quinta-feira, outubro 30, 2008

É amanhã (ou hoje, depende...)

Aviso à navegação: este post é anormalmente comprido mas a situação justifica-o. Aí vai disto!
É amanhã (ou hoje, depende da hora e do local em que estejas a ler estas palavras) a inauguração da exposição de artes plásticas "Seis Cadeiras e Uma Mesa", na Galeria Municipal de Almada. Está marcada para as 21horas e 30minutos.
Depois de ter estado agendada para o pretérito dia 10 do corrente e devido à necessidade de substituir o chão da sala de exposições, foi marcada esta nova data. O facto (tristongo e decepcionante) é que apenas ontem (!!!) foi iniciado esse trabalho. A habitual incúria e desorganização dos serviços públicos foi empurrando o assentamento do soalho flutuante no tempo até ser impossível adiá-lo mais. Sendo assim, a montagem das peças a expor ficou, se Deus quiser, para o último dia, o dia da inauguração!
Como de costume, quando confrontados com a total falta de respeito pelos artistas e absoluta ausência de profissionalismo que tal barafunda representa, os eventuais responsáveis pela situação dizem que não têm culpa. Não têm culpa!? Então de quem é a culpa? Não é de ninguém, claro está. E assim funciona o funcionarismo público, um amontoado de pretensas boas intenções e falta de empenho no trabalho que facilmente se confunde com ausência de competências mínimas para o desempenho de funções, mesmo das mais simples.
Os artistas que têm as suas peças mais que prontas há mais de um mês e contavam com alguns dias para organizar o espaço convenientemente, lá terão que fazer das tripas coração e trabalhar a mata-cavalos para poderem cumprir o compromisso mínimo de terem as peças no lugar à hora de abertura das portas ao público.
Lamentável mas, infelizmente, habitual.
Como de costume, caso tudo acabe por correr "bem", lá ficará o caso meio esquecido e os pecadores perdoados. Afinal de contas vivemos num país de tradição católica e só cai no Inferno quem não tiver a mínima hipótese de redenção. Amen.

Segue-se uma apresentação dos artistas e respectivas obras. (ver tudo aqui)

João Gaspar
Série: Esburacados

Um buraco pode-se definir como sendo uma falta física, é algo que se caracteriza através do que não é. Procurar a materialidade deste conceito é encontrar uma ausência.Um Buraco é uma espécie de vazio material, mas nessa aparente falta dá-nos a ver algo que de outro modo não se veria e que apenas nos surge mediante essa ausência.Deste modo é uma falta de matéria e um preenchimento com as expectativas que abre, simultaneamente é uma falta de algo e uma abertura para um outro algo. Ao mesmo tempo que retira, coloca. A abertura, ou o acesso a este lugar de possibilidades – o lugar do outro - é nos dado paradoxalmente pela supressão, isto é através da constatação de uma falta.A ideia de buraco aparece-me como um paradigma da própria representação, sendo que re-apresentar é tornar presente na mente de quem vê, por algum meio, algo que não está presente, mas sim ausente.

Estas peças foram concebidas em diferentes alturas, mas a decisão de reuni-las num só conjunto expositivo deve-se ao facto de estas – umas de um modo mais explícito que outras – girarem em torno de uma mesma temática: os buracos.O modo de abordar e explorar este conceito diverge, sendo que há peças, onde aparecem representados objectos, que por si só contêm uma identidade esburacada, isto é, os orifícios fazem parte da definição destes corpos, noutras surgem objectos esburacados, mutilados, numa espécie de perda de identidade. A profundidade também difere, suscitando diferentes emoções e interpretações. Se por um lado pode haver um vazio angustiante de um interior de uma carapaça de caranguejo por outro uma misteriosa sensação pode ser convocada por uma toca profunda.


Série: Esburacados
Acrílico sobre tela
100x80cm
2007

Série: Esburacados

Colagem de papel e acrílico sobre tela

70x60cm

2007



Trabalhos de David Castanheira para "6 cadeiras e 1 mesa".




