quarta-feira, janeiro 20, 2010

Ontem já foi o futuro?


Nos últimos tempos tenho experimentado uma estranha sensação de rejuvenescimento. Há dias em que saio de casa com os auscultadores nos ouvidos ligados a um iPod no bolso. Andar nas ruas com banda sonora dentro da cabeça faz-me recuar até aos tempos em que frequentava a escola de Belas-Artes e tinha um walkman da Sony que lia cassetes em altos berros para dentro de mim.

Naquela época a música nos ouvidos servia para me isolar dos ruídos do quotidiano, principalmente nos transportes públicos, onde passava uma parte significativa do meu tempo. Agora, quando atravesso a rua ao som do mesmo tema de Lou Reed que ouvia há 25 anos atrás, a sensação é semelhante e faz-me perceber que muita da agitação intelectual que então me revolucionava as entranhas estava relacionada com essa coisa de viver dentro de uma espécie de filme com banda sonora seleccionada.

Ainda hoje, no supermercado, com Rock and Roll Nigger de Patty Smith a besourar-me as orelhas, percebi que as pessoas, os produtos alinhados militarmente nas prateleiras, os meus próprios passos, tudo ganhava uma outra dimensão mais real; super-real. E o meu coração, por momentos, conjugou-se com o meu cérebro de um modo que me fez recordar quem eu era há 25 anos. Foi apenas um lampejo, uma sinapse fulgurante que logo se diluiu no nada, mas o meu corpo hesitou. Será que podemos, de facto, viajar no tempo?

11 comentários:

Lina Faria disse...

Uau! a música é mesmo um grande aditivo aos sentidos.
Sorte aos que conseguem coordena-las a certas atividades.
Me confesso incapaz de me concentrar em uma leitura, por exemplo, e uma música que me toque muito.
Tranquiliza-me um terapeuta, dizendo que a intensidade do meu sentir, me faz negar o entorno.
Eufemismo.Tenho certeza que é falta de concentração, mesmo.Ou pior. hehehe...

Chapa disse...

Fiquei convencido, vou comprar uma máquina de tempo.

the dear Zé disse...

E dançar no supermercado, nunca te deu para isso... é que com a música nos ouvidos os lugares mais desagradáveis até se podem transformar em cenário de filme musical.
Agora máquina do tempo...

ovelha.negra disse...

Se isto tivesse um 'like' como no facebook, eu clicava lá. :)

Jo-zéi F. disse...

Aquela foto tua é mesmo dos (teus)tempos de rock&roll...BELAS...
Muito cool...

Selena Sartorelo disse...

Olá Silvares,

Curioso ler esse texto, pois acabei de responder a um comentário falando sobre o sempre, quero dizer, o tempo.
Interessante e curioso saber que outros pensam como você (eu). E quando expressado com arte esse pensamento fica mais fácil do sentido perceber.

beijos

Selena Sartorelo disse...

Olá Silvares,

Curioso ler esse texto, pois acabei de responder a um comentário falando sobre o sempre, quero dizer, o tempo.
Interessante e curioso saber que outros pensam como você (eu). E quando expressado com arte esse pensamento fica mais fácil do sentido perceber.

beijos

Silvares disse...

Caríssimos, ouvir música na rua é uma coisa especial.

Unknown disse...

Pois é, José! Aquela foto É o Rui nas Belas!!!

Jo-zéi F. disse...

Belos tempos das Belas.
Walkie-talkie...

Silvares disse...

Janota, Jo-zéi, viagem no tempo...