quinta-feira, setembro 24, 2009

Um mundo fantástico!


Kadafi discursou na ONU. Foi uma estreia mundial em dia de estreias, Obama também actuou pela primeira vez naquele palco mas Kadafi parece ter entrado directamente para nº 1 do Top. Durante 95 minutos Kadafi fez o seu número de ditador excêntrico e alucinado, como se estivesse em sua casa. Mas não devem os líderes mundiais sentir-se em casa quando estão no edifício das Nações Unidas? Aém disso, convenhamos que Kadafi é uma personagem que dá um colorido especial à paisagem cinzentona dos líderes mundiais e os seus actos imprevistos carregam de suspense um enredo que, de outra forma, seria tão previsível como um segmento de recta.

Li apenas dois apontamentos de reportagem sobre o discurso do líbio flipado, mas dá para perceber que ele vive e vem de um mundo diferente do meu. Um mundo muito mais colorido e fantástico, devo reconhecer, apesar da pobreza e da opressão que se adivinha, apesar da aridez e da alucinação causadas pelas elevadas temperaturas que derretem os miolos dos habitantes desse outro planeta.

Os relatos do discurso referem que Kadafi chamou Conselho do Terrorismo ao Conselho de Segurança da ONU. Que atirou ao chão um livrinho com a Carta das Nações Unidas por considerar que ninguém a respeita, principalmente os membros com assento permanente no tal Conselho (já não sei de quê!). Que colocou várias questões estranhas para habitantes deste mundo em que vivo e que, este ponto é brilhante, se confessou admirador do presidente Obama, mais um entre tantos. Kadafi foi mesmo ao extremo de afirmar que todos seríamos mais felizes se Obama fosse presidente dos EUA para sempre. Isto é que é confiança, caramba! Vindo de quem vem não admira. Kadafi é presidente do mundo dele há 40 anos e por lá ninguém se atreve a pôr em causa a sua liderança.

"Foi completamente diferente para um presidente americano. O senhor é o começo da mudança", disse Kadafi a Obama. "Mas posso garantir que depois de Obama os Estados Unidos serão diferentes?" Ora aqui está uma boa pergunta. Isto porque a Líbia, enquanto Kadafi existir, dificilmente poderá ser diferente. Enquanto Kadafi viver, a Líbia será sempre um mundo fantástico!

9 comentários:

Lina Faria disse...

Eis de novo nosso anti-herói performático. Faz de tudo pra demonstrar resistência cultural, mesmo que às custas de mazelas humanas. Ocupou a tribuna um tempão, falando o que queria, guiado pela sua caderneta com anotações em manuscrito.
Mundo fantasticamente louco!

Anónimo disse...

Lina,

o mundo não é louco, louco são alguns neste mundo! Esse é um bom exemplo! Como milhares de pessoas se submetem a um líder desse nível! Ou com a falta de nível, desses!

Jorge Pinheiro disse...

Nos desertos há uns cactos que dão um pedrada do caraças. E há quem tenha caído no caldeirão.

Luma Rosa disse...

A melhor frase dita por ele, hoje na ONU: “Os árabes não odeiam os judeus – foram vocês que os queimaram”. Beijus

Silvares disse...

Lina, é mesmo. Num mundo louco Kadafi é Imperador!

Eduardo, aí uma questão interessante: é o mundo que é louco ou somos nós que o fazemos assim? Ou nós somos assim porque o mundo é louco? É uma coisa assim do tipo a galinha e ovo.

Jorge, então podemos dizer que, apesar das devidas distâncias, Kadafi é o Obélix da política internacional?

Luna, o meu ponto neste post é precisamente esse. O discurso de Kadafi faz sentido num mundo diferente do meu, um mundo decididamente fantástico. Com desertos e tendas e camelos e estrelas no céu e sei lá que mais... e sei lá que menos. Como são as cidades na Líbia? Se calahr são parecidas com as da Europa. O homem, visto deste lado do Mar Mediterrâneo, não parece jogar com o baralho todo. Mas, insisto, é uma questão de perspectiva. Só que eu estou deste lado e não gosto muito (nem pouco) do que vejo do lado de lá. E isso, para mim, é um problemazito...
bjs

Lina Faria disse...

Silvares,
Só como um timido registro - sim, eles me intimidaram- acabei me envolvendo em uma crise diplomatica. hehehe...
Recebi ontem um e-mail exigindo que eu retirasse um post de abril, onde eu dizia que os produtos chineses, feitos com mão de obra escrava, banalizavam nossa economia. Acabavam com nossas pequenas industrias. Um senhor, que se apresenta como advogado de uma empresa chinesa, exigiu que eu retirasse o post, alegando preconceito racial e perjúrio. Retirei o post, por precalção.
Mas confesso que fiquei com mêdo. Sou uma singela fotografa jornalista, apenas dando minha opinião. Eu, heim...

peri s.c. disse...

Um louco explícito bagunçando a pior das loucuras : a insanidade disfarçada de sanidade, embaixo de ternos impecáveis .

Essa frase : “Os árabes não odeiam os judeus – foram vocês que os queimaram” é uma maravilha ...

Silvares disse...

Lina, a verdade nem sempre merece respeito porque há demasiada gente sem escrúpulos que é paga para fazer valer a mentira. Lamento que a perseguição feita pelos malandros vá tão fundo que até no seu blogue conseguem praticar sacanagem!

Peri, penso que Kadafi se absteve de concluir esse pensamento extraordinário: "os árabes não odeiam os judeus, foram vocês que os queimaram... os árabes gostam deles mal passados."

peri s.c. disse...

Silvares
perfeito seu complemento a frase .