Iluminismo Popular

“Concílio da Páscoa/ Burocracias”
técnica mista (acrílico e grafite) sobre papel, 118,8x84,1cm


“Knock”
técnica mista (acrílico, grafite e impressão) sobre papel, 125x86,5cm



Rui Silvares

Cadáver Aflito (painel)





Dezenas de desenhos de tamanho A3 organizados em painel de dimensão variável.
Cada desenho é um átomo do corpo global que constitui o painel.
A forma como os átomos se conjugam e organizam é sempre diferente.
Assim, o corpo resultante dessa organização possuirá características próprias e diferentes das que teve da última vez.
Cada nova exposição, cada novo painel, terá um aspecto semelhante ao anterior mas obrigatoriamente diferente.
Trata-se de uma regeneração (ou degenerescência) do corpo anterior.
Com novos átomos que se misturam nos antigos.
E por aí fora, crescendo como um fungo, parasitando o espaço, oferecendo-se de novo e mais uma vez ao olhar eventual que irá completá-lo.
O observador irá ser infectado pelo painel através da mera observação.


Filipa Rebordão

O tríptico de Filipa Rebordão, a expor na "Seis Cadeiras e Uma Mesa", conjuga dois meios de expressão plástica que, aparentemente, travam uma batalha mortífera no campo da arte contemporânea. O painel central, executado na tradicional técnica pictórica (com pincéis e tinta acrílica), coabita com dois loops em registo vídeo a servirem de painéis laterais.



painel central, acrílico sobre tela 119 x 246 cm
vídeos laterais, loop, dimensões variáveis



A SAGRAÇÃO DA CARNE

Ao gritar o suporte visceral nascido de imagens sacras, confiro ao silêncio espectral das imagens uma auto-suficiência sonora que ecoa internamente no Si. Liberto dum corpo cristão forças reprimidas bombeadas através de filtros pulsionais, até terem dimensão in-visível em mim, no meu ser-obra. Chute d’organes reflecte uma série de reflexões e novas visualidades a partir do painel seiscentista Martírio de São Sebastião, proveniente da oficina do pintor régio Gregório Lopes. No painel original, o Santo é o ideal e belo senhor do mundo, com total domínio das suas contradições internas, criado para prestar reverência e servir Deus como forma de salvar a alma. O seu espírito materializa o divino. Este idealismo e formalismo renascentista mesclado com frieza e falseado maneirista, permitem-me conferir-lhe uma nova concepção de corpo. Ao mártir, que sobre o pedestal exala os últimos sopros de vida com um sorriso humilde e resignado, confere-se um valor espiritual à dor física, porque a alma tem por vezes dó do corpo. Conferi o mesmo tipo de iluminação interior ao Santo que se descobre noutra condição e noutro lugar a todos oculto. Trata-se de uma ténue passagem revelada pela in-carnada luz, acontecimento do Ser Nada. Crio um corpo desumanizado pela violência externa, corpo humilhado e passivo para exprimir o sagrado, numa lógica de sistema aberto onde existem trocas de matéria e energia entre o corpo e o exterior. Tomo ainda, à maneira cristã, o homem como criatura cujo único objectivo é a obtenção da salvação eterna através de uma lição de sacrifício e sofrimento. Concebo um corpo para a morte. Corpo sem órgãos, em pose, esperador, sedento de ser e de-vir a ser em si.
Filipa Rebordão


Sara Bichão

Sequência de imagens dos trabalhos de Sara Bichão para a exposição Seis Cadeiras e Uma Mesa. Paredes e portas em dimensão real. Superfícies saturadas de sinais. Reminiscências do nosso quotidiano. Mensagens codificadas ou puro caos?




parede n.11,04 x 1,78 x 0.16 m. Técnica mista.

Produção de parede: Cimento, esferovite, cola de esferovite.

Luís Miranda
Segue-se uma amostra dos desenhos de Luís Miranda. Lá mais abaixo o autor explica...


Luís Miranda“...e até Platão tinha um corpo”desenho, técnica mista sobre papéis reutilizados2002/...Estes desenhos constituem uma série, ainda não terminada.São iniciados com café e tinta da china sobre papéis de origem variada (revistas, jornais, toalhetes, guardanapos, embrulhos...) e trabalhados posteriormente com lápis de cor, pastéis e acrílicos.A temática gira em torno do corpo como matéria em transformação, desagregando a unidade do eu com uma história, e a possibilidade, ou não, de uma nova reconstituição individualizada.

11 comentários:

Beto Canales disse...

Muitos trabalhos lindíssimos. Parabéns ao “Knock”, que eu achei fantástico.

Anónimo disse...

No FIM tudo da certo! Culpados? NUNCA!

Gostei dos trabalhos do grupo, mas especialmente dos seus!

Silvares disse...

Beto, o David vai gostar do seu comentário! Ele é um (muito) jovem estudante de arquitectura que tem o desejo incontrolável do desenho artístico. Um trabalhador notável.

