quarta-feira, junho 04, 2008

Sindicalismo

Não me lembro de ver os sindicatos com um olhar tão vesgo como os vejo agora. Sou sindicalizado na FENPROF vai para uma carrada de anos, tantos quantos tenho de professor. Até hoje fiz dezenas de greves, mesmo em situações nas quais discordava das razões apontadas pelos dirigentes do meu sindicato. Por uma razão de solidariedade laboral (e social e política...) não gosto de me ver ao espelho com cara de "amarelo" fura-greves. Mas, no caso concreto do meu sindicato, há razões de sobra para protestar além das que se prendem com os salários ou a progressão na carreira. Faria de bom grado uma greve por tempo inderteminado até conseguir condições de trabalho dignas tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas. Menos alunos por turma, melhores equipamentos (adequados ao mundo tecnológico) etc e tal. Mas não. Insistimos em barafustar apenas por razões que não colhem na opinião pública. Só nos mexemos quando nos metem a patorra no bolso. A imagem pública degrada-se, os que são prejudicados pelas nossas acções reivindicativas pensam que apenas nos movemos em função do vil metal. Será um facto? Eu próprio tenho as minhas dúvidas mas não é isso que me fará entregar o cartão que guardo na carteira com orgulho indisfarçado.
O movimento sindical enfraquece a cada dia que passa. O trabalho precário, os "recibos verdes", a falta de perspectivas de carreira laboral afastam os trabalhadores dos sindicatos. Os patrões reclamam mais poder para nos darem uns valentes pontapés no cú e os partidos do "arco do poder" no nosso país fazem o jogo deles. Estamos feitos ao bife!
A comunicação social contribui fortemente para esta imagem progressivamente negativa, retocando sem pudor a informação que veicula. Estaremos a assistir ao canto do cisne dos sindicatos, tal como estamos habituados a conhecê-los? É bem possível. E depois? Depois será um longo e inóspito deserto que teremos de atravessar com os abutres a sobrevoarem, vigilantes, a nossa difícil caminhada.
Será necessário repensar o movimento sindical, despartidarizá-lo e encontrar-lhe um novo rumo para as lutas que com eles travamos. Isso ou a morte anunciada. Para gáudio de neoliberais e outras aves tão pouco raras quanto eles.

6 comentários:

Anónimo disse...

Oi Rui, as tuas dúvidas parece-me legítimas, também acho, e não é de hoje, que o pessoal só se mexe quando sente os calcanhares mordidos. E no entanto, não conheço quem não se diga preocupado com o bem comum, inclusivé, claro, os nossos governantes.

Talvez que nos tempos que se aproximam, alguns pés bem calçados comecem a sentir que também podem ser mordidos, e outro tipo de actuações colectivas, sindicais ou não, comecem a ser mais desejadas.

Porque, como dizia não sei quem, O Direito do Trabalho, como aliás todo o Direito, é sempre o resultado da correlação de poderes existente na sociedade, é fácil ver a razão de termos o Direito que temos.

Baixámo-nos tanto, que já temos as cuecas à mostra, e não sei se para nos levantarmos, não teremos que ir primeiro ao chão.

Olaio disse...

Concordo que os sindicatos precisam de rever comportamentos, formas de actuação, formas de luta, de comunicação, etc.
No entanto acho que também devemos ser objectivos nas nossas apreciações sobre os sindicatos.

Não sou professor e não conheço em pormenor a actuação dos SEUS SINDICATOS, no entanto sei que não é correcto afirmar que os sindicatos se preocupam unicamente com questões salariais, no caso da FENPROF, basta consultar o seu site para ter uma ideia de outras preocupações que têm:
- “FENPROF lança petição para alterar decreto-lei que impõe uma gestão não democrática às escolas”
- “Educação Especial em conferência de imprensa nesta sexta-feira, dia 6”
- “FENPROF rejeita "quotas" na avaliação e reafirma desacordo com modelo antidemocrático de gestão”
- "Recibos verdes" nas A.E.C. - Acusações do ME aos municípios não resolvem grave problema
- IPSS: FENPROF solidária na defesa dos postos de trabalho
- É urgente atacar as causas da pobreza e das desigualdades
- Combate à indisciplina e violência na Escola é prioritário

Que os governantes e os meios de comunicação numa atitude pouco isenta queiram fazer transparecer essa ideia, é uma coisa, que nós tenhamos que embarcar nisso é outra.

Concordo que é necessário despartidarizar os sindicatos, mas afirmar isso quando te referes à FENPROF pode dar origem a ideias incorrectas e mesmo falsas. A FENPROF não é um sindicato, mas sim uma federação de sindicatos, salvo erro sete, que não são todos da mesma corrente politica. Por exemplo tu fazes parte do SPGL, sindicato onde estão elementos ligados a determinadas posições politicas, no sindicato do centro estão mais próximos de outras correntes politicas e por ai a fora. Ou seja, se há federação de sindicatos que é exemplo de pluralismo é a FENPROF.
Agora uma coisa é apelar à despartidarização, outra é querer sindicatos sem posições politicas ou de classe, o que não deixa de ser também uma posição politica particularmente grave.

Por fim acho curioso a afirmação de “Isso ou a morte anunciada”, quando à um ano os sindicatos promoveram uma das maiores manifestações de sempre em Portugal, com cerca de 200 mil pessoas no Parque das nações, quando os profs fazem uma manifestação quase inimaginável, conseguindo trazer a esmagadora maioria dos elementos de uma classe para a rua, quando se perseguem e condenam sindicalistas, a policia numa atitude intimidativa vai a sedes de sindicatos…
Realmente, parece que não é bem assim! Não podemos levar a sério tudo o que é dito pelos comentadores ou políticos da nossa praça, normalmente eles trazem discursos encomendados.

Anónimo disse...

O boneco da Greve está muito interessante. GOSTO!!!

Silvares disse...

Albino, espero que, se formos ao chão, sejamos capazes de nos levantarmos antes de alguém contar até 10.

Olaio, é claro que os sindicatos são organizações de classe cujo objectivo é o de influenciar as decisões políticas. Não somos rebanhos de ovelhas mansas (ou somos?)
Quanto à questão do enfraquecimento das organizações sindicais estou em crer que é resultado de uma estratégia do patronato. Ao dificultar acordos laborais sólidos, ao promover a precaridade e a mobilidade, os patrões não estarão a fazer mais do que nos empurrar para o isolamento. Os sindicatos começam a ressentir-se com isso. Os trabalhadores sindicalizados começam a envelhecer e não há grande capacidade de renovação do tecido sindical pelas razões atás apontadas. Os tempos mudam e o mundo vai com eles.

Mumia, saquei aquilo algures da NET. Um stencil bem "esgalhado" com data de Dezembro de 2002, a puxar a coisa para a luta de classes. Boxe de classes, para ser mais preciso.

Anónimo disse...

rui: até pensei(???»»%%&&&###$$$§§§) que o grafiti fosse da tua autoria,e já tem seis anitos.
Isto já só vai ao M U R R O.

Silvares disse...

Ainda não entrei nessa de andar pela rua. Mas olha que é uma coisa que me vem frequentemente à cabeça.