada a não ser que me cheira que (para mim) será mais importante relê-lo que pegar em coisas novas.
Como disse o Rui, diante de tão abalizadas opiniões não vou me atrever discordar, embora ache que antes de um escritor sólido, ele era um bom roteirista de cinema! Começou por lá! Pode até ser que seja, hoje mais "solido" escritor do que bom roteirista, mas trouxe dos roteiros sua receita para a literatura. É um contador de histórias com planos sequencias, tomadas e muitos acasos!
LuisM, há quem diga que um escritor escreve um livro e depois o reescreve infinitamente de cada vez que produz uma obra nova. Talvez seja exagero, não tenho a certeza. Temos o caso do Walt Withman e do seu interminável e inacabável Leaves of Grass...
Eduardo, a narrativa de Paul Auster é, sem dúvida, muito cinematográfica. Será por aí que ele seduz o leitor. Mesmo com este A Música do Acaso, senti uma necessidade imperiosa de ler e ler e ler... sempre ansioso por chegar ao fim. O meu problema foi, precisamente, a forma como ocorreu o desenlace. Fiquei frustrado. Mas o problema é meu.
:-)
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