As notícias são o menos. À esmagadora maioria dos jornalistas parece interessar apenas o sangue que as suas penas possam fazer correr. Estes escrevinhadores ou repórteres televisivos (os que usam o microfone como torneira de onde jorra o sangue) são os nossos Iagos e nós, pobres Otelos, vivemos enganados, a desejar a morte a quem não devemos, com o coração dilacerado pela dúvida.
A notícia incide demasiadas vezes sobre o pormenor, o acessório sórdido, o sinal ambíguo que permite a especulação, que dirige o raciocínio ao abismo da mentira ou, pelo menos, da tão pós-moderna "inverdade". Otelo já pede sangue e Iago sente que pode oferecer ainda muito mais.
Todos sabemos que a felicidade não faz notícia, a menos que seja a de alguma celebridade rançosa que se casa ou que tem um filho ou que descobre o amor pela enésima vez no corpo de outra celebridade e vem declará-lo em letras coloridas nas capas das revistas da especialidade. Mas, mesmo nesses areópagos da vacuidade, a intriga e a maledicência são de longe preferidas. E assim vamos erguendo um zigurate tenebroso pelo qual ascendemos à nossa divindade de hoje: a Mentira, essa velha gorda e malcheirosa que habita escondida nos nossos corações e se alimenta incessantemente da crendice que os Iagos deste mundo tão laboriosamente nos oferecem embrulhada em papel perfumado.
A solução (se é que se pode chamar a isto solução!) é tornarmo-nos eremitas da comunicação social cortando relações com o mundo mediático. Escondidos nas profundezas das nossas cavernas cranianas poderemos enfim sonhar e meditar sobre um mundo ideal e vazio onde, além de nós, haja apenas uma luminosa Desdémona a quem possamos oferecer o nosso amor sem um Iago que nos atormente.
1 comentário:
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