A guerra na Faixa de Gaza é uma coisa complicada. Levanta tantos problemas éticos e provoca uma tão grande confusão na cabeça de um gajo que, como eu (como nós) vive a situação à distância, através de imagens e notícias, que a opinião balança constantemente para um lado e para o outro.
Ora dou por mim a compreender as razões da invasão israelita, ora me sinto indignado com a brutalidade e desproporção de forças em confronto. Ora compreendo a insegurança vivida nas cidades israelitas sob o fogo banalizado dos rockets do Hamas, ora compreendo a insatisfação do milhão e meio de habitantes da Faixa de Gaza, prisioneiros naquele verdadeiro campo de concentração a que chamam casa.
Haverá alguma solução possível que esteja de acordo com os princípios humanistas que, quero acreditar, norteiam a nossa vida deste lado do planeta? Não acredito. A solução, se existir, não passa pelos gabinetes europeus. O ponto a que se chegou já só parece admitir uma solução que passe pelo aniquilamento de alguma das forças em confronto. Talvez o Hamas esteja em piores lençóis.
Mas o Hamas funde-se na população civil com extrema facilidade e lutar com ele, atingi-lo, implica a morte de inocentes. Um problema complicado. O que fazer?
Sentadinho num belo sofá, com o meu computador à frente dos olhos e o leve ruído do tráfego que murmura vindo lá de baixo, do sossego agitado das ruas de Almada, estas palavras que escrevo não têm qualquer significado. A minha opinião não tem qualquer justificação que não sejam algumas coisas em que acredito porque como sobremesa e as minhas preocupações quotidianas não se prendem com o terror de nenhuma guerra à porta de casa.
Ouço e leio contendas acaloradas com a Guerra em Gaza por pano de fundo. Mas, pensando bem, não é essa guerra que se discute aqui por estas bandas. São outras questões, ideologias, convicções, fézadas que se têm e se tentam colar ao que ali acontece. Mas que podemos nós saber da dor de um palestiniano fechado no seu apartamento em Gaza enquanto o céu desaba sobre a sua cabeça? E que podemos nós saber do desespero de um israelita a quem caíu um rocket no quintal?
Em ocasiões como esta só nos resta rezar. Mesmo que não acreditemos em deus.
25 comentários:
Silvares,
tenho lido muito a respeito, e cheguei atá a ter uma divergencia com a opinião do Milton Ribeiro e da maioria dos intelectuais aqui no Brasil. Penso exatamente como você! Uma dúvida cruel em saber quem apoiar nessa guerra! Lamentavel como todas as guerras, onde crianças e cívis inocentes pagam com a vida.
Assino embaixo em tudo que escreveu!Só nos resta rezar, mesmo não sabendo para qual dos deuses...
Mas um dos problemas desta guerra é precisamente deus. Por isso, nem isso é recomendável!
NADA...!!!
Não há mocinhos neste bang bang
Não há reza que resolva uma situação destas.
Os seres humanos são meros joguetes nas mãos de interesses políticos-econômicos.
E por trás de tudo, como sempre tentando fazer cara de paisagem quando a coisa fede, aquele grande país da América do Norte.
O grande interesse nessa guerra e por terras,e poder econômico.DEUS nao tem nada a ver com a atitude lamentavel desses grupos.
Eu apoio o Leandro, deusou qualquer religião apenas não faz parte de nada disso, é sempre a boa e velha ganância.
Como alguém disse aqui há tempos no blog do al kantara:" será que não se cansam?" Andam naquilo há milhares de anos. São ódios muito antigos, que passam de geração em geração. Como o ADN. Não podemos, infelizmente, fazer nada. Só lamentar.
«Israel é um país; o Hamas é um gangue. Os cálculos do Hamas são simples, cínicos e pérfidos: se morrerem israelitas inocentes, isso é bom; se morrerem palestinianos inocentes, é ainda melhor.» Amos Oz
Ou vice versa, se calhar Israel é um gangue e a Palestina um país...
Pano para mangas...
e 2008 a terminar mal.
abraço
(Bom Ano)
Eduardo, eu desisto de tomar partido nesta guerra. Os meus votos de ano novo não estão a fazer efeito.
:-(
Jorge, em ocasiões como esta tenho pena de Deus. Ou de deus, tanto me faz.
Ví, pelo menos "quase nada"!
Beto, no mundo em que vivemos já não há mocinhos em lado nenhum! As crianças não têm heróis.
Peri, mesmo assim gostava mais quando os seres humanos eram joguetes de interesses cósmicos e divinos. Sempre deixava as coisas num lugar menos acessível e com uma face (ainda) mais difusa...
