quinta-feira, junho 29, 2006

"A Crise"

Mas... espera lá! Houve algum dia, alguma hora, um minutinho que fosse em que o o país não tivesse estado em crise? Que merda é essa, "A Crise"? Essa merda que nunca veio, nem nunca chegou nem se foi embora. Quando começou, o que a define, qual o seu aspecto, porque não descola? Há tantas perguntas que não são perguntas! Porque se o fossem decerto teriam respostas.

"A Crise" é a porca da loba que nos amamenta. Uma loba porca, a precisar de ver água que não lhe sacie apenas a sêde. Eu sou Rómulo, tu és Remo e ambos esticamos as beiças em direcção aos cones das tetas virados ao contrário. As tetas da loba que já não tem nome, que não é nada, que nem sequer é ninguém. Aquelas tetas sempre a pingar tristeza, a pingar desejo e nós a tentarmos mamar, a falharmos os lábios, a usarmos os dentes.
Mordemos a teta que nos amamenta porque não gostamos do que delas jorra mas também não temos nada melhor para chupar.

Nós somos Remo, vós sois Rómulo. E a puta da loba abala, encosta abaixo. Vai buscar alguma ratazana que lhe mate a fome, algum cacho de uvas verdes que lhe sacie a sêde, nem ela sabe bem o que quer ou o que necessita. Ficamos abandonados à nossa sorte. Lá regressa ela, encosta acima, para confortar os nossos corpos nús, corpos de bébé, sem destino nem cemitério ou catacumba que nos acolha agora e nem na hora da nossa morte.

Nós somos Rómulo, vois sois Remo e o contrário é bem verdade.
Temos uma cidade para inventar, num mundo que não existe e temos um império por construir.

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