Sente-se. É como o vento. A pobreza instala-se comodamente e nada parece capaz de a fazer levantar o cú do nosso país. Antes da revolução era extrema, visível, fazia parte da paisagem. Bairros de barracas, esgotos a céu aberto, putos ranhosos a correrem rua abaixo numa nuvem de poeira. 30 e tal anos depois conseguimos escondê-la mais ou menos. Alojámo-la em bairros sociais, vestimo-la com roupas de marca contrafeitas e até lhe conseguimos oferecer um telemóvel. Para disfarçar. E ela fica. Vai ficando. E cresce e tudo.
Confirma-se. Portugal é o país da União que maior fosso cava entre os mais ricos e os mais pobres. E parecemos conformados com essa vergonhosa condição. As classes dirigentes assobiam para o lado, dizem que não é bem assim, que é mais tipo talvez não. Os príncipes da economia explicam a coisa com gráficos coloridos e expressões impenetráveis. Ele é a conjuntura internacional, o preço dos combustíveis e o diabo a quatro. Tudo se explica e sonha-se com a retoma.
Mas a fomeca bate fundo nas costelas. E quem tem fome não quer saber da conjuntura nem da puta que a pariu. E é de fome que se fala quando se fala de pobreza. Não é só a exclusão do tecido consumista, não é só a falta de um computador pessoal na salinha de estar ou um comando MEO na palma da mão. É pão e sopa. É falta de tudo, até do essencial.
Isto está verdadeiramente mau. Mau de mais para ser verdade a suportar durante muito tempo. Há por aí uma guerra surda. Já não será uma simples luta, quando estalar vai ser uma guerra. Mas o estado policial tem meios para se defender e manter os pobres do lado de lá da cerca. Um dia destes vai ser complicado olhar para o espelho. O que ainda é mais lixado é que não se vislumbra processo nem vontade de dar uma volta a esta merda.
Ai Portugal, Portugal...
2 comentários:
Ora aí estamos nós de acordo. E não sentes, vindo de mais longe, ventos ainda mais frios? Se isto continua assim, e tudo indica que sim, olha o frio que não deve ser por essa África fora? E pela Ásia? Agora que estavam a querer acordar para o que todos deveriam ter direito, levam com o petróleo a este preço, por enquanto, e os alimentos? Eles podem comer pouco, mas são muitos.
É, de África chega o vento "sarkozyno" e outros menos glamourosos como o "vieirino", por exemplo. Coisas que vêm do Sul, quentes e a cheirar... mal.
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