quinta-feira, maio 25, 2006

O balde

Todo o estardalhaço mediático a propósito do livro de Maria Carrilho, o Manuel, mostra bem a natureza daquilo que está em causa. É tudo uma questão de marketing.

Ficámos a saber que as candidaturas a cargos políticos vivem tanto das campanhas organizadas por agências de publicidade quanto o azeite Galo ou o Mateus Rosé. Todos querem chegar ao grande público dê lá por onde der, seja como fôr. Os publicitários, desde que haja dinheirinho, fazem o seu trabalho com empenho e seriedade vestino a camisola do momento não importando qual a que trazem por baixo. Carrilho, no trôpego debate do Prós e Contras na RTP1, chegou mesmo a falar em mercenários, como se nunca tivesse recorrido aos serviços desses profissionais da venda a retalho.

Ainal de contas não há surpresa nem espanto em relação a este facto. A nossa sociedade não é um "Capitalismo Demo-Mediático"? (o "Demo" é de democracia e não relativo ao "chifrudo") O que não tiver visibilidade mediática é como se não existisse, a Democracia só existe nos écrãs da TV e o Capitalismo compra tudo, compra os écrãs, os políticos e as empresas de tratamento e comercialização de imagem.

Só não percebo muito bem é se Carrilho não vê o mundo em que vive e no qual pretende protagonismo e visibilidade. Ele, que é um tipo inteligente, decerto compreende na perfeição as linhas com se cose. Após ter entrado no mecanismo da imagem mediática, o indivíduo tende a ser mastigado, mastigado, ensalivado e, uma vez perdido o sabor, cuspido para o baldinho dos escarros. Carrilho já nada no baldinho mas teima em não aceitar essa situação, mesmo que seja transitória. Vem agora com arremedos de virgem ofendida justificar a derrota nas autárquicas com campanhas organizadas contra a sua pessoa e respectiva família no tenebroso mundo mediático. Ninguém se acredita que o filósofo seja tão inocente e tão canhestro ao mesmo tempo que não tenha ainda percebido que jogando com as mesmas armas do adversário, se foi derrotado, talvez tenha sido culpa própria.

Não deixa de ser estranho que tenha tido ao seu lado, no tal debate da RTP1, um tipo que em tempos afirmou que vender sabonetes era mais ou menos o mesmo que vender presidentes da República. Ironias do destino neste mundo virtual que, por o ser, não chega a existir para lá de si próprio. Esta historieta toda junta não vale os escarros no balde.

2 comentários:

Unknown disse...

O problema do carrilho foi a sua mediatização pela imprensa cor-de-rosa, através do seu casamento com a locutora de televisão. O Pacheco brilhou mais uma vez pela sua clareza de espirito. Só quem quer ser o filósofo popular, correio da manhã, caras e novas gentes é que escolhe uma capa com a sua cara. O António Maria Narciso...

Anónimo disse...

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