A galeria de Charles Saatchi parece uma daquelas grutas das histórias de piratas, a deitarem por fora tesouros empilhados após anos e anos de trabalho árduo. Pronto, está bem, não parece nada uma gruta, as paredes são brancas e há luz a entrar por todos os lados iluminando os tesouros de uma forma gloriosa. Sim, também sou capaz de ver que as peças estão arrumadinhas num lugar muito seu e muito próprio, não tem nada a ver com arcas a transbordarem de pulseiras de ouro e coroas de monarcas esquecidos e moedas de impérios que nunca existiram. E, finalmente, as peças expostas não foram roubadas nem são produto de saques violentos, resultam de límpidas transacções comerciais, cheques com cobertura e tudo o mais. Imagino eu. Portanto a imagem da gruta de piratas é, no mínimo, forçada. Foi a primeira coisa que me passou pela cabeça e depois não quis dixá-la para trás. Enfim, este texto pretende ser uma metáfora da arte exposta e comercializada pelo Grande Saatchi, o coleccionador, o dealer, o mágico do negócio das artes e dos artistas contemporâneos. As coisas nem sempre são o que parecem ou, então, não são realmente aquilo que nos dizem que são. Confuso? Também acho.
Saatchi é um dos homens mais influentes na cena artística internacional. A forma como vai coleccionando os seus tesouros de Ali Bábá, desencantando novos artistas e novos valores (literalmente) que ciclicamente vêm reactivar o mercado da arte, fazem dele uma personagem central para a compreensão do mundo das artes nesta viragem de século que já começa a deixar de ser uma esquina, embora não se perceba ainda se é uma ruela lamacenta ou uma avenida alcatroada.
Toda esta conversa para trazer aqui uma questão colocada a Saatchi por um jornalista do "The Guardian":
- Sei muito pouco de arte contemporânea mas tenho mil libras para investir. Algum conselho?
Resposta de Saatchi:
-Obrigações financeiras. A arte não é um investimento a não ser que tenha muita, muita sorte, e consiga bater os profissionais no seu próprio jogo. Compre qualquer coisa que realmente goste e que lhe dê mil libras de prazer ao longo dos anos. E leve o seu tempo à procura de algo realmente especial, porque procurar é metade do gozo.
Mesmo o grande guru do comércio de arte coloca o valor do objecto artístico dentro da nossa própria cabeça e sugere que o negócio e as "descobertas" dos artistas cujas obras valem milhões é coisa de profissionais. Trabalho de profissionais e negócio de profissionais, capazes de transformar merda em ouro, numa reviravolta alquímica de todo inesperada. Coisa de piratas?
Caso sintas curiosidade podes ler aqui um conjunto de perguntas de leitores do The Sunday Telegraph e respostas de Charles Saatchi (em inglês) com algumas passagens interessantes.
2 comentários:
Eu entendi diferente. Parece que o referencial é o gosto pela obra e consequente gosto ou desgosto pelo investimento. As valores estão insíntricos, por isso o valor pessoal deve ser levado em conta na classificação da obra. Beijus
Desde mis --- HORAS ROTAS ---
y --- AULA DE PAZ ----
TE SIGO 100 CABECAS
. comparto tu blog
con un fuerte abrazo y
Saludos cordiales de amistad:
afectuosamente :
100 CABECAS
jose
ramon…
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