Vinha do lado de lá. Pequenino, mão dada na mão da mãe. Vinha debaixo de um gorro colorido que lhe aconchegava as ideias. O olhar, perdido entre todas as coisas que queria ver e talvez nem soubesse que via, trazia agarrado aquela expressão confiante de quem não sofre mais do que comer meia dúzia de colheres de uma sopa de legumes. Atravessou a rua, assim dependurado da asa do seu anjo protector, anjo por sua vez protegido por óculos escuros e cachecol. Atravessou olhando através do mundo, perfurando as coisas com os olhos, mergulhado no cálido torpor dos sonhos que a mais tenra infância nos permite sonhar. Dependurado, passou por mim. Dependurado continuou e, decerto já poisado, algures ele continua.
8 comentários:
Silvares,
Vim deixar meu abraço, penitenciar-me pela ausência. Gosto dos textos curtos e que dizem muito. Desta densidade que você revela em tão pouco espaço, neste teu Desenho Corrigido. Fiquei muito comovido com o que li. Acho maravilhoso quando um escritor consegue passar toda a emoção necessária se dizer muito. Ainda outro dia li um pequeno poema de um poeta brasileiro, já falecido, e pouco conhecido: José Paulo Paes. Dizia:
Conciso
Com siso
Prolixo
Pro lixo
Penso o mesmo.
Grande abraço
excepcional!!!!!!!
Bravo! Bravo! Subscrevo o comentário do Lord.
Rui: o teu belo texto fez-me lembrar "As Asas do Desejo", filme de wim wenders, sobre Anjos, em Berlim(1987).
--- esse Míudo "decerto já poisado".
:-}}
Deixam-me sem palavras...
Pelo contrário...palavras de um poeta cada dia mais aprimorado...
Que prazer!
Literatura, oras...
É por causa do blog que descobrimos tanta beleza...
E eu que julgava que estávamos em crise...! De poetas não é!
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