sexta-feira, agosto 29, 2008

Arte (o que é isso?)


A Arte é uma daquelas coisas que todos sabemos o que é mas não conseguimos explicar.
Como tal, um post sobre este assunto terá de ser um pouco longo, como o que se segue.

Não deixa de ser curioso que sejamos capazes de afirmar com um certo grau de certeza "isto não é Arte" perante um objecto que nos repugna plasticamente, mas já nos seja um pouco (ou muito) mais difícil explicar porquê. O mesmo se passa com aquilo que consideramos como Arte.

Importa tentar perceber o que é Arte? Primeiro que tudo poderemos partir do princípio que um objecto artístico, sendo produto de uma actividade humana, está dependente de um tempo e de um espaço. Esse objecto é um reflexo de um momento determinado na História e as suas características, formais (os aspectos relacionados com a técnica) e iconológicas (o que normalmente designamos por mensagem ou conteúdo), são matéria e produto dessa conjuntura espácio-temporal.

A História da Arte mostra-nos bem a evolução das formas e dos discursos artísticos ao longo dos tempos e o modo como a Arte foi um poderoso meio de propaganda. Mas, tal como as sociedades evoluíram e transformaram os seus paradigmas sociais e políticos, também a Arte se transformou. É lógico.

Mas, para tentar perceber afinal o que é (ou não é) Arte, temos de confiar essa missão em alguém. Quer dizer, nós, simples mortais, não temos a capacidade de decidir sobre a natureza artística de um objecto embora possamos formar uma opinião que, tal como disse aí mais atrás, acaba por ser intuitiva e pouco fundamentada. É do género "gosto disto" ou "não gosto disto" como se nos estivessemos a referir a um prato de bacalhau cozido. E a Arte não parece ser bem a mesma coisa que bacalhau cozido, embora por vezes se possam confundir.

Chegamos então a uma questão fundamental: quem é que sabe o que é Arte? Ou, quem valida a natureza artística de um objecto? Pois é, aqui é que a porca torce o rabo e o pessoal costuma começar a sacudir a água do capote. "Para mim é Arte" arriscamos por vezes "ou não acho que seja Arte" podemos afirmar com um encolher de ombros. Assumimos uma postura que nos desresponsabiliza. Não sendo nós peritos, podemos apenas dar uma opinião... intuitiva.

A História da Arte mostra-nos como essa validação foi passando de mãos ao longo dos séculos. Entidades religiosas, burgueses ricos ou Academias Reais de Belas Artes foram decidindo sobre a natureza da Arte. Forças de sinais contrários ou com raízes sociais diversas, todas tiveram , no entanto, uma coisa em comum: riqueza ou capacidade económica para encomendar e pagar o trabalho daqueles que hoje designamos por artistas. Em última análise poderemos considerar que é o valor comercial, a capacidade de angariar divisas que valida o objecto artístico.

Esta visão é demasiado redutora, dirão alguns, mas uma análise superficial do fenómeno permite-nos mantê-la com argumentos bastante sólidos. Esta perspectiva economicista sofreu um primeiro abalo com o Romantismo do século XIX quando os artistas se assumiram como tal e reclamaram liberdade criativa fora das esferas de poder habituais. As revoluções liberais retiraram muita da capacidade económica e política às forças religiosas tradicionais. O crescimento do sentimento Democrático fez que, como seria de esperar, também se democratizasse a perspectiva que temos sobre a produção artística.

Quando Marcel Duchamp criou os seus ready-mades, provocou uma transformação radical nos mecanismos que validam a natureza artística dos objectos. É paradigmático que a sua "Fonte" (o célebre urinol) seja consensualmente considerada a mais importante obra de arte de século XX. Não porque seja uma exibição de cpacidades técnicas supreendentes ou mesmo um objecto que possamos considerar belo, mas porque transferiu a capacidade de validar a Arte para o comum dos mortais, para o observador ocasional, que, neste universo criativo, é chamado a tomar uma posição perante aquilo que observa.

A Arte Contemporânea responsabiliza o próprio observador na construção do objecto artístico que apenas se completa através da sua leitura pessoal e particular. Todos sabemos que, no mundo actual, a crítica de arte publicada nos jornais e nas revistas da especialidade carimba e certifica definitivamente a natureza de um objecto. Mas isso serve principalmente para atrair os tais gajos com poder e capacidade económica para investir na compra dos objectos. Daí que seja difícil compreender como pode um sapo verde pregado numa cruz valer mais do que uma tela da Ju, como foi notado num comentário ao post anterior.

