Os desmandos dos mercenários das empresas privadas de segurança no Iraque fazem brilhar uma luzinha ténue sobre o "outro lado" da guerra. O tiroteio que envolveu alguns homens da Blackwater (http://www.blackwaterusa.com/) agitou a sombra e fez sair a cauda do bicharoco. Agora há muita gente por esse mundo fora a tentar perceber o aspecto do resto do bicho, a parte que continua em sombra promete muito nojo e repulsa.
Mas não será apenas no campo da "segurança" que as negociatas faraónicas são disputadas com ferocidade. Calcula-se que haja mais mercenários no Iraque que elementos das forças armadas americanas. Tudo o que tenha a ver com a reconstrução das infraestruturas mais básicas está ao alcance dos amigos dos invasores.
O espírito da coisa é básico: primeiro destrói-se tudo à força de bomba e tiroteio depois oferece-se o know how para voltar a pôr tudo de pé. Os países amigos dos americanos têm permissão para enviar os empresários melhor intencionados a fim de estabelecerem contratos com as vítimas. Por essas e por outras é que países sem recursos naturais importantes costumam agonizar às mãos de governos assassinos sem que ninguém mexa uma palha em sua defesa. Se esses ditos governos cleptocratas fizerem negócios com os USA estão a salvo da fúria justiceira (Angola é um bom exemplo). O Darfur não terá decerto nada que possa interessar nem cidades para reconstruir, por isso está condenado ao abandono. Se os bandidos no poder fizerem frente aos USA e tiverem, por exemplo, muito petróleo no interior das fronteiras, estão a meter-se em sarilhos. Normalmente acabam com as ruas feitas em cacos, as cidades passadas a ferro e as estradas e pontes passadas no picador da carne conjuntamente com fatias significativas das populações locais. "Culpados" e "inocentes", tudo misturado.
O exército não pode assegurar condições de trabalho em segurança a todos os abutres ao serviço dos "reconstrutores" que debicam o cadáver do Iraque e é aí que entram em cena esses abortos das democracias ocidentais que são as empresas privadas de segurança das quais a Blackwater nem sequer é a maior mas, apenas, aquela que pôs o rabo de fora.
O slogan na imagem promocional da Blackwater que ilustra este post é um verdadeiro hino à hipocrisia. Ou talvez não. "Para garantir liberdade e democracia por toda a parte", diz.
Cada vez mais faz sentido o princípio de Orwell em "Animal Farm" ("O Triunfo dos Porcos" na versão portuguesa) "Os animais são todos iguais mas uns são mais iguais que outros".
1 comentário:
Concordo que as água estão perigosamente escuras.
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