sexta-feira, junho 20, 2008

Seis perguntas, respostas zero


Se aqueles que nos governam são corruptos e não conseguem ultrapassar as limitações próprias dos indigentes, porque os escolhemos nós para nos governarem?

Se aqueles que nos governam prometem uma coisa quando candidatos e fazem outra logo que governantes, como sereias esfomeadas, porque não os corremos nós dos lugares que afinal desmerecem?

Se aqueles que nos governam fazem obstinadamente o trabalho sujo de outros que não se sujeitam a sufrágio porque o seu poder é de outra natureza e lhes confere uma força infinita, a força do dinheiro, porque insistimos em manter este estado de coisas?

Se o governo não governa para o povo mas sim para aqueles que exploram o povo porque continuamos a designar o nosso modelo político como "democracia"?

Se não vivemos em Democracia, afinal de contas vivemos "em" quê?

Será que, afinal, o povo não tem outra utilidade que não seja validar o poder daqueles que o roubam e exploram a sua força de trabalho, votando sazonalmente, como ovelhas enfileiradas para a tosquia, em sinal de reverência quase religiosa a uma deusa ausente, essa Democracia de que todos falamos e na qual acreditamos mas que, afinal, na realidade, nunca vimos em lado nenhum?

4 comentários:

Anónimo disse...

Estranho nome esse DEMOCRACIA!
E se não é DEMOCRACIA, com TODOS seus defeitos, eu continuo preferindo ele, a todas os outros REGIMES que conhecemos!

Silvares disse...

Sem dúvida, Eduardo, também continuo preferindo este regime mas ele não é bem aquilo que pensamos, nem usufruimos das benesses que julgamos usufruir. Há algo de monstruoso por detrás de tudo isto, algo de vampírico, não sei bem.

Olaio disse...

“Se o governo não governa para o povo mas sim para aqueles que exploram o povo porque continuamos a designar o nosso modelo político como "democracia"?”

A verdade é que nós não vivemos numa democracia. Ou então poderemos dizer que vivemos numa "democracia" burguesa, ou numa "ditadura" da burguesia.

Numa sociedade dividida em classes com interesses antagónicos, não existe um pacto entre estas que permita a existência de uma verdadeira democracia, porque o que se passa é que têm interesses completamente distintos e logo estarão sempre em conflito e em luta para se impor à outra.

Numa sociedade dividida em classes, há sempre uma delas que domina o estado e o seu aparelho e através dele expande o seu domínio sobre a restante população.

Controlar o aparelho de estado, significa controlar a educação, a justiça, a cultura, os meios de comunicação e através deles manipular as vontades. Como dizia “alguém”, vender um presidente a um povo é quase como vender sabonetes.
A juntar a estes não podemos esquecer a religião, que historicamente sempre deu um grande apoio a todos os poderes.

O problema é que hoje a classe que domina o poder tem dois partidos, o PS e o PSD. Quando o povo se farta do PS, já entretanto se esqueceu do que antes fez o PSD e … vai votar no PSD. A situação é semelhante em todas as ditas democracias ocidentais, ou seja não há propriamente alternância de poder, mas sim, a mesma classe que mantém o poder alternando as suas duas faces.

Para que as pessoas mudem este estado de coisas, primeiro é preciso perderem qualquer tipo de esperança nesta suposta alternância e depois é necessário que acreditem que uma alternativa é possível e isso é mais complicado, pois se facilmente nos pomos de acordo a recusar este estado de coisas, quando nos pomos a “inventar” alternativas as coisas complicam-se.
E não nos podemos esquecer que quando essa situação se consegue, ainda existe a polícia e o exército.

Não é fácil dar a volta, pois entre o desconhecido e a manutenção de uma situação podre, a sociedade humana tem tendência a manter uma certa inércia. Só quando as coisas estão mesmo pretas é que há um acesso de raiva, um estremecer colectivo e um salto para o desconhecido, para esse espaço maravilhoso (digo eu) da revolução.

Como dizia Lenine: “Só quando «os de baixo» não querem o que é velho e «os de cima» não podem continuar como dantes, só então a revolução pode vencer”.

Mas é claro que isso hoje em dia "não" faz muito sentido, o Sócrates e o seu “socialismo” moderno dizem que essa história de classes é anacrónica.

Silvares disse...

O que o Sócrates diz "não se escreve". Temo que, no actual estado de coisas, estamos a dirigir-nos para uma situação a nível global em que nem a vontade "dos de cima" nem os desejos "dos de baixo" vão orientar uma mudança. Parece-me que o "regime" está a colapsar.