Concluindo, numa sociedade democrática contemporânea, os indivíduos são considerados responsáveis pelos seus actos. A igreja já não tem o direito de nos condenar por blasfemarmos ou simplesmente porque lhe desagradamos, como aconteceu ao longo da Idade das Trevas. Isso é assim na esfera da nossa vida quotidiana e também no campo da Arte. Daí que o triste episódio do sapo verde seja apenas mais um tique intolerante de uma igreja que ainda não percebeu em definitivo qual é o seu verdadeiro lugar no mundo actual. A perspectiva que a Igreja tem da arte não é altruísta nem desinteressada, tradicionalmente vê-a como uma ferramenta de propaganda e divulgação.

Deixem o sapo em paz. Aquilo é Arte! Ou não?

47 comentários:

Beto Canales disse...

Muito bem escrito este post. Pouco posso acrescentar, mas, para não perder a chance, afirmo que uma das formas de admitir arte é a falta de função. A arte deve ser disfuncional. E, se admitirmos que o feio (o que é algo muito pessoal) não deixa de ser arte por não representar o belo, o horizonte vai ampliando de maneira geométrica. Enfim, a arte deve ser disfuncional e independe da beleza. Creio ser um quesito a se levar em conta.
Já ando até achando o sapo bonito.

MUMIA disse...

O hitler e seus Capangas chamaram-lhe Arte Degenerada, e esconderam-na para ninguém lhes pôr os olhos em cima.
A Igreja em nome de DEUS quer fazer o mesmo???
Acho que Não pode e não deve.

MUMIA disse...

O meu comentário deveria ter entrado no post anterior.

A Arte serve para deleitar/despertar os sentidos, fazer-nos mais falizes, mais ricos culturalmente...
(E mais Nada!!!)

É Egocêntrico.

É ARTE, É ARTE!!!

Anónimo disse...

"Se fingires que és um génio, serás um génio".

Salvador Dali

MUMIA disse...

Rose: muito boa frase(surrealista?), não conhecia.

Beto Canales disse...

Puxa, não quero ser chato, mas não concordo com Salvador Dali nesta frase.

MUMIA disse...

tihaunaco: coisas surrealistas, principalmente para chocar as mentalidades vigentes;
acho eu.
Só da cabeça do Dali. Dá a ideia que os Génios nascem sómente da força de vontade de cada um. Desconfio...

Anónimo disse...

Não és nada chato, ó titi. Queres ver outra frase que também gosto muito?

"Se eu tiver uma maçã e tu tiveres outra maçã e se as trocarmos, cada um de nós fica na mesma com uma maçã. Mas se eu tiver uma ideia e tu tiveres outra ideia e se as trocarmos, cada um de nós fica com duas ideias".

George Bernard Shaw

(acho que já pus isto aí num blog qualquer já não me lembro em qual foi). Gostaste?

Agora cá batráquios pregados na cruz!!! Ah, poupem-me!!

Beto Canales disse...

A boa e velha história do sapo: ele na cruz deixou de ser o que era pelos olhos dos outros, neste caso agora, há uma diferença no que foi dito e no que foi ouvido, pois provavelmente eu deixei de interpretar, para simplesmente escutar. O "Desconfio..." que colocaste no final, amigo Múmia, valeu o meu dia.

Beto Canales disse...

Rose, simplesmente genial, pra usar o termo em voga.
Uma curiosidade:o que é "ó titi"?

MUMIA disse...

É sómente um Génio Fingido. (???).

João Samões disse...

