Rever filmes que nos deixaram a sensação de serem objectos cinematográficos relevantes é um desporto altamente recomendado. Rever Se7en, de David Fincher, é uma atitude algo temerária. Trata-se de um filme excelente sob todos os aspectos. Um filme terrível!
Revi-o ontem à noite em DVD que recolhi na Biblioteca Municipal, uma edição da Série Y que saiu com o jornal Público. É uma edição de fraca qualidade que não respeita na íntegra o formato da imagem mas, enfim, um gajo sempre pode fazer olhos de consumidor e fingir que não repara.
Embora tenha visto o filme apenas na altura em que passou aí pelas salas de cinema, recordava muitas cenas com um rigor fotográfico que me surpreendeu. Isso mostra até que ponto Se7en se me cravou fundo no cérebro e passou a fazer parte da minha memória individual.
Mais do que a violência explícita de algumas imagens, Se7en impressiona pela violência implícita, aquilo que não vemos muito bem mas podemos intuir pelas expressões dos actores ou pelas suas reacções em determinadas cenas.
O momento mais brutal em todo o filme, aquele momento marcante que me deixou a pensar na vidinha, é quando os detectives transportam o assassino no banco traseiro de um carro, separados por uma rede, como quem transporta um animal selvagem e o mais jovem o acusa de matar inocentes. Então o animalesco John Doe (Kevin Spacey) debita um discurso verdadeiramente atroz e cruel. Animado por uma lógica inumana e implacável mostra como todos nós somos tudo menos inocentes e, como tal, na sua perspectiva enviesada do mundo e das pessoas, todos somos merecedores dos mais atrozes destinos, como o foram as suas vítimas.
Depois as cenas finais, em que o argumento fecha num grande final delirante de maldade e violência interior de forma sublime e simplesmente brilhante.
Uma obra prima. A rever.
4 comentários:
Vou "tentar" faze-lo! Acho que não cheguei nem a ver...
Vale a pena a experiência.
[excelente mesmo... tb foi um daqueles que me ficou;
Revê-lo, na tv, não foi uma desilusão... pelo contrário, já não me lembrava como era tão negro, desconcertante e perfeito aquele final...]
abraço
p.s.
a despropósito, viste o recente "zodiac"?
Absolutamente uma obra-prima. Também só o vi uma vez — há muuuitos anos quando foi estreado no cinema — e é dos poucos filmes que retenho na memória com uma frescura como se tivesse sido ontem.
Cenas que tenho muita vontade de rever. (vou ali fazer uns downloads da net e já volto...) ;)
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