sábado, janeiro 02, 2010

Longa se torna a espera (na sequência do post anterior)


Já estou em casa. O vôo da Aer Lingus acabou por saír de Dublin com 6 horas de atraso. Tivemos sorte, acho eu, outros vôos foram cancelados o que é muito mais chato do que estar a secar sabendo que, no fim da espera, havemos de olhar a passarada de cima, para lá do negrume das nuvens.

Dentro do avião as hospedeiras de vôo executam aqueles gestos explicativos do funcionamento dos cintos de segurança e da localização das saídas de emergência, uma exibição de bailado contemporâneo que já não via há uns tempos, desde que algumas companhias aéreas passaram a utilizar vídeos e aviões mais modernaços que este onde viajei.

A espera prolongou-se, dentro do avião, até à exaustão. Havia muitas crianças que, quando entrámos, cantarolavam alegremente, decerto entusiasmadas por uma certa agitação de sinal positivo dada pelos adultos, aliviados por saberem que, mais tarde que cedo, haveriam de deixar o frio aeoroporto irlandês. Mas, passado algum tempo, como as rodas do avião se mantinham quietas e coladas ao solo, a nervoseira foi ganhando terreno e as cantorias foram sendo substituídas por pequenos ensaios de choradeira que ameaçavam choro massivo.

Esta situação levou-me a reflectir sobre os mecanismos da impaciência e as flutuações do estado de espírito provocadas pela espera. Como tinha desligado o telemóvel fiquei sem relógio e o tempo foi perdendo sentido. Teriam passado 10 minutos ou uma hora? Impossível saber. É como sermos analfabetos num mundo mediatizado e repleto de mensagens escritas. Para ali estamos, sentados, com um cinto de segurança meio estúpido que não podemos desapertar sem que uma senhora fardada nos venha admoestar como se fossemos miúdos apanhados a cometer alguma asneira.

Quando finalmente o avião levantou para voar de regresso a Portugal senti uma espécie de alívio. Afinal os frágeis mecanismos de um mundo civilizado e mais ou menos previsível ainda funcionavam. A incerteza da barbárie continua apenas do lado de lá da porta. À espera de entrar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Apesar de TUDO, voar é preciso!!!!

Silvares disse...

Pois é, é bem verdade. Já lá vai o tempo em que a necessidade era navegar.
:-)

the dear Zé disse...

Tadito, que grande aventura.
Eu estive lá uma vez no verão. e nunca vi tanta chuva...

MUMIA disse...

Dublin, o James Joyce andou por lá.

Ficaste preso no gelo...e impaciente...
- Quando chego à Cova da Piedade???
Tirem-me daqui!!! CHIÇA!!!

Silvares disse...

Caçador, depois desta estadia em Dublin a minha atitude para com a chuva nunca mais será a mesma!

MUMIA, o J Joyce e mais uma catrefa de prémios Nobel da literatura. Deve ser da chuva.
:-)