Eduardo, é mesmo assim, vim agora da Galeria e lá andam os operários a acabar de assentar o soalho. Entretanto os planos de montagem atropelam-se para amanhã. De manhã carpinteiros e técnicos para os projectores de vídeo, à tarde eu e mais o outro e não sei mais quem para montar as peças respectivas... enfim, tinha imaginado uma semana inteira pra planear a melhor forma de colocar os meus desenhos na parede...

Cristina Loureiro dos Santos disse...

Tudo vai correr bem, vais ver.
Lá estaremos amanhã para comemorar :)

Beijos.

Cristina

Ví Leardi disse...

Tenho certeza vai ser um sucesso...assim como com outras exposições destes,(vcs) geniais portuguesess sinto tanto a distância... adoraria prestigiar...mas cá ficam o meus parabéns.

Anónimo disse...

Junto me à Vi!
Sucesso, apesar dos atropelos de última hora! Artista não recebe o respeito que devia, no mundo todo!

Só- Poesias e outros itens disse...

Silvares, voltei hoje para dizer que fiquei intrigada com o seu trabalho, e estava tentando definir o que meu olhar sentia ao vê-los, além do realismo figurativo, que eu considero presente e marcante. Eu fiquei tentada a perceber as influências, e fui em Portinari, Rivera, Orozco, Goya, e for ai fui.
Gosto do seu realismo carne e osso, que estão aqui transferidas no modo como você articula seus pensamentos e escritas, e onde toda pintura também é uma escrita. Esta é real, cheia de humanidade.

Bem, foi isso que senti vontade de escrever.


bjs.


Ju Gioli

Anónimo disse...

“Em cada crise há sempre uma boa dose de experimentação, que nem sempre é honestamente assumida pelos políticos”
Retiro esta sábia frase destas páginas de Rui Silvares, distinto professor de artes e artista da praça, pessoa que estimo e com a qual já tenho tido algumas interessantes conversas. Feito o intróito, devo agora dizer que por isso mesmo me surpreende a sua franca vontade de incompreensão em relação ao que se passou na Galeria Municipal de Arte, quanto ao chão, motivo do adiamento da exposição “Seis Cadeiras e Uma Mesa”. Pelos vistos, duma crise, mesmo com uma boa dose de experimentação, nem só os políticos (e os funcionários públicos) sabem tirar ilações. E embora sabendo que, como ele também diz, “saber explicar não chega”, eu vou tentar esclarecer alguns pontos.
Diz ele que “Depois de ter estado agendada para o pretérito dia 10 do corrente e devido à necessidade de substituir o chão da sala de exposições, foi marcada esta nova data. O facto (tristongo [já agora, é tristonho] e decepcionante) é que apenas ontem (!!!) foi iniciado esse trabalho. A habitual incúria e desorganização dos serviços públicos foi empurrando o assentamento do soalho flutuante no tempo até ser impossível adiá-lo mais. Sendo assim, a montagem das peças a expor ficou, se Deus quiser, para o último dia, o dia da inauguração!”

Verdade. Pelo menos em parte. Simplesmente, não foi por vontade da organização que houve problemas na galeria. Nem por responsabilidade (e não culpa, porque aqui não nos debatemos com problemas teológicos) da organização que a empresa de colocação de chão, há muito ciente da urgência do trabalho, foi adiando por razões de falta de material. E, já agora, gostaria de perguntar ao Rui quantas vezes é que tendo trabalhado connosco ele se confrontou com a nossa “incúria e desorganização”? Que saibamos, de todas as vezes que nos temos cruzado, tudo tem sempre corrido bem. De que falamos então? De um acidente? Não sabe o Rui que acidentes acontecem? Ou que, para nos reportarmos à fotografia tirada no aeroporto de Newark, onde ficou pendurado (que seca, nem as companhias aéreas funcionam bem...) mas onde aproveitou para ser criativo (veja-se a foto postada), e para nos integrarmos melhor no cosmopolita ambiente, digamos então: “shit happens”.