Performance Arte:

Pioneers 10 and 11, which preceded Voyager, both carried small metal plaques identifying their time and place of origin for the benefit of any other spacefarers that might find them in the distant future. With this example before them, NASA placed a more ambitious message aboard Voyager 1 and 2-a kind of time capsule, intended to communicate a story of our world to extraterrestrials. The Voyager message is carried by a phonograph record-a 12-inch gold-plated copper disk containing sounds and images selected to portray the diversity of life and culture on Earth. The contents of the record were selected for NASA by a committee chaired by Carl Sagan of Cornell University, et. al. Dr. Sagan and his associates assembled 115 images and a variety of natural sounds, such as those made by surf, wind and thunder, birds, whales, and other animals. To this they added musical selections from different cultures and eras, and spoken greetings from Earth-people in fifty-five languages, and printed messages from President Carter and U.N. Secretary General Waldheim. Each record is encased in a protective aluminum jacket, together with a cartridge and a needle. Instructions, in symbolic language, explain the origin of the spacecraft and indicate how the record is to be played. The 115 images are encoded in analog form. The remainder of the record is in audio, designed to be played at 16-2/3 revolutions per minute. It contains the spoken greetings, beginning with Akkadian, which was spoken in Sumer about six thousand years ago, and ending with Wu, a modern Chinese dialect. Following the section on the sounds of Earth, there is an eclectic 90-minute selection of music, including both Eastern and Western classics and a variety of ethnic music. Once the Voyager spacecraft leave the solar system (by 1990, both will be beyond the orbit of Pluto), they will find themselves in empty space. It will be forty thousand years before they make a close approach to any other planetary system. As Carl Sagan has noted, “The spacecraft will be encountered and the record played only if there are advanced spacefaring civilizations in interstellar space. But the launching of this bottle into the cosmic ocean says something very hopeful about life on this planet.”

Information About the Earth and Its Inhabitants Included on the Record Want to know more about Voyager's record?

The definitive work about the Voyager record is "Murmurs of Earth" by Executive Director, Carl Sagan, Technical Director, Frank Drake, Creative Director, Ann Druyan, Producer, Timothy Ferris, Designer, Jon Lomberg, and Greetings Organizer, Linda Salzman. Basically, this book is the story behind the creation of the record, and includes a full list of everything on the record. "Murmurs of Earth", originally published in 1978, was reissued in 1992 by Warner News Media with a CD-ROM that replicates the Voyager record. Unfortunately, this book is now out of print, but it is worth the effort to try and find a used copy or browse through a library copy.

Anónimo disse...

titi é o short do teu nick. Dá muito trabalho escrever tihauacaco...hã...não, espera...titacuaco...ah, também não é...bom, whatever. E já agora, quem foi esse? Um rei maia?

Trocar ideias é essencial. Como diz o Eduardo do Varal "blog sem comentários é monólogo".

Beto Canales disse...

Titi, gostei. Tihauanaco na verdade é um lugar, fantástico, e uma lenda. Dizem alguns que é a cidade mais antiga da terra, com cerca de 12 mil anos. Mas o certo, e que vi, é muito antes de todos os povos americanos, como maias, incas e astecas. Fica a cerca de 70 kms de La Paz, numa altitude de 3600 ms e é um lugar místico, curioso, misterioso, enfim. Fiquei umas duas horas parado olhando para o portal antes de entrar. Este povo, pré-inca, era um povo de artistas. Vê-se pelas carrancas e tipo de construções que possuiam. As ruinas são fantásticas. Outra hora conto em detalhes o pouco que sei.

Anónimo disse...

Podes sempre fazer um post sobre esse assunto.

Beto Canales disse...

Vou fazer hora destas no meu "monólogo" hehe... te aviso.

Silvares disse...

Beto, tenho uma perspectiva algo diferente. Para mim a arte deve ter uma função ou então corre o risco de se tornar algo vazio.
Historicamente, aquilo que hoje consideramos arte, sejam as pinturas rupestres, os paineis religiosos ou a pintura absracta, obedecram a fins muito específicos que interferiram na nossa forma de conceber, pelo menos, o espaço intelectual. Esse será outro óptimo tema de debate: a função da arte... ou a sua ausência!

Mumia, não será apenas para deleite. Olha aquilo que os egípcios faziam. Arte para os mortos, arte para ser fechada em túmulos que, em princípio, mais ninguém veria, por toda a eternidade. É claro que, para eles, o conceito de arte estava a anos-luz daquilo que nós, hoje, pensamos. Ou tentamos pensar.

Roserouge, esse Dali era cá um cromo! Mas a ideia de sermos génios se quisermos sê-lo já vinha com as sementinhas da contemporaneidade. Para entrarmos nete mundo (da arte) temos de engolir uns quantos sapos. Uns verdes, outros com outras cores.
:-)

Samões, quantas vezes produzimos arte para o desconhecido!? Arte para extraterrestres é tão ambígua quanto a que é produzida para terrestres. Completa-se na mente do observador.

