Afinal Santa Madre Teresa de Calcutá sofria mais com o silêncio de Deus que com as misérias que tão corajosamente encarou e combateu. A mulherzinha deixou registos da solidão sentida nos momentos de oração perante a falta de resposta do eventual Criador às suas preces. Isto foi notícia aqui há uns dias atrás e terá deixado muita gente perplexa, à beira de um estado de estupidificação absoluta.
Aguardei algum desenvolvimento deste tema, alguma declaração. Um esclarecimento, uma luzinha que pudesse incomodar a treva desse lugar de ausência assustadora, algo que restituísse a possibilidade de estar a santinha enganada ou, mais simplesmente, uma prova de que havia apenas alguma distracção da parte do Criador. Mas nada. Na verdade Madre Teresa bem tinha razões para se inquietar. À sua constatação do silêncio de Deus podemos ouvir como resposta apenas mais silêncio. Mas eu sou um gajo distraído, se calhar já alguém veio explicar o caso e fui eu que não me apercebi.
A igreja católica tem andado numa azáfama pouco habitual a beatificar pessoal a torto e a direito. O próprio Papa João Paulo II já está na fila e quase chegado à caixa registadora onde lhe será entregue o recibozinho que comprova ter pago conta suficiente para passar a ser considerado Santo. Tudo em nome de Deus. Tudo para recompensar aqueles que O serviram e confortar os que por aqui ainda vão acreditando que, ao serem boas pessoas, O estão a servir também.
Madre Teresa foi uma mulher excepcional. Se a santidade faz algum sentido decerto se lhe aplica com a justeza de uma luva plástica em mão de cirurgião. Daí que a sua dúvida perante a voz calada do Senhor cause mais incómodo que as fatiotas de luxo do Papa Ratzinger e não mereça fazer eco nos meios de comunicação social generalistas, muito menos naqueles que são controlados pela Santa Madre Igreja.
Fica a sensação que "vida é souvenir made in Hong Kong" como diz a canção de Zeca Baleiro, fabricada por trabalhadores miseráveis, sem direito a segurança social e com mais calos no cérebro que nas palmas das mãos.
5 comentários:
olá Rui aproveito para quebrar o silêncio.
Obrigado pela tua nota de link do teu sítio ao meu.
Esse luminoso pequeno cordeiro do Zurbaran,é para mim uma das pinturas mais arrebatadoras da selva iconográfica do Prado.Abraço.Samões
Silvares, tens razão no tocante à Madre, às vesperas de ser santificada!
Gostei de algumas das novas 100cabeças.
Fiquei sabendo de quem o cordeiro que amarrado a tanto tempo espera por Zurbaran, pelo visto seu dono.
Postei hoje uma palestra do Bill Gate que acho que vc gostará! Simples e cheio de sabedoria. Burro, ele não é!
gosto das novas cabeças.
viva a madre Teresa, esta já nasceu
santíssima.
João, o silêncio é para ser quebrado mesmo quando dá para ouvir um hipopótamo cantar :-)
Eduardo, se a Madre tem dúvidas... esse Billy tem uma perspectiva algo estranha das coisas mas parece ser bem intencionado!
Jo-Zei, a Madre Teresa terá nascido santíssima mas foi mais depois de ter esticado o pernil que essa condição lhe foi reconhecida. Há poucos santos em vida!
sempre muito polémica, principalmente pelos olhos da igreja católica. Agora já esqueceram tudo...
Enviar um comentário