Diz ainda o Rui que, coitado, deve estar habituado a ser maltratado pelos organizadores de exposições, curadores e afins (mas onde é que o Rui anda a expor, afinal? Instituições com grandes recursos? Serralves? Gulbenkian? Museu Berardo?... ah, não, desculpem, Oficina da Cultura e Galeria Municipal – espaços dignos mas sem grandes recursos humanos e sem recursos financeiros milionários, recordemos), diz ele, repito que “Como de costume, quando confrontados com a total falta de respeito pelos artistas e absoluta ausência de profissionalismo que tal barafunda representa, os eventuais responsáveis pela situação dizem que não têm culpa. Não têm culpa!? Então de quem é a culpa? Não é de ninguém, claro está.”
(Já esclarecemos este aspecto, tanto em questões filosóficas como de empreitada). Mas diz ele ainda: “E assim funciona o funcionarismo [chata esta gralha, não é? Funcionalismo, se calhar...] público, um amontoado de pretensas boas intenções e falta de empenho no trabalho que facilmente se confunde com ausência de competências mínimas para o desempenho de funções, mesmo das mais simples.” Compreendo. Quantas vezes, nos últimos anos, têm os professores sido acusados disto mesmo por turbas furiosas... E quantas vezes será justa esta observação? Serão todos os professores uns medíocres? Serão todos os funcionários públicos uns incompetentes? Questões, questões, tantas questões...
E depois, não cansado de acusar, Rui apresenta a vítima: ele próprio e os demais; artistas de sua condição. E diz ele: ”Os artistas que têm as suas peças mais que prontas há mais de um mês e contavam com alguns dias para organizar o espaço convenientemente, lá terão que fazer das tripas coração e trabalhar a mata-cavalos para poderem cumprir o compromisso mínimo de terem as peças no lugar à hora de abertura das portas ao público.”
Agora, o outro lado: os artistas que têm, há meses, consigo a planta do espaço para que pudessem ir fazendo a concepção e organização do desenho da exposição, ainda não têm sequer ideia de como vão arrumar as suas obras. Se os novos podem não conhecer bem o espaço, os veteranos, nos quais o Rui se inclui, há muito que conhecem a galeria e que, além do mais, na posse da planta, poderiam ter adiantado trabalho.
Ora, ainda ontem à noite, tendo-se sugerido que se encontrassem no espaço para organizarem a montagem, não o fizeram, porque não podiam todos ficar. E porque os que ficaram não se entenderam.
“Lamentável mas, infelizmente, habitual.”, diz o Rui sobre os funcionários públicos. E nós acrescentamos que é igualmente lamentável mas, infelizmente, habitual, quando as exposições envolvem propostas amadorísticas. É verdade que uma planta não organiza um espaço. É preciso ver as obras no sítio, espalhá-las, pô-las em relação umas com as outras. Uma montagem de exposição é mais complicada do que o vulgo pensa. Mas é verdade também que a planta ajuda a pensá-la. Como o Rui bem sabe. Então, se a tinham, porque não a usaram? Porque deixaram para a última da hora a mais básica linha de organização própria? Se têm os trabalhos prontos há mais de um mês, porque não se organizaram para os pensar no espaço? Porque não se dispuseram a contornar o obstáculo que a colocação do chão representava, apresentando uma solução de recurso? Porque não procuraram simplificar a sua vida, em vez de vir a público, um dia antes da inauguração, sacudir a água do capote, atirar responsabilidades para cima de “outros”, acusando-os malevolamente de incompetência, irresponsabilidade e má-vontade, quando na verdade, o que interessa é resolver o problema? É verdade que quando logo a exposição abrir, tudo ficará para trás. Mas quem esteve aqui, diariamente, a preparar todo o terreno (receber obras, tratar de seguros, produzir a exposição e o catálogo, tratar da comunicação, criar todas as condições para que os artistas que trabalham com meios novos os tenham de modo a expor as suas obras com qualidade, reunir com eles, ponderar com eles as suas dúvidas, etc.) para que logo às 21h30 a exposição abra, apesar de um desagradável acidente com o chão, é assim reduzido a nada? É isso que o Rui gosta que os pais dos alunos lhe façam? Apagar o trabalho dos outros, um trabalho que, na sua maioria, é invisível aos olhos do público, e fazer de conta que a exposição fica de pé por obra e graça exclusiva do labor criativo é irresponsável e injusto. Se não, tente o Rui organizar exposições do princípio ao fim, lidando no processo com imponderáveis tão vastos como chãos e até com as manias de alguns artistas, curiosamente sobretudo dos que têm pouco currículo artístico e expositivo, que ainda pensam viver no século XIX, gozando, ainda que apenas intimamente e sem correspondência pública, de uma aura de genialidade e ímpeto.
É verdade, Rui: “Como de costume, caso tudo acabe por correr "bem", lá ficará o caso meio esquecido e os pecadores perdoados. Afinal de contas vivemos num país de tradição católica e só cai no Inferno quem não tiver a mínima hipótese de redenção. Amen.”
Ámen. E sabes, Rui? Se isto fosse nos Estados Unidos, depois de tão graves acusações públicas, ou te retratavas ou levavas com um processo por difamação. Era bem mais chato do que shit happening.