Beto, não te esqueças que há quem assista ao monólogo. Nem sempre se encontra o tom adequado para um comentário.
:-)

Beto Canales disse...

Como é bom termos opiniões contrárias. Isso enriquece a todos. Quanto a arte, creio que ela não deva servir a propósito algum, como educar, intimidar, embelezar, enfeiar ou qualquer outra coisa. Na verdade, penso que ela não deva ser usada por ninguém. Num mundo perfeito, eu diria que ela não deveria nem ser vendida, mas aí, claro, fui longe demais. A arte deveria ser como o ar, pra todos, de graça e essencial. O que ela representa para cada um é que faria com que tivesse ou não conseqüência para cada indivíduo. Na verdade, ela não precisa de função. Ela está acima de coisas práticas. ela não precisa de nós. Nós, isto sim, precisamos dela para não sermos caricaturas, não sermos trogloditas. A civilidade é dependente da arte. Por isso afirmo que ela não deve ter função. Talvez ela seja a função.

Silvares disse...

Durante muitos séculos aquilo que hoje chamamos de "arte" não era produzida nem encarada com esse valor. Os "artistas" eram trabalhadores iguais aos pedreiros ou aos cavadores de enxada. Como trabalhavam com as mãos eram desconsiderados em termos sociais. A "arte" era tanto melhor quanto conseguisse reproduzir os modelos. A "arte" baseava-se na cópia. Isto porque tinha funções bem determinadas, normalmente funções que poderemos considerar mágicas. Afastava maus espíritos, garantia conforto na vida para lá da morte, etc. Como tal devia ser cuidadosamente respeitadora das regras que lhe garantissem cumprir a sua função com rigor e qualidade. A arte para fruição do espírito é uma invençao bastante recente, em termos de tempo histórico. Deu os seus primeiros passos apenas na época do Renascimento, o início da Idade Moderna. A arte contemporânea estilhaçou por completo todas as normas e conceitos que tão árduamente foram concebidos até ao final do século XIX. Vivemos temos algo confusos (olha o caso deste nosso sapo!) e cabe a cada um de nós reflectir sobre os limites (ou a falta deles) da arte. Não sei se tenho razão quando digo que a arte deve procurar uma função que a justifique. É a minha perspectiva da coisa, que vou construindo com algum esforço ao longo dos dias que vivo. Uma coisa te posso garantir, ofereço muito do meu tempo a esta reflexão.
:-)

Jorge Pinheiro disse...

Não sei o que é arte e não sei se se tem de ter uma função. Em princípio, acho que sim... Mas arte é o que me emociona. O post está excelente. Muito bem construído e polémico qb.
Quanto à polémica do sapo, claro que é arte. A igreja bem pode dizer o que que quiser. Nós é que podemos não ligar. Quero lá saber que considere blasfémia. Agora tb., em verdade vos digo, o autor só fez aquilo para chatear a igreja. Logo tem uma função; logo emociona-me (embora pouco!).

Claire-Françoise Fressynet disse...

O crucificado esta mesmo com cara para 1 levanta muertos, melhor que cerveja e ovo cozido é mezcal e ovo cru

Jorge Pinheiro disse...

Já agora tb. gostava de ouvir essa história dos pré-Incas.

Silvares disse...

Jorge, o velho Duchamp atirou-nos a coisa para cima. perante o objecto artístico das duas uma: ou pensamos e actuamos ou deixamos estar e não nos chateamos. O melhor de tudo isto é que somos livres de fazer o que nos der na real gana. Não há obrigações nem constrangimentos. resta uma imensa Liberdade.

Claire, o teu comentário fez-me abrir um largo sorriso.
Prazer em rever-te.

Anónimo disse...

Silvares,

post bom é assim, gera debate, troca de maçãs, digo idéias, e deixa de ser monólogo, como disse a Rose. Mas, quero deixar aqui minha definição do que é arte: tudo aquilo produzido por um artista!
Ora, padeiro faz pão, oleiro faz tijolos, e nunca ninguém objetou os pães ou tijolos desses profissionais. Por que teremos o direito de contestar o trabalho do profissional das artes?
É isso o que penso.
E essa definição explica porque um urinó a venda numa loja de louças sanitárias, não é um objeto de arte e o do Duchamp, ao contrário, é! Porque ele o assinou! E ELE era um artista!
Logo, o sapo verde é arte. Se gostamos ou não é outra história, que vamos deixar para outro comentário.

