Neurónios
No post colocado aqui no 100 Cabeças no dia 7 de Outubro, referia-me a um livro intitulado Grandes Ideias Impossíveis de Provar. O livro é uma torrente de temas e de ideias interessantíssimas. Hoje não resisto a transcrever uma parte. Trata-se do contributo de Daniel Gilbert, professor na Faculdade de Psicologia da Universidade de Harvard e director do seu laboratório de emoção e cognição social. A questão colocada é "O que é que acredita ser verdadeiro, mesmo sem conseguir prová-lo?". A resposta de Gilbert, no final do seu texto é: "O que é que eu acredito ser verdadeiro mas não posso provar? A resposta é: em vocês!"
Uma resposta que surge no final de uma elegante sequência de ideias:
"Num futuro não demasiado distante, seremos capazes de construir sistemas artificiais que darão toda a aparência de consciência - sistemas que agirão como nós de todas as formas. Estes sistemas poderão falar, caminhar, piscar um olho, mentir e parecer preocupados com eleições iminentes. Hão-de jurar a pés juntos que estão conscientes e exigirão os seus direitos civis. Mas não teremos maneira de saber se o seu comportamento é algo mais do que um truque bem concebido - algo de superior a um pombo que foi ensinado a escrever, batendo com o bico num teclado: «eu existo, eu existo!»
Aceitamos a consciência uns dos outros com base na fé, porque é preciso, mas depois de dois mil anos de preocupação com esta questão, ainda ninguém concebeu um teste definitivo da sua existência. Na sua maior parte, os cientistas cognitivos acreditam que a consciência é um fenómeno que emerge da complexa interacção de partes decididamente não conscientes (os neurónios), mas mesmo quando finalmente compreendermos a natureza dessa complexa interacção, continuaremos a não ser capazes de provar que produz o fenómeno em questão. E, no entanto, não tenho a menor dúvida de que toda a gente que conheço tem uma vida interior - uma experiência subjectiva, um sentido do «eu» - que é muito semelhante à minha. O que é que eu acredito ser verdadeiro mas não posso provar? A resposta é: em vocês!»
Faço minhas as palavras finais de Gilbert. Bom Domingo.
14 comentários:
Este "ser" subjetivo tão pleno de diferenças e semelhanças, que se realiza em função do outro, sempre espelho, sempre projeção, ultrapassando as explicações objetivas e teóricas.
eu, particularmente, acredito nesta interação eu-outro, eu-mundo, sempre um porvir nas descobertas.
bjs.
JU Gioli
Isso sem falar na PERSONA VIRTUAL, que apesar de existir, também não sei EXATAMENTE quem é, e nem posso PROVAR sua existência!
Bom post!
(estou definitivamente convencido,
vou comprar o livro esta semana...)
inté!
Realmente. É um grande ponto colocado aqui para fazer com que os seus visitantes percam ainda mais neuronios, se eles tem algum! E se eles SÃO alguém! Que incrível... mas não deixa de ser "pura" verdade - ou não.
Preciso do livro inteiro!
Qual é o Tico e qual é o Teco?
Ju, acreditar é o nosso destino!
:-)
Eduardo, esta ideia, no mundo virtual em que nos movemos, ganha uma dimensão ainda maior.
Intruso, vais ver que vale a pena (se fecharmos um bocadinho os olhos à capa, o que vale é o conteúdo, não o "embrulho").
Alice, verdade parece ser. Se é pura... isso já me parece mais complicado.
Beto, lê-se com muito interesse. Digo eu.
Roserouge, o Tico é o do nariz preto e o Teco o do nariz vermelho e batatudo. Ou é ao contrário?
...e que a exposição AVANCE!!!CHIÇA!!!
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Silvares, só coloastes o BLOG VICIADO no sidebar depois que fiz a Bé te convidar para o NOSSO jantar...rsrsrs!
Forte abraço e obrigado pelo link! Estar linkado aqui é um prestigio e honra para poucos!
Silvares,
Texto instigante. Minha implicância com a frase vem do plural. Prefiro acreditar em você, como realmente acredito, e em alguns outros. Vocês, é um universo muito grande para a minha fé. Se considerarmos que cognição é o conjunto de unidades de saber da consciência, que se baseiam em experiências sensoriais, representações, pensamentos e lembranças, e inferirmos que acreditar é o saber verdadeiro, é conhecer, não tenho como crer na veracidade de todos. Será que consegui explicar?
Grande abraço
Acreditar no outro...essêncial ferrementa para a sobrevivência...é certo!Mas de olhos ...abertos.
Comé? Não voamos hoje? Não vens ao jantar!
Ví, de olhos bem abertos!
:-)
Roserouge, Lá voei... baixinho... e na gaiola!
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