Sacanas sem Lei (Inglourious Basterds no original) é um filme inquietante. Nos últimos tempos tinha andado a rever alguns filmes de Tarantino. Pulp Fiction e Reservoir Dogs continuam a ser filmes poderosos, apoiados numa fluência narrativa inventiva e fora-de-série. Obras-primas? Talvez. Até ver este Inglourious Basterds (e não Bastards) a dúvida mantinha-se mas este sim, é "a" obra-prima de Tarantino, tal como a personagem interpretada por Brad Pitt propõe, na última fala do guião "esta é, provavelmente, a minha obra-prima" (ou algo do género).
A construção de cada plano, o movimento da câmara, a simbologia de violência e a qualidade excepcional dos diálogos, são imagens de marca do realizador. Mas, neste filme, estas qualidades são de tal modo depuradas e felizes nas soluções encontradas que a palavra "genial" dança na mente do espectador ao longo de muitos momentos da projecção.
A extrema violência de certas imagens acaba por encaixar perfeitamente tanto no ambiente visual quanto no narrativo, com naturalidade. Um soldado alemão a ser escalpado é quase poético, embora cenas que metam facas a retalhar carne me impressionem particularmente, não sei porquê, alguma recordação que o meu cérebro teima em tentar esquecer, algo que o meu corpo não permite. Por várias vezes meti a mão na cara e quase desviei o olhar. Há imagens mais duras que o fio de uma navalha perfeita.
Os actores têm performances inexcedíveis (a 1ª -longa- cena do filme dá o mote) e Brad Pitt é a estrela mais luminosa devido à exposição mediática. A fotografia tem momentos gloriosos (a projecção do filme sobre o fumo da um incêndio na cena quase final, não dá para explicar aqui a cena, é um achado extraordinário), enfim, poderia desfiar um rosário de elogios mas o maior de todos os elogios é assistir ao filme.
Não aconselhável a crianças nem a adultos facilmente impressionáveis (embora se possa desviar o olhar quando a coisa atinge picos de violência insuportáveis). Quentin Tarantino confirma-se como um mestre extraordinário, quase um clássico. Ver este filme tão perfeito formalmente e tão revoltante ao nível das entranhas é como ver uma tela de Rafael Sanzio de Urbino em que a graciosa madonna, em vez do habitual gesto de insuportável carinho, fizesse algo arrepiante ao menino Jesus, algo que não sejamos capazes de imaginar.
Very fucking good!
9 comentários:
Diante de tal resenha não vou poder perder!
E não estreou aqui ainda...
Pulp Ficcion consta na minha lista dos 3 melhores filmes produzidos até hoje.
Puxa Silvares...inesperada resenha depois dos comentários que tenho lido,e ouvido de críticos americanos,mesmo os que são fãs de carteirinha...críticas duras que francamente não nos leva a querer ver o filme...bom mas "that's history"...pois depois de ler o deixas aqui,já joguei no lixo o resto...pois para vc dizer 'Very fucking good'...it must be!! So...aguardemos lá estarei no primeiro dia...Thanks!
:-)
..o QUE deixas...:-)
Hoje ou amanha, vou ver !
Já li criticas muito boas ao guião (como não podia deixar de ser, vindo de quem vem) e fiquei com uma curiosidade enorme.
Um filme fantástico. Ri-me e tudo (COISA DIFÍCIL). A interpretação do Badd e em especial do que faz de nazi (não sei o nome) são excepcionais.
Eduardo, acho que vale a pena ver. É um estilo cinematográfico muito contemporâneo, muito vigoroso e pouco respeitoso para com alguns dogmas mas penso que merece atenção.
Beto, imagine Pulp Fiction melhorado. Espero que isso seja o suficiente para lhe despertar a curiosidade.
Ví, não pretendo ser um crítico de cinema. As minhas opiniões baseiam-se na paixão que tenho pelo cinema. E este filme mexe com as paixões, isso é certinho!
:-)
Tiago, os diálogos são mais estranhos que um cão com seis patas a coxear... que quer isto dizer? Também não sei mas tem qualquer coisa a ver com o filme.
Jorge, é isso que é estranho. Rimo-nos de coisas horripilantes, como se o filme revelasse coisas que temos escondidas e que preferíamos não serem nossas.
então o Brad Pitt deu conta do recado? Fiquei interessada como todos os seus leitores, apesar de que ñ gostei muito de pulp fiction.
abs
madoka
O Brad Pitt, neste filme, constrói uma personagem caricatural. Queixo esticado e cabelo penteado para trás, uma pronúncia cerradíssima (que irá valer um momento de humor bem engraçado lá para as cenas finais) é quase um boneco animado. E cumpre com brilhantismo, na minha perspectiva. O registo está muito longe de Babel, talvez mais próximo de Queimar depois de Ler, dos irmãos Cohen, provando mais uma vez que o rapaz é muito mais que uma carinha laroca, é um dos grandes actores desta geração. Sabe, é que ele, cá em casa, tem duas fãs incondiconais na minha mulher e na minha filha. Eu sou apenas fã, mas o Brad, caramba...
:-)
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