segunda-feira, junho 23, 2008

Ser uma página


Há homens (e decerto mulheres) cujo máximo desejo é serem um dia uma página de um livro de História. Olhando o nosso pequeno Sócrates percebemos isso. Ouvindo os seus desabafos percebemos como é vácuo e falho de substância, como se fosse um corpo de carne e osso cheio de palha nos lugares onde deveriam estar os órgãos mais significativos para o Ser Humano. Sócrates está preenchido de ambição. O que já não é pouco para um homem como ele (pode até ser demais!).


Tudo o que Sócrates faz, todas as suas acções, os discursos, as manigâncias várias que vai tecendo para se manter no poleiro do papagaio máximo e, principalmente, o modo pouco envergonhado como manipula a informação por forma a distorcer factos e a ajeitar a realidade à medida do seu sonho, tudo isso é reflexo deste desejo quase infantil de que um dia as criancinhas, na escola primária, iniciem o dia com um hino de louvor ao Grande Timoneiro que um dia colocou a Nação nos eixos e nos salvou das garras da Coisa Má (assim mesmo, indefinida e pouco visível, uma monstruosidade que só os que a combatem podem ver e a compreendem).

Sócrates rejubila quando discursa perante os seus pares europeus e enegrece até à mais escura raiva quando tem de se haver com os políticos autóctones. A uns faz vénias aos outros pontapearia no cú com a maior das volúpias caso isso não fosse algo que uma personagem histórica dos tempos modernos não pode fazer. É que Sócrates ficará nas História como sendo um dos "bons", um combatente do "mal", uma espécie de Messias. Talvez um dia, dentro de muitos séculos, Sócrates possa ser canonizado, tornar-se Santo de uma qualquer seita de origem cristã, talvez ele possa vir a ser o símbolo da regenaração da alma humana emergindo do caos para salvar os nossos descendentes da perdição total.
Sócrates tem pinta de um Nemo da trilogia de Matrix, um misto de homem de acção, iluminado por uma força sobrehumana e de bestialidade cósmica, impregnado de bondade e limpidez. Tem tudo para um dia cumprir o seu máximo ideal e transformar-se numa página de um livro de História. Nem que seja apenas uma nota de rodapé em letras pequeninas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ao ler o teu post , lembrei-me das imagens do video, durante a Cimeira de Lisboa para discussão da estratégia sobre o futuro tratado falhado, em que deixou o Luís Amado dos negócios estrangeiros, com a mão estendida, enquanto cumprimentava gente mais "ilustre" que entretanto por ali passava.

Silvares disse...

O "post" tem vários "links" (caramba, não há Acordo Ortográfico que nos valha nesta linguagem!) se "clicares" sobre "as suas acções", no 2º parágrafo, vais poder rever essas mesmas imagens. Ena pá, a quantidade de neologismos meio macabros que utilizamos nestas mensagens!
Mas é um facto, se nos pomos a pensar, este Sócrates que nos calhou em sorte mostra quanto azar tivemos! Isto dura, pelo menos, desde o D. Sebastião. Não há palhaço que nos não governe.
:-)

Anónimo disse...

Pois é Rui, desculpa lá a cena, mas tenho que confessar que não prestei muita atenção aos links. Esta vida de agricultor está a ocupar-me bastante tempo, o que se manifesta nas minhas intervenções bloguisticas.
Agora que deves estar um tanto mais livre da escola, convido-te a vires beber uma cervejola ao meu quintal. Depois das 17h, já se consegue estar à sombra.É só dizeres qualquer coisa.
Antero.

Silvares disse...

Ha, então és tu o Senhor Quintal... tá bem visto, sim Senhor... devia ter calculado que um "trocadalho" de tal calibre só podia vir de onde vem.
:-)
Pois é, essa cervejola já me está a fazer falta à sêde!

Anónimo disse...

Aparece quando quiseres, basta dares um toque antes por causa dos imponderáveis.
Claro que o convite é extensível à família.