domingo, junho 18, 2006

Como disse?


Queen of Hearts (sem data)
Tenho cada vez mais dúvidas sobre a possibilidade de uma arte sem objecto poder cumprir alguma função que não seja a de preencher o vazio com outro vazio de igual valor.
O discurso da arte sobre si própria, a reflexão exclusiva sobre os limites do suporte ou em torno da plasticidade dos materiais parecem-me coisas inúteis.
Sei bem que a arte do século XX trilhou caminhos que nos trouxeram até ao futuro presente. Só que me apetece voltar atrás com frequência e regressar, não sair do lugar. Tomar atalhos, misturar as coisas. A originalidade do discurso não se me afigura uma necessidade absoluta. Citar outros, roubar-lhes ideias, copiar-lhes formas. Porque não?
Pintar com pincéis e tinta.
Há qualquer coisa que me obriga a representar figuras humanas. Procuro-as quase sempre no meio do vazio e é com elas que o tento preencher. É uma forma de me sentir humano. Como essas imagens permanecem quase secretas não sei bem se poderão causar sensações semelhantes a outras pessoas e tenho dúvidas sobre se isso interessa mais ao Menino Jesus se à vaca do presépio. Este texto já me começa a parecer quase tão inútil como um objecto de arte sem objecto.

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