domingo, fevereiro 24, 2008

Bom Domingo

"A democracia é cada vez mais universal na forma, mas também mais residual no conteúdo. Este "democratismo" empobrecido tem tido como consequência que as eleições se vão tornando sobretudo momentos de rejeição emotiva do que não se quer, mais do que de escolha fundamentada do que se ambiciona."
Fico cá com a sensação de que o problema é duplo. Por um lado temos um sistema democrático vendido e feito refém do grande capital (o selvagem) e, por outro lado, temos uma massa de cidadãos automatizados e meio zombies, que se estão a cagar nas questões básicas do próprio sistema democrático.
Carrilho vem fazer notar como, quando votamos, exercemos muitas vezes o nosso direito mais como forma de expressar uma discordância (contra o poder) do que para afirmar-mos uma concordância (com um projecto de poder submetido a sufrágio). O sistema eleitoral transforma-se num jogo de espelhos, daqueles espelhos deformadores que antigamente abrilhantavam a poeira das festas populares e das feiras de enormidades, e nós deixamo-nos embalar na vertigem do prazer provocado pela imagem deformada. É sempre com algum desconforto que leio estas coisas, escritas por personagens que não chego a perceber se admiro ou deixo de admirar. Carrilho foi um bom Ministro de Cultura... acho eu. Mas foi um péssimo candidato à Câmara de Lisboa, utilizando todo o género de golpes eleitoralistas que, agora, parece querer dizer que despreza. Este homem adora a própria sombra mas não faz mal (que mal poderia fazer ao mundo a simplicidade da situação de existir um homem extremamente vaidoso?).
O diagnóstico acima transcrito e apresentado por Carrilho é acertado. Temos muita forma e pouco conteúdo. A democracia vai alastrando mais é mais como se fosse um vírus, uma doença contagiosa, do que a cura para algumas das maleitas sociais e económicas que diz pretender curar.
É como se, na verdade, a democracia não fosse mais do que uma sombra daquilo que dizemos que ela é (ou, pelo menos, acreditamos que ela é) fazendo com que a nossa vaidade em nós próprios e no nosso sistema político não passe disso mesmo, mera vaidade sem ponta por onde se lhe pegue.
Bom Domingo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Silvares,

cada DEMOCRACIA tem lá suas particulareidades locais, nisso já haviamos concordado.
Agora, mais uma vez, o debate reside na falta de propostas dos partidos políticos, ou dos candidatos. Daí o voto contra fatos, e não a favor de idéias. Pelo menos é assim minha leitura do regime aqui no Brasil. Não sei se vale para Portugal.

Boa semana!

Silvares disse...

Eduardo, nós estamos muito de ser felizes com o governo que temos actualmente. Os casos de corrupção e favorecimento de "amigos" são cada vez mais e a justiça não actua. Então poderíamos estar a pensar mudar nes próximas eleições. Mas a única alternativa oferecida pelo sistema, o outro partido que poderá vencer as eleições, é tão mau ou ainda pior que o que governa actualmente! Estamos a perceber que entrámos num beco sem saída!

Jo-zéi F. disse...

realmente a prenda vem muito bem embrulhada, depois o que está lá dentro é que é um grande e verdadeiro busilis para todos nós.