terça-feira, janeiro 13, 2009

Fruindo a contemporaneidade artísitca


Perante a extraordinária formulação de Duchamp, o espectador/fruidor do objecto de arte contemporânea ganha uma posição de grande responsabilidade na conclusão do processo comunicacional.

Olhando o urinol titulado como A Fonte, a primeira reacção interpretativa, a mais óbvia, é ver no próprio urinol o objecto sugerido pelo título. Mas, numa segunda passagem de olhos sobre o conceito associado, surge uma dúvida e abre-se uma pequena porta, uma outra direcção.

E se A Fonte não for o urinol mas o próprio observador? Como!? O observador? Sim, exactamente: o observador!

Uma das consequências da perspectiva dadaísta sobre a produção de obras de arte é que o observador/fruidor já não pode manter uma atitude passiva perante o objecto que observa. A "elevação" do objecto observado à categoria de obra de arte depende muito da capacidade (ou da vontade) do observador para o considerar como tal.

É o observador que funciona como fonte de onde brota a arte, é nele que reside, em potência, toda a dimensão artística. Só precisará de fazer um pouco de força, derramando a sua sensibilidade sobre o objecto que este lha devolverá, transformada em revelação artística, o resultado da sua fruição. Tal como proponho na ilustração (clicar para leitura mais eficaz), o observador/fruidor é A Fonte, o urinol serve apenas de veículo à sensação e sensibilidade artísticas.

Simples, não é?

16 comentários:

MUMIA disse...

O objecto é utilizado como metáfora.
Arte conceptual.

Anónimo disse...

MUITO BOM!
Foi para o VARAL.

Abçs e parabéns!

Ví Leardi disse...

Genial...És impossível! ;-}

GUGA ALAYON disse...

Não adianta! O último pingo continuará sendo da cueca...
Pelo menos livre das frieiras...

Alice Salles disse...

Ser parte da obra viva não só a observando sempre foi meu "take" no tema arte. É o únic jeito! Belissimo texto ;)

Anónimo disse...

Matou a pau!

Pode gerar alguma controvérsia, mas a metáfora da mera utilização do ready made e as consequências deste uso serviram como luva, tanto para os que são a favor como para os que são contra.

Sem falar na ilustração, que dispensa comentários.

abraço,

Boczon

Silvares disse...

MUMIA, tu o dizes.

Eduardo, como sempre disponha. Obrigado.

Ví, na verdade isto é o resultado de abordar os mesmos temas uma e outra vez, perante grupos de estudantes sempre diferentes. As ideias surgem assim mesmo, por vezes nem sei bem de onde.
:-)

Guga, o observador guarda sempre qualquer coisinha para si próprio!
:-)

Alice, a arte contemporânea é muito oferecida.
:-D

Cláudio, não há que recear "chamar os bois pelos nomes". A arte contemporânea tem mais portas de entrada do que portas de saída.
Apareça sempre.

Anónimo disse...

estes professores actuais...
têm muita imaginação.
no meu tempo de escola não tinhamos nada disto.

:-[

Anónimo disse...

O senegalesco verão aqui dos trópicos, não nos convida a complexos racicínios analíticos.
Mas ... excelente teu texto e deixo uma pergunta : isso significa que qualquer manifestação banal de arte, quando apreciada por pessoas banais, vira arte ?

Anónimo disse...

oops ...." raciocínios " ...

Rini Luyks disse...

Haha, li agora que "A Fonte" (o ready made de Duchamps) sofreu um ataque no dia 6 de Janeiro 2006 no Centre Pompidou em Paris.
Um francês de 77 anos "trabalhou" a obra com um martelo, alegando depois que o ataque era uma performance artística e que o próprio Marcel Duchamp teria apreciado a atitude. A obra sofreu apenas escoriações leves.
Nessa altura estimava-se que "A Fonte" valeria 3 milhôes de euros...

Beto Canales disse...

Simples.

Silvares disse...

Jo-Zei, é mais uma questão de informação...

Peri, a arte não tem de ser sempre excepcional nem o fruidor precisa de ser um especialista no derramamento da sua sensibilidade...
:-)

Rini, acredito no velhote. Acredito na performance e, até, no eventual agrado de Duchamp perante a suituação. Afinal de contas o que não falta por aí são urinois!

Beto, é o que parece!

Ví Leardi disse...

Que pena não participares das Tertúlias...Grande contribuição serias...;-}

Anónimo disse...

Silvares,

O HARTISMO aguarda pelas suas sempre sábias, doutas e abalizadas opiniões!Por ora só timidas críticas e nenhuma polêmica.

Silvares disse...

Ví, no dia 15 viajei até ao Porto numa visita de estudo com os meus alunos. Fomos visitar uma exposição do artista espanhol(já falecido) Juan Muñoz. Não consegui participar da Tertúlia por estar em viagem. Ir e voltar leva o dia inteiro. Cheguei a casa já a noite ia ligeiramente avançada e nem sequer me lembrei da Tertúlia. A verdade é essa!
:-(

Eduardo, ainda não sei bem do que está a falar. Vou ter de investigar um pouco.
:-)