Silvares disse...

Eduardo, simples e directo. Perfeitamente verdade, digo eu, estou de acordo consigo. Mas essa definição, tão aberta e sincera, só é possível num mundo onde a liberdade é o valor máximo. É por esse mundo que importa lutar, mesmo que seja uma luta suave.
:-)
Abração.

Silvares disse...

Jorge, os nossos comentários caíram quase em simultâneo. Já visitaste o blogue do Beto, cinem e Bobagens? Talvez esteja lá essa história... ou venha a estar.

Beto Canales disse...

Platão: Arte é a aparência de uma aparência.

Nietz: Morreríamos todos loucos se não houvesse a arte.

Sabe o que concluo com isso? Temos todos razão. Mais um benefício desta mãe poderosa: a bondade. De onde tu olha, de como tu olha, por que tu olha: tudo pode mudar. Uma coisa que não podemos esquecer nunca: dependemos da arte, seja ela funcional ou não.

Em breve (vou pesquisar mais e mais) algo sobre Tihauanaco.
Obrigado pela oportunidade de acesso a tantos saberes.

Anónimo disse...

Silvares,
dois posts com muitas vertentes para comentários, ótimo.

O papa não é pop, e no caso, estava cuidando de seu rebanho, que anda cercado pelos lobos da brasileira Igreja Universal do Reino de Deus ( se Universal, em breve mais um templo em Plutão, com as devidas caixas de donativos ), e de outras novas religiões neo-pentecostais ( surgiram às pencas por aqui, cada uma com um nome melhor que o da outra ).
Deixem o Papa em paz. Ele nem ameaçou o artista ( católico ? ) com a possibilidade de excomunhão, que hoje assusta pouca gente. Aliás o último evento papal que provocou algum alvoroço, era saber se ele usava Prada ou não.

A arte hoje tem um conceito bastatnte elástico, e midiático, porque elásticas, e midiáticas, ficaram as idéias.
( intervalo para meditação, que obra de arte moderna tem um público como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina ? )

Quanto ao sapo, que coisa horrorosa. Eu o espetaria num brejo, como se fosse um espantalho, para assustar pássaros que vão lá caçar minhocas.
Humm, mas é arte. Fazer o que ?

Luma Rosa disse...

Pablo Picasso disse: "Arte não é uma verdade. Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade."

Minha mama faz sapos mais lindinhos com o seu artesanato. Álias, quando ela viu esse sapo medonho, logo disse: "Taí um diferente - O artista que o fez, fez num momento de crise existencial?"

Hum...o ovo é símbolo da origem da vida e todos os bêbados sentem-se deuses ou amaldiçoados. Sei lá, dá pra pensar. Também se não fosse um sapo, fosse um homem iria existir polêmica? Daqui um tempo quando a polêmica passar, este trabalho terá algum valor?

Eduardo, não podemos contestar o trabalho do profissional das artes, de nenhum profissional e citando uma outra frase "Fazer dinheiro é arte e trabalhar é arte e um bom negócio é a melhor forma de arte." Andy Warhol

*Eu adoro frases e gostei das que li aqui!

Bom fim de semana!!

Anónimo disse...

Rui: a minha opinião é o que sinto.
E a atracção tb pode acontecer pelos opostos, pelo que nos é estranho, diferente,...
A Arte Egípcia tem imagens muito apelativos, a sua função, já são outras histórias.

Olaio disse...

Já percebi que a arte não é uma “coisa”, quanto muito podem ser n "coisas", entre as quais provocação. Provocar o gosto instituído, provocar o regime, provocar o Dantas,…
Aliás a provocação transformou-se numa arte quase de excelência, com o desenvolvimento da politica.
Depois é preciso perceber que não é fácil um artista arrancar uma palavra que seja de elogio ou de condenação, por parte do Papa, contam-se pelos dedos de uma mão, aqueles que o conseguiram.
Por outro lado, será fácil fazer hoje em dia uma qualquer representação da crucificação que não obtenha como comentário a frase: “Olha cá está mais uma”?
Pelos vistos esta imagem como provocação e incómodo, até funciona.

