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A forma como a figura se funde e confunde no (falso) fundo, mostra bem o anseio dos cubistas em criarem imagens que oferecessem uma visão desajustada daquela que a máquina fotográfica tinha para nos oferecer. Este trabalho está de acordo com a idealização pictórica que viria a ser desenvolvida por estes artistas, interessados em contrariar o óbvio, introduzindo na pintura europeia uma dimensão intelectual e mental que, até aí, era inexistente e, como é claro, desconhecida.
Esta imagem mostra também como o Cubismo, apesar do que parece ser o senso comum, não se afastou assim tanto da realidade, antes a interpretou por outras vias. Picasso e Braque, mesmo nas suas obras mais herméticas, representaram sempre pessoas, objectos ou paisagens, nunca tendo entrado decididamente no campo da abstracção pura.
Abriram a porta, é um facto, mas preferiram não ser eles a entrar naquele mundo fantástico da pintura sem objecto que estava ali mesmo à beira. Esse trabalho ficou para outros.
É uma foto deveras curiosa.