Farag Foda foi um muçulmano lúcido e corajoso. Desculpem, mas ele chamava-se mesmo assim. Alguns autores ainda optaram por uma versão um pouco diferente, em inglês, do apelido - Fawda. Ou Fouda em português.
Mas logo apareceram os puristas a criticar: a forma ortográfica correcta deste nome árabe nas línguas de origem latina e germânica é Foda.
Não obstante, Farag era professor e um intelectual sério. Envolveu-se em causas humanitárias e escreveu vários livros e artigos de opinião na imprensa do Egipto, onde nasceu, em 1946. O seu tema preferido foi o fundamentalismo islâmico e o seu género literário preferido a sátira. Nos dois, Foda fez História.
A sua tese principal, pelo menos a mais conhecida, era a que de que os integristas, terroristas, teóricos salafistas e outros radicais do islão tinham um problema em comum: a frustração sexual. Seria por não terem acesso aos ternos prazeres da carne que se entregavam à paixão da carnificina, dizia Foda. E acrescentava (neste caso referindo-se a Abd al-Hamid Kishk, um dos mais populares pregadores radicais egípcios): "Ele diz à sua audiência que os muçulmanos que entrarem no paraíso usufruirão de eternas erecções e da companhia de jovens rapazinhos envoltos em laçarotes e enfeites."
É verdade que Farag citou a prédica do velho xeque cego Kishk, para a seguir contar como a mesma deu origem a um debate entre os teóricos. Nem todos concordaram com Kishk. Um deles, da Universidade estatal al-Azhar, contra-argumentou que, no paraíso, as erecções não seriam eternas, mas sim temporárias, ainda que prolongadas. Outro contestou a possibilidade da pederastia no paraíso. Mas houve quem lembrasse que, embora a homossexualidade fosse desaconselhada, a pedofilia não era proibida, citando uma passagem do livro do Ayatolla Khomeini, do Irão: "Um homem pode ter prazer sexual com uma criança, até mesmo com um bebé. Pode sodomizá-Ia, mas não penetrá-la. Se dessa forma danificar a menina, ficará responsável pela sua subsistência, por toda a vida. Esta rapariga, no entanto, não contará como uma das suas quatro mulheres permanentes. E o homem não terá direito a desposar uma irmã dela.”
A propósito, outro estudioso fundamentalista recordou esta passagem do mesmo livro de Khomeini: "Um homem pode ter sexo com animais como ovelhas, vacas, camelos, etc. No entanto, deve matar o animal depois do orgasmo. Não deve vender a carne ao povo da sua própria aldeia. já vendê-la ao povo da aldeia mais próxima não é proibido."
A respeito desta fecunda polémica, Foda comentou: "É isto que preocupa os muçulmanos no final do século XX? O mundo à nossa volta anda ocupado com a conquista do Espaço, a engenharia genética e as possibilidades dos computadores, enquanto os doutores do islão se preocupam com o sexo no paraíso."
Em Junho de 1992, Farag Foda foi assassinado por dois fundamentalistas islâmicos do grupo AI Gama'a aI Islamiya. O advogado de um deles explicou numa entrevista, quando interrogado sobre a sua ideia de Direitos Humanos: "Farag Foda tinha o direito humano de criticar o Governo ou de o criticar a si. Mas não tinha o direito de criticar Deus. Somo escravos de Deus e Ele tem o direito de nos condenar à morte, se o insultamos."
Contra Deus não há direitos humanos.
Mas logo apareceram os puristas a criticar: a forma ortográfica correcta deste nome árabe nas línguas de origem latina e germânica é Foda.
Não obstante, Farag era professor e um intelectual sério. Envolveu-se em causas humanitárias e escreveu vários livros e artigos de opinião na imprensa do Egipto, onde nasceu, em 1946. O seu tema preferido foi o fundamentalismo islâmico e o seu género literário preferido a sátira. Nos dois, Foda fez História.
A sua tese principal, pelo menos a mais conhecida, era a que de que os integristas, terroristas, teóricos salafistas e outros radicais do islão tinham um problema em comum: a frustração sexual. Seria por não terem acesso aos ternos prazeres da carne que se entregavam à paixão da carnificina, dizia Foda. E acrescentava (neste caso referindo-se a Abd al-Hamid Kishk, um dos mais populares pregadores radicais egípcios): "Ele diz à sua audiência que os muçulmanos que entrarem no paraíso usufruirão de eternas erecções e da companhia de jovens rapazinhos envoltos em laçarotes e enfeites."
É verdade que Farag citou a prédica do velho xeque cego Kishk, para a seguir contar como a mesma deu origem a um debate entre os teóricos. Nem todos concordaram com Kishk. Um deles, da Universidade estatal al-Azhar, contra-argumentou que, no paraíso, as erecções não seriam eternas, mas sim temporárias, ainda que prolongadas. Outro contestou a possibilidade da pederastia no paraíso. Mas houve quem lembrasse que, embora a homossexualidade fosse desaconselhada, a pedofilia não era proibida, citando uma passagem do livro do Ayatolla Khomeini, do Irão: "Um homem pode ter prazer sexual com uma criança, até mesmo com um bebé. Pode sodomizá-Ia, mas não penetrá-la. Se dessa forma danificar a menina, ficará responsável pela sua subsistência, por toda a vida. Esta rapariga, no entanto, não contará como uma das suas quatro mulheres permanentes. E o homem não terá direito a desposar uma irmã dela.”
A propósito, outro estudioso fundamentalista recordou esta passagem do mesmo livro de Khomeini: "Um homem pode ter sexo com animais como ovelhas, vacas, camelos, etc. No entanto, deve matar o animal depois do orgasmo. Não deve vender a carne ao povo da sua própria aldeia. já vendê-la ao povo da aldeia mais próxima não é proibido."
A respeito desta fecunda polémica, Foda comentou: "É isto que preocupa os muçulmanos no final do século XX? O mundo à nossa volta anda ocupado com a conquista do Espaço, a engenharia genética e as possibilidades dos computadores, enquanto os doutores do islão se preocupam com o sexo no paraíso."
Em Junho de 1992, Farag Foda foi assassinado por dois fundamentalistas islâmicos do grupo AI Gama'a aI Islamiya. O advogado de um deles explicou numa entrevista, quando interrogado sobre a sua ideia de Direitos Humanos: "Farag Foda tinha o direito humano de criticar o Governo ou de o criticar a si. Mas não tinha o direito de criticar Deus. Somo escravos de Deus e Ele tem o direito de nos condenar à morte, se o insultamos."
Contra Deus não há direitos humanos.
Ilustração deste texto em http://mumiafanzine.blogspot.com/2007/10/mmia-n-9.html
2 comentários:
Silvares,
maravilhoso texto. Vou posta-lo no Drops! Obrigado por nos informar!
Boa semana, Mestre!
Abçs
Maravilhoso e arrepiante. Perante tal modo de pensar o mundo não há qualquer hipótese de entendimento que se possa estabelecer com tipos desta laia. É repugnante. É quando constato estas diferenças radicais que as dúvidas mais profundas me vêm desassossegar o estômago.
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