Anónimo disse...

Luma,

o Andy Warhol foi um artista que entendia de negócios e fez da arte um meio para faturar milhões de dollares! Nada contra quem faz dinheiro com a arte. Em todas as profissões alguns ficam milionários e a grande maioria sobrevive modestamente, como nas artes!Mas nada tem com a qualidade. Sucesso comercial nem sempre esta ligado a sucesso de crítica ou de boa arte!
Mas vamos parar por aqui. O espaço é do Silvares!

Anónimo disse...

Hoje cheguei aqui e vi 32 comentários. 32 comentários, Silvares? Porra meu, ganda freguesia! Sim sanhora!!!!!!

(o Lux ontem estava óptimo, saí de lá às 7 da manhã, um horror!)

Anónimo disse...

Só para acabar acho que foi também Andy Wharol que disse: "A arte é o negócio supremo".

eheheheh...

Eu amo a Pop Art.

Silvares disse...

Beto, tem razão. Todos temos razão, por isso somos racionais. Por vezes podemos perder a cabeça, mas isso é outra história!
:-)

Peri, quando o assunto é arte todos temos algo a dizer. Quanto ao Papa, não é personagem que me seduza. Muitos de nós esquecemos que a Igreja Católica, no seu início, foi uma seita como a IURD e outras patranhas do género. Afinal negoceiam todos no mesmo ramo. Veja como a a arte se tem afastado da Igreja, nos nossos dias.

Luma, essa frase do Picasso é muito boa. Utilizo-a com alguma frequência nas minhas aulas de História da Arte. Esse sapo é provocação pura e dura.

Olaio, olha que essa mão tem mais dedos que nós os dois juntos. Nas mãos e nos pés. Este sapo provoca mas pode ter sido um simples desabafo!

Mumia, há imagens que nos seduzem, outras não dizem nada. Vê lá essa cena da arte egípcia, fechada no fundo de um buraco e repleta de magia...

Eduardo, o espaço é de quem nele se manifesta. Aqui não há dinheiro em jogo, é totalmente livre!
:-)

Roserouge, poucos temas poderiam permitir tantos e tão variados comentários como este. Realmente a troca de comentários foi muito interessante. Um Lux(o).

Anónimo disse...

Brilhante, Silvares!

Olaio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Olaio disse...

Parece que a igreja anda mesmo com um problema com a arte, vejam este post referente a uma noticia que junta, a Playboy, a igreja, o Brasil e as fotos de uma tal Carol Castro.

http://samuel-cantigueiro.blogspot.com/2008/08/playboy-sim-mas-nada-de-tero.html

Anónimo disse...

A verdadeira arte se presta a si mesma isto é, a arte pela arte (ARS GRATIA ARTIS) Teoria que postula a autonomia da arte, isto a noção de que a arte deve ter como único objetivo proporcionar prazer estético, alheando-se de quaisquer outros fins ou valores, portanto não necessita de temas para ser exteriorizada.
A curiosa idéia de que a arte não está a serviço de nada a não ser de si mesma é relativamente recente Os conceitos da arte mudaram como tudo muda com o tempo, com o aprimoramento e o entendimento do todo que envolve a própria vida.
Como escreveu Kazimir Malevich : A arte de hoje não deseja servir ao Estado e a Religião, não mais quer ilustrar uma história dos costumes, não mais quer saber do objeto (como tal) e acredita poder existir por si, independentemente da coisa livre, portanto, “da fonte de vida provada durante tanto tempo”)
Não basta adquirir pincéis e tintas e sair por aí a dizer “eu sou um artista”, vou pintar uma montanha porque gosto dela, expurgar meus pesadelos expressando algo surreal, fazer o retrato de alguém, ou melhor: copiar a aparência de algo já existente.
Arte é criação, é um processo mental e a obra de arte está no espírito do artista.
Oh, poupa-me a visão dessas impropérias em nome da arte, poupa-me o confronto ante tamanha bestialidade, dessa como a do artista do “sapo verde”, com sua infeliz peça de artesanato nascida de uma crise existencial e altamente individualista que insulta o real sentido da arte.
E... nem vou perder tempo me estendendo a interferência da Igreja ao tomar partido defensivo. É mais um escárnio.
Um abraço Silvares.

