Saíu hoje no Público um artigo sobre Rosa Ramalho. Recordar o trabalho extraordinário dos ceramistas populares cá da nossa terra é uma atitude louvável. O bestiário maravilhoso criado por estes artistas é de uma riqueza invulgar e remete-nos muito mais para a época medieval do que para o imaginário surrealista, como é sugerido no texto do artigo acima referido.
Sendo artistas verdadeiramente populares, muitas vezes analfabetos, a sua cartilha iconográfica terá sido a do imaginário religioso e não a de um movimento muito mais urbano e intelectual, como foi o Surrealismo.
Basta olhar para as sublimes formas criadas pelas mãos de Rosa Ramalho para ali reconhecermos os traços fundamentais da escultura românica seja na desproporção anatómica das figuras ou na criação de estranhas monstruosidades compósitas, tal como era hábito e costume nos capitéis das igrejas medievais. Isto apesar da história da cabra de Picasso referida no texto e que se trata de uma contaminação evidente do imaginário original.
Seja qual for a inspiração das criações dos oleiros populares portugueses do século passado, o que é um facto é que as suas peças possuem uma força telúrica única, uma genuinidade que entretanto foi desaparecendo.
Nos dias que correm é cada mais difícil encontrar este género escultórico à venda nas feiras por esse país fora. Os diabos, os cavaleiros e os padres foram substituídos por jogadores de futebol foleiros e mal amanhados, com grandes pilas que saltam detrás dos galhardetes dos respectivos clubes e peças religiosas de um kitsch que faz doer.
Sinais dos tempos. Agora é tudo made in China. Com um pouco de sorte serão made in Taiwan.
7 comentários:
Silvares,
tudo bem, lindo o trabalho dela. Oportuno seu texto, mas HOJE é dia de ÁGUA!rsrsrs!
Forte abraço,
Realmente é lindo.Se deixar à vontade o nossos impulsos compraríamos tudo.
Rosa Ramalho que nasceu com esse dom para esculpir bonecos. Muito bom!
A sabedoria popular é genial e genuína, e sempre com bom gosto.
Como o folclore que nunca é piroso, nem kitsch.
Adoro as roupas, as cores e as formas dos ranchos. As antigas roupas do campo e do tra balho rural. É BONITO.
Eduardo, esta postagem foi colocada depois da meia-noite, por isso aparece com data de 15 de Agosto. Aí em cima esta a minha aguarela para a Tertúlia.
Magui, infelizmente este tipo de figuras que eram fáceis de encontrar nas feiras hoje são raras e tornaram-se peças demasiado caras.
Jo-Zéi, um espectáculo estas esculturinhas. Top class!!!
Imaginação em grande.
Fantasmas da vida no campo,
ou CAMPÓNIA.
No princípio dos anos 70 tive uma loja de artesanato em Paço D'Arcos. Andava pelo país de carrinha atrás de peças minhotas, algarvias, transmontanas... Por isso conheço o país tão bem! Tive o prazer de comprar peças a esta senhora, já em fim de vida, bem com à Rosa Côta e ao Mistério. Ainda guardo religiosamente algumas que não cheguei a vender. UM dia faço um post. Gostei de recordar!
Fico à espera desse post. Esta é uma arte (quase) perdida. Chamavam-lhe artesanato... e agora?
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