Emília Ferreira

Silvares disse...

Cristina, já está montado, apesar de tudo.

Eduardo, começo a pensar que "respeito" não é mais que mera palavra.

Ví, obrigado. A exposição está bem interessante. De facto.

Ju, penso que a sua leitura anda perto daquilo que pretendo fazer. Ser Humano é um desafio e um prazer e uma luta e isso tudo. É o que tento reflectir nos meus trabalhos.

Silvares disse...

Emília, dada a extensão do teu comentário faço questão de reservar um espaço exclusivo.

Primeiro que tudo agradeço a tua paciência para teres escrito uma tão longa e fundamentada defesa da "tua dama".

A minha incompreensão é fruto da saturação. Evidentemente que os atrasos e confusões não aconteceram (acontecem) deliberadamente, mas acontecem. Porquê? Talvez o meu ponto de vista seja injusto, aceito, mas deves compreender que, visto deste lado o panorama foi sempre muito sombrio.

Sempre que me recebeste (e aos meus alunos) na Casa da Cerca, os resultados foram extremamente positivos. Eu sei disso, tu sabes isso. Não vale a pena estender a conversa por aqui.

Os acidentes acontecem, todos sabemos. O que é mais chato é quando acontecem repetidamente. E, se calhar, esta minha verborreia venenosa decorre do facto de ter tido uma experiência pior que má na última exposição na Oficina e. logo a seguir, apanhar com esta situação aberrante. Desculpa lá, mas eu já não sou católico desde os meus 14 anos, desaprendi o "dar a outra face".

Pois, se calhar é melhor desistir de expor uma vez que Serralves e quejandos não reconhecem a minha genialidade. Vai na volta é isso que me traz ressentido e amargo. Talvez...

O meu horror ao "funcionarismo" público tem a ver, em grande parte, com o facto de, também eu, se um "funcional" da coisa e saber como, tantas vezes, as coisas emperram por falta de entrega. Um cafézinho a destempo pode fazer "maravilhas" em termos de desorganização.

Quanto à organização do espaço não é bem verdade aquilo que dizes e aqui compreendo a eventual falta de razão com que critiquei tão violentamente a confusão absoluta que foi colocar de pé esta exposição. Também tu produzes afirmações extemporâneas e pouco exactas (como, pelos vistos, eu proferi a respeito dos "funcionálios" responsáveis pela exposição) uma vez que a distribuição estava "alinhavada" há que tempos. Prova disso é que a exposição foi montada numa manhã e numa tarde. Toda, todinha! Se não houvesse já um plano minimamente estabelecido talvez não tivesse sido possível. Digo eu.

Numa coisa tens toda a razão, a minha genialidade e ímpeto vivem abandonadas dentro de mim mas isso não me incomoda grandemente. Na verdade não me incomoda nada. São suficientes para me permitirem continuar a pintar e a desenhar mesmo que as coisas que faço permaneçam meio escondidas. Tens toda a razão, é uma atitude quase Romântica. Gosto disso.

Quanto à tua conclusão sempre te digo, se vivessemos nos EUA talvez pudesse encontrar também uma nesgazinha no sistema legal para entalar alguém por falhas graves nos compromissos assumidos, danos morais e outras americanices do género.

Sou suficientemente humilde para pedir desculpa. Mas tenho de reconhecer não ter razão. E ainda não foi desta que fiquei convencido. Por isso, Emília, peço desculpa apenas por seres tu a fazer tão veementes reparos ao meu desvario verbal e por te reconhecer qualidades suficientes para acreditar que tudo isto foi uma sucessão de acasos incovenientes. Mas que a merda aconteceu, lá isso aconteceu.

Espero ver-te em breve para pdermos esclarecer isto de viva voz.

Silvares disse...

Ah, só mais uma coisa Emília, para proposta amdorística a exposição não está nada mal como, decerto, terás oportunidade de constatar no local. Com chão novinho em folha, acabadinho de estrear.
Arrisco mesmo dizer que é uma boa exposição mas, lá está, sou eu que o digo e, como sou parte interessada, a minha opinião pode não ser correcta, fruto de uma visão demasiado envolvida...