Beto Canales disse...

Parabéns, Elma. Foste muito feliz em teu texto.

... disse...

Hoje eu almocei uma lagosta grelhada na brasa, arroz com finas ervas e um purê de mandioquinha acompanhado de um belo Calamares branco . Amanhã vou passear de bicicleta.
Aßs a todos.

Olaio disse...

Elma, a "ideia de que a arte não está a serviço de nada a não ser de si mesma", não é mesmo nada recente já vem, pelo menos, desde o séc. XVIII.

“Baumgarten é um dos primeiros filósofos a considerar a arte como uma esfera independente da moral e do próprio prazer, cabendo-lhe o mérito da criação do vocábulo estética em 1750. Ao publicar A Crítica do Juízo em 1790, Kant contribui também para a mesma ideia, já que acentua o carácter específico do sentimento estético que, segundo afirma e ao contrário dos outros prazeres, mostra ser desinteressado. Ainda na Alemanha, Schelling e Hegel consideram não ser necessário atribuir à arte quaisquer propósitos. Não surpreende, pois, verificar que a expressão “Arte pela Arte”, cunhada por Benjamin Constant em 1804, seja utilizada com grande frequência pelos românticos alemães.”

Anónimo disse...

Pois então Olaio , a partir dessa década, falar de Arte pela Arte significa falar de esteticismo. O sentido da idéia veio bem antes com Platão - 428 ou 427 a.C.
Platão havia escrito sobre as formas geométricas em Filebo:
“Pois digo que tais coisas são belas não em relação a outras coisas. São natural e permanentemente belas em si e por si mesmas, proporcionando certos prazeres produzidos pelos estímulos físicos. As cores desse tipo são igualmente belas porque possuem o mesmo caráter e reproduzem os mesmos prazeres”.
O “recente” vem em relação a analogia semelhante dos aprofundamentos filosóficos feitos por Baumgarten e Kant
Abçs

Anónimo disse...

Estou contigo, Fernando Zanforlin. Que saco de conversa, já chega, foda-se!

Ana disse...

Muito boa a ponderação. Se não houver liberdade de expressão, não há arte de verdade. A arte não pode aceitar limites, o próprio Deus concedeu ao homem a liberdade, quem é o homem para querer limitar a criação? Nem tudo que vejo, mesmo concebido como arte me é entendido assim e não deixa de ser arte por isso. Arte precisa de questionamento, expressão livre, sair dos limites..isso não deveria ferir brios quaisquer. Muito boa a pincelada dada na análise da validação da arte, evolução histórica, conceito e achômetro.
Ah, eu mesma detestei o sapo, podia ter ficado na casa do artista (se morto, enterrada com ele) mas, teria passado desapercebido se não fosse esse movimento de indignação religiosa a elevar esta escultura devido à polêmica criada. Essa postura justiceira e moralista é que revolta e ofende.

Silvares disse...

Ramiro, obrigado, sinto-me lisongeado.

Olaio, mais uma história de intolerância.

Elma, há diferentes perspectivas sobre a natureza e, por extensão, sobre o papel da arte. A arte pela arte corre o risco (será um risco?) de enviar a arte para um plano exterior ao da sociedade humana. Não vejo problema em pretender intervir socialmente através da criação artística. Penso que há espaço para diferentes modos de praticar a arte e não existe uma visão única que domine as outras. Muitos pensadores reflectiram sobre o que é a arte e chegaram a diferentes conclusões. Penso que devemos procurar por nós próprios a resposta que melhor se adequa à nossa forma de estar no mundo.

Fernando, tal como disse no comentário às palavras da Elma, cada um deve procurar a melhor forma de se relacionar com a beleza e com a forma artística!
:-)

Ana Ding, dizes bem, a liberdade individual será uma das formas mais interessantes de procurar a arte. Este sapo verde, se outras qualidades não tiver, proporcionou uma boa reflexão a todos nós. Imagino que não tenhamos sido os únicos a beneficiar desta situação.

Roserouge, tem lá calma. Pronto, ponto final na conversa do sapo. Acho eu.

... disse...

Gosto muito de queijos, não gosto de ficar perto de quem come muito alho, mas de quem usa 4711 não me importo.
Aßs a todos.