Leandro, repara bem na (ausência) de riqueza que existe naqueles territórios miseráveis. Ver dois velhos desedentados a lutarem por um pedaço de pão rijo porque têm fome é um espectáculo degradante. Vão ter de desfazer a coisa com muita saliva, depois de terem desfeito o crânio do adversário ao murro com os seus ossos duros e salientes...
Alice, ganância? Mas ganância de quê???
Rose, podiam fazer como nós e os espanhóis! Somos irmãos de uns filhos-da-puta!
:-)
Caçador, Amos Oz é um observador extraordinário.
Intruso, 2009 a começar de forma semelhante...
Bom Ano Novo para todos!!!
:-(
:-)
Bom, Silvares vou tentar ser clara (eu sei que não consigo) , creio eu que "destruir a industria do terror" de Gaza não seja o único motivo para que Israel assassine milhares de pessoas completamente inocentes da forma que vem fazendo. Para não deliberadamente ADMITIREM que estão entrando com tudo PELA terra, precisam de uma desculpa lá que - se baseando nos ataques de GAZA contra ISRAEL seria ate compreensivel se não fosse TÃO violento o "back at ya'" que Israel tem copiado tão bem do seu irmãozão gringo os EUA.
Pra mim Israel tem segundas intençoes. Talvez botar medo no Irã. Talvez qualquer outra coisa que ninguém ainda percebeu ou captou. Essa campanha de Israel vem de tempos e me lembra a campanha americana do "vamos acabar com o terrorismo" sem perceber que faziam terrorismo eles mesmos (perceberam claro, mas não contaram pra ninguém) .
Eu usei a palavra ganância porque, no fim das contas dá quase para VER que tem algo(muitos algos talvez) por trás dessa guerra e isso não me deixa feliz... e acho que é isso!
Mais uma: a embaixadora de Israel na ONU, disse que "a ação prosseguirá, até o Hamás ter sido completamente destroçado". Isso não me parece muito humanitário já que pra "destroçar"Hamás será necessário destroçar uma outra comunidade muito maior de gente simples e sem grandes ambiçoes muito menos extremistas, já que ninguem sabe ao certo se essa história toda de medo desse grupo mais fundamentalista islâmico realmente representa tamanho mal ao mundo Israelense.
É muito fácil, quando não se quer, ou não se tem a coragem de resolver os problemas, dizer que é tudo muito complicado.
Imagina tu que vives muito bem na tua casa e que há uns tipos quaisquer, que por uma qualquer razão decidem entrar por ela a dentro e violentamente expulsam-te dela, ou deixam-te ficar confinado a um canto de uma qualquer divisão.
Imagina que as autoridades nada fazem, ou limitam-se a informar os ocupantes que só devem ocupar metade das divisões deixando as outras para ti, mas os ocupantes pura e simplesmente estão-se a marimbar para isso e perante a passividade das ditas autoridades agem como bem lhes apetece.
Imagina que para saíres do teu canto, para trabalhares, para procurares comida, cuidados de saúde para ti (e já agora para a tua família), tens que te sujeitar ao arbítrio dos ocupantes, a seres humilhado, a suplicar direito de passagem, seres controlado, limitado nos teus movimentos… Imagina que ainda não contentes com isso, os ocupantes convidam mais uma pessoas (da mesma fé???) limitando ainda mais o teu espaço.
Que farias tu?
Calavas-te e subservientemente deixavas-te ficar no teu canto, humilhantemente aceitavas essa situação, ou então ias-te embora, esquecendo que aquela era a casa dos teus antepassados?
E se, por acaso tivesses o mínimo de dignidade em ti e da mesma forma violenta com que te retiraram a casa, tu quisesses recupera-la, serias um elemento perigoso e violento?
Um terrorista?
Um doido?
Uma pessoa a isolar como perigosa para toda a sociedade?
Ou estarias com toda a razão deste mundo a exercer um dos direitos mais básicos da civilização, que é o direito a defender aquilo que nos pertence?
Não me parece que este caso entre palestinianos e israelitas seja muito complicado e repara que os palestinianos nem querem recuperar a casa toda, só querem aquilo que as autoridades internacionais determinaram e que internacionalmente está aceite.
Há quem queira transformar isto num complicado problema religioso, a mim parece-me um claro problema de roubo e de crime, e não me parece que seja difícil identificar o criminoso: ISRAEL!
Alice, violência gera violência. Tentar acabar com o terrorismo matando, rebentando e humilhando pela força tem sido como deitar gasolina no incêndio. Quando perguntei "ganância de quê?" no meu comentário estava a falar da miséria absoluta que se vive em Gaza.
No entanto não creio que haja só demónios de um lado e anjos celestiais do outro como advoga aqui o meu amigo Olaio.
