domingo, junho 15, 2008

A regra é: obedecer


E pronto, aí está. Se dúvidas pudessem existir elas estão esclarecidas: a democracia na União Europeia é uma mentira. Os irlandeses ao votarem "não" no referendo ao Tratado de Lisboa criaram um problema que fez saír o monstro da toca onde se esconde com um enorme rabalhão de fora. Aqueles que realmente mandam na Europa dos 27, alemães e franceses são os mais peitudos, avisam os duendes irlandeses que serão excomungados da União caso não resolvam dizer que, afinal, estão de acordo com os termos do malfadado tratado. Eles que se amanhem, a Europa sonhada pelos sonâmbulos que assombram os gabinetes de Bruxelas não pode ser posta em causa e muito menos pode ser travada no seu caminho para a Grande Luz.


O que importa afinal de contas? Uma grande comunidade que se rege por leis democráticas ou, pelo contrário, uma grande comunidade que se rege pelas leis do mercado? Talve fosse tempo de rebaptizar esta imensa Europa como CEE, Comunidade Económica Europeia, substituindo o Parlamento Europeu por uma imensa Assembleia de Accionistas. Quem paga as contas e detém as acções impõe as regras por forma a garantir retorno do investimento realizado.


Cada vez mais vai ganhando substância o pensamento que advoga a necessidade de o Estado desinvestir nos campos do chamado funcionalismo público. Diz muita gente que a salvação está no investimento privado nas áreas da Educação, da Saúde, na garantia das reformas, etc. Que o Estado deverá, num futuro próximo, apostar apenas na manutenção das forças de segurança, as polícias, nas forças armadas, os exércitos e, cereja no topo do bolo, continuar a untar as mãos ao poder judicial. Assim os nossos impostos seriam utilizados na manutenção das forças que garantem a manutenção e aplicação das leis e regras de convivência sociais, nada mais. O resto seria negócio puro e duro. Esta perspectiva é algo aterradora e prefigura a imagem do Estado policial. Num mundo assim organizado não há Concertação Social, não há poder reivindicativo, passa a haver uma única regra à qual os cidadãos/consumidores devem prestar atenção, a regra é: OBEDECER! Um pouco como, imagino eu, acontece na China actual. Trabalhar até morrer para garantir que os lucros dos grandes patrões se mantenham em crescimento sustentado.


O totalitarismo está de malas feitas para a sua viagem de regresso. E nós, como vamos recebê-lo quando ele chegar, enorme e arrogante? Com a mão estendida, é evidente. Mas estendida numa saudação ou com um cacete bem apertado no punho e pronto a arriar-lhe uma valente traulitada no meio da tromba?

2 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

O problema é que quando chegar podemos já estar tão fracos e endividados que, debilitados, a mão não tenha força!

Silvares disse...

A mão tem sempre a força que lhe dermos (não sei bem o que quero dizer com isto mas sei que é qualquer coisa).