sábado, setembro 08, 2007

Arguido

Em termos de exposição para a opinião pública, a figura jurídica do arguido é uma valente merda! Sempre que decorre uma investigação ou existe uma queixa sobre determinado indivíduo e sobre ele cai nem que seja uma leve sombra de suspeita, temos um arguido. Ou seja, na realidade um arguido está, à partida, tão inocente como no momento em que a mãe o deitou a este mundo. Um arguido está longe de ser acusado do que quer que seja. Ser arguido num processo judicial é assim como estar no Purgatório. Nem no Céu muito menos no Inferno. A merda é que, para a opinião pública, existe alguma confusão entre arguido e acusado e, muito pior, muito mais merdoso, entre arguido e culpado!
Os meios de comunicação muito contribuem para esta salsada ao atirarem grandes títulos, gordos e tonitruantes, para as primeiras páginas. FULANO DE TAL FOI CONSTITUÍDO ARGUIDO NO PROCESSO!!! Pronto. Está frito, cozido, assado e escalfado! É como se não houvesse mais nada a fazer senão decidir a cor do fato que irá usar na prisão. A confusão instala-se, a populaça aparece de imediato, saída de debaixo das pedras da calçada, ululante, reclamando aquilo que imagina ser Justiça: o linchamento do arguido.
O célebre casal McCann, pais da pequena Maddie, desaparecida vai para demasiado tempo na Praia da Luz, foram constituídos arguidos no processo de averiguação que desde então decorre por estes lados. Outrora apaparicados por uma opinião pública chorosa, amável e compreensiva, Kate e Gerry foram apupados pela turba quando se dirigiam para as instalações da polícia, a fim de prestarem declarações. Não foram acusados de nada. Apenas passaram de testemunhas a arguidos o que lhes dá outro tipo de direitos nos interrogatórios em curso. O sistema judicial é demasiado confuso e complexo para um leigo como eu.
Na verdade estou-me bem a lixar para todo este processo, mais circense por via do mediatismo que ganhou, do que coisa séria e seca como devia ser um processo judicial discreto e circunspecto. O que me impressiona é a facilidade com que a populaça muda de opinião e atitude, ao sabor das nuances mediáticas e transforma com ferocidade os seus herois em vilões por dá-cá-aquela-palha. Espero que nos fim de toda esta feira mediática de aberrações impossíveis, sobre alguma margem para que se faça Justiça. E, já agora, caso seja possível, que prevaleça qualquer coisa parecida com a Verdade.
Até lá, deixemos os arguidos em paz.




3 comentários:

João Dias de Carvalho disse...

Sem dúvida, arguido não é suspeito e muito menos culpado mas,continuam a existir mais perguntas e quase nenhuma resposta.

Sem querer realizar qualquer processo de intenção ou acusação, desde o primeiro minuto que a história de rapto me parece muito mal contada.

Se esta se revelar a verdadeira ainda bem pois há uma possibilidade da criança estar viva e da crença social se manter...

Outra verdade, será um incrivel golpe nos valores da humanidade.

Espero, sinceramente, estar errado.

Anónimo disse...

Que caso complicado, hem??

Silvares disse...

Caro João, tem-se falado tanto, especulado tanto, têm surgido tantos especialistas na matéria, tem-se rezado tanta missa, feito tanto apelo que já começa a parecer que a questão central já não se prende com a pequena Maddie.
Podes crer Eduardo, a questão central, agora, parece ser o circo montado à volta desta história toda. Já deixou de haver afastamento que permita reflectir sobre o caso. A confusão instalou-se e não vejo como vai contribuir para resolver todo este imbróglio.