Há uma frase que se atribui às cúpulas do Hamas, como se fosse uma espécie de grito de guerra, não sei se é verdadeira ou apenas mais uma carta no jogo dos sentimentos. Diz a frase "Vocês acreditam na vida, nós acreditamos na morte". Não sei se é assim. Cá para mim há mais quem acredite na morte, mas a situação é caótica e não é a coragem na ponta da língua que vai fazer o que quer que seja que resulte de facto em algo útil.
Conversa, conversa, conversa, tal e qual este comentário que agora termino.
Silvares, pelos vistos a tua capacidade de imaginar anda muito por baixo, pelo menos no que à Palestina diz respeito...é pena!
Como tu dizes é só conversa, conversa, conversa, para uma coisa que é muito simples: o direito a não sermos roubados.
Afinal é tudo bastante claro e simples, tal como é descrito no mail que me enviaste.
O que é que Deus tem a ver com tudo isto?
Recomendo vivamente a leitura do texto escrito sobre o assunto pelo médico Fernando Nobre em http://fernandonobre.blogs.sapo.pt/6062.html com o qual concordo inteiramente, sobretudo com os aspectos da perspectiva histórica.
A chacina que Israel está a praticar contra os Palestianos fechados na Faixa de Gaza não difere em nada dos crimes praticados pelos Nazis contra os Judeus fechados em guetos na Segunda Guerra Mundial.
E já se viu na história uma "guerra" em que o chamado "agressor" sofre 100 vezes mais baixas do que os "agredidos"??
Vamos ver o que acontece depois da Resolução da Conselho de Segurança das Nações Unidas a pedir um cessar-fogo (mas parece que Israel começou uma nova série de ataques mesmo durante a votação....)
...PALESTINIANOS claro, mais do que nunca o povo tem direito ao seu nome...
Ia fazer a mesma sugestão do Rini Luyks sobre o comentário do Fernando Nobre. David contra Golias, não obstante o Hamas ser um gang de mafiosos estremistas e terem dado de mão beijada a Israel este pretexto para envadirem Gaza. Foi um belo presente para os sionistas. Afinal o que quer o Hamas?... E isto vai acabar quando, com o estremínio de todos os palestinianos? Afinal quem é o Hamas?!
Silvares: O Hammás, obviamente não é inocente, MAS é o que você falou, estao colocando gasolina no incendio, e PIOR matando gente que não tem ABSOLUTAMENTE NADA com isso. E o Bush vem e diz que "Tudo que Israel faz é justificavel", HEIN!? Não senhoooor! FIco IRRITADISSIMA!!!! (desculpe o desabafo!)
Olaio, em última análise tem a ver com isto e com tudo o mais. Afinal de contas foi Ele o inventor desta merda toda! Foi Ele quem escolheu o povo israelita e foi também Ele (parece que disfarçado) que inspirou Maomé. Orienta os fanáticos israelitas e inspira os suicidas palestinianos. Um tanto esquizofrénico, sem dúvida. Ainda perguntas o que tem Ele a ver com isto?
Rini, esta luta cheira pior que o habitual mas não se lhe vislumbra o fim. Vou ler o tal texto mas duvido que altere muito o meu cepticismo.
Ogre, andam por lá demasiados assassinos à solta.
Silvares, isso sã tretas! Volto a perguntar: Que farias se uns filhos da puta quaisquer, a pretexto de uma aldrabice devina, corressem contigo da tua casa, o que é que farias?
Ias a rastejar, ajoelhar-te em frente a eles agradecer o facto de te deixarem, às vezes, respirar?
É uma questão de dignidade humana, respeito pelo nosso semelhante e mais nada!
Ogre, não foi o Hamas quem quebrou o cessar fogo, foi Israel que o quebrou, ao impor o bloqueio económico, alimentar, energético e de medicamentos à faixa de Gaza. A 4 de Novembro, dia de eleição de Obama, Israel, se calhar para comemorar, bombardeou Gaza.
O Hamas, não sendo flor que se cheire, limitou-se a responder.
Claro que são tretas! As justificações para as guerras entre palestinianos e israelitas raramente ultrapassam o nível da treta. É tempo de se entenderem. O passado já é difícil (se não impossível) de alterar. Civilizem-se e debatam! Capacitem-se de que não é possível exterminar "o outro" e vão ter que viver uns ao lado dos outros. Caguem nos deuses e nas tretas e tentem fazer a paz! Um dia destes ainda vamos ter de voltar a entrar em guerra com os espanhóis; então não é que os cabrões nos gamaram Olivença!
Olá!
Somos um zine virtual e gostaríamos de entrar em contato com você.
Poderia nos enviar um e-mail?
Nosso endereço é atendimento@e-blogue.com.
Grande abraço e parabéns pelo blog.
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