terça-feira, outubro 21, 2008

Não há dinheiro, não há palhaço!


A notícia não pode espantar ninguém. As leiloeiras, que costumam encher páginas de jornais com pontos de exclamação à frente dos preços com que colocam obras de arte no mercado, também sentem a tal crise económica.
"Depois de cerca de cinco anos de expansão do mercado de arte contemporânea, nos últimos quatro dias a Christie's e a Sotheby's obtiveram receitas inferiores às suas previsões."

Cinco anos de expansão, cinco anos a bater recordes, cinco anos a facturar milhões e mais milhões. O que me espanta é que os preços baixos continuem tão elevados. Parece que estou a brincar com as palavras mas não estou.

Uma coisa que sempre me fez confusão foi a ânsia constante de manter a economia em expansão. Os níveis de crescimento económico não pararam de crescer nos últimos anos e parecia que nunca iriam abrandar, como se não houvesse um limite, um ponto máximo para esse crescimento. Na minha cabeça, pouco capaz de compreender este tipo de situações, sempre imaginei que a economia, de tanto crescer, haveria um dia de rebentar, como um balão.

Não sei se rebentou mas tem, pelo menos, um furo e está a esvaziar. Os governos dos países mais ricos tentam tapar o furo com milhões de milhões "injectados" nos bancos que precisam do dinheiro como um drogado precisa de injectar heroína só para poder mexer os braços e as pernas. O mercado da arte haveria de ressentir-se desta situação. E, lá está, "Segunda-feira à noite, a Sotheby’s fez menos de 57 milhões de euros num leilão em que previa conseguir um mínimo de 71 milhões de euros."

Este sintoma vem juntar-se aos restantes que permitem aos especialistas diagnosticar um estado febril e de alguma fraqueza física à economia global. Entre os analistas do fenómeno do comércio de arte há quem tire as suas conclusões, "O "Arts Newspaper" cita alguns observadores que se questionam “se o consumo ostentatório da arte não estará a chegar ao fim”."

Como se diz por aí, nas ruas: "Não há dinheiro, não há palhaço!". No entanto não tenho a certeza se não continuará a haver muitos palhaços com dinheiro e vice-versa...


A notícia que serviu de base a este post pode ser lida na íntegra aqui.

9 comentários:

Beto Canales disse...

O consumo da má arte só prejudica...melhor que fosse exterminado. a questão é saber o que não é bom...

Anónimo disse...

Quanto fatura a Sotheby's por mês. Numa noite apenas 57 Mi de euros ?
Esses números me espantam, juntar numa noite gente que é capaz de gastar isso aí .... como somos pobres.

Anónimo disse...

O preço do petróleo caiu e pode chegar à metade do preço de três meses atrás. As ações das maiores empresas e bancos do mundo cairam, porque pensar que as artes não seriam atingidas? Ou os compradores não habitam este planeta? E no setor imobiliário a bolha estourou, será que no das artes não vai estourar?
Não nos iludamos, vamos passar por dias difíceis, e não adianta achar o culpado, agora! Todos vamos pagar essa conta, de uma forma ou de outra!
Silvares, mais uma excelente postagem! Assim vamos ter que mudar as regras do VICIADO!!!!

Anónimo disse...

Ó Pá, mas coitados, esperavam 70 milhões e ficaram só com 50, é um prejuízo enorme. Qual é a diferença, com um volume tão grande de euros, ou libras? É mais ou menos como o Mourinho, se lhe descessem o salário de 11 milhões para 9. Gaita ia ficar mais pobre. Estamos a falar de valores que nada têm a ver com ter um bom nível de vida, ou um bom lucro no caso. Isso é especulação pura e simples, ainda os restos dum mercado financeiro antes do estado estar a subsidiar os especuladores.

Só- Poesias e outros itens disse...

Essa falta de medida com os preços me espanta.
Estamos sempre a voltas com mercenários.

Sempre temas ótimos e polêmicos por aqui. Hoje tive tempo de ler.

bjs.


JU Gioli

Alice Salles disse...

Nunca compreendi essa loucura em pagar MAIS por qualquer coisa que seja! Mesmo arte! Sou, obviamente, toda a favor das artes e de quem as produz com todo o fervor de sua alma, mas nao de quem produz com o fervor da ambicao acima de tudo! Mas nao acredito que o consumo ostentario esta acabando, nao nao... nao esta nao! So acaba se o mundo humano for junto dele!

Anónimo disse...

Cheguei aqui vindo do Varal de Idéias do Eduardo.
Gostei do que vi.
Parabéns pela qualidade do blog.

MUMIA disse...

Não há dinheiro, não há dinheiro,...mas é no bolso do Povinho, o nosso.

:[[

Silvares disse...

Beto, o consumo de coisas más e inevitável e não vejo como se pode exterminá-lo!

Peri, a maioria desses compradores telefonam, não vão lá!
:-)

Eduardo, a "bolha" das artes é feita de sabão-macaco, estoura com mais facilidade ainda. Tudo isto prova que o dinheiro é mera abstracção.
Não mude as regras do Viciado, não vale a pena, ele está muito bem assim.

Im, como digo o comentário anterior, o dinheiro é uma abstracção e o valor das obras de arte é duas abstracções juntas!
:-)

Ju, realmente é difícil compreender esses valores, quanto mais aceitá-los!
Também ando com dificuldades para vir aqui, o tempo aperta com o trabalho no mundo real!

Alice, aí você tem razão, a ostentação está na massa do sangue do ser humano e é uma atitude tão velha quanto a Humanidade. Lá isso é.

Jorge Reis, obrigado. O Varal é uma porta giratória que nos atira em todas as direcções neste mundo virtual.

Mumia, pois é, "quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão"!