"Dizem-me que Vossa Excelência segue os ensinamentos de Jesus e acredita na promessa divina do reinado dos justos. O regresso à palavra divina dos profetas é o único caminho para a salvação. Aceitará este convite?" Segundo o Público, esta é uma passagem da carta enviada por Mhamoud Ahmadinejad, presidente da república Islâmica do Irão, ao seu inimigo figadal George W. Bush.O que terá passado pelo cérebro de Bush ao deparar com estas palavras tão amenas? Haverá realmente um caminho para a salvação? E o que quer salvar o iraniano? A sua alma, as nossas almas, apenas as almas dos adeptos do Islão? A coisa é grave.
A religião tenta regressar ao lugar do piloto que conduz os destinos do mundo. Seja pela mãozinha marota da Opus Dei ou pela beiça melada de Ahmadinejad, o canto da sereia volta a ecoar pelos 4 cantos do planeta a prometer a salvação, o paraíso e mais que se deseje que a coisa também se faz por encomenda.
O problema é que (Ahmadinejad também refere isso na sua carta) aquilo que designamos por Democracias Liberais, com toda a sua lógica depositada na livre concorrência, essa face luminosa do capitalismo selvagem, têm vindo a desiludir em todo o lado por não resolverem os problemas sociais que vão gerando e ampliando por esse mundo fora.
A exportação forçada do "nosso" modelo político e social tem gerado as maiores abortices materializadas em regimes muito baços e pouco recomendáveis. Os problemas reproduzem-se e não se vislumbra quem tenha vontade de encontrar verdadeiros antídotos para os diferentes venenos que vão atirando o Ocidente para o cantinho do descrédito. O Humanismo é cada vez mais difícil de explicar aos putos, nas aulas de História. Não percebem do que se está a falar.
A via religiosa lá vem, regressando do fundo dos tempos, uma perninha já fora da zona de sombra, a mostrar vigor e força para andar. Adivinha-se o monstro que lá vem, mas estamos demasiado ocupados a discutir se Deus é o Dolar ou se poderemos considerá-lo deposto pelo Euro, essa jovem divindade ascendente.
Quando dermos por ela, regressam os velhos deuses que, como sempre fizeram, se alimentam dos que presentemente adoramos.
E se são gulosos!
Tá bonito, tá!
2 comentários:
Alô, Silvares!
A malta não lhe apetece comentar este post, mas visto seres tu e dado o meu cristianismo, comece-se o desbaste para o debate ou não…
Ora, ontem fui a uma conferência entediante como o raio, em que se explanavam teses que deixam a realidade intocada (todo o ponto de vista teórico só tem interesse quando transforma olhares e significados) e saí de lá meio aborrecido, e talvez por isso, e para ter algo para folhear enquanto jantava sozinho numa das sobreviventes tascas de Lisboa, gastei 6, 5 euros (estava mesmo entediado, eu que até ando mais para o teso do que para o endinheirado…) numa revista onde deparei, enquanto mastigava o meu repasto, com este providencial trecho: “Toda a minha vida, fui assim abalroado pelos dois extremos do universo vivo, que são o mistério insondável da beleza e o fenómeno do mal. Não se pode combater o mal sem segurar estas duas pontas, sem procurar a verdadeira beleza e exaltar a sua profundidade, a sua delicadeza. É porque ela existe que o homem se agarra tanto a esta terra e recusa morrer. A nossa consciência é a beleza, que justifica o universo e até a nossa existência, e faz com que cada instante possa ser uma manhã do mundo.” É dum tipo que não conheço, François Cheng, um chino-francês (nasceu na China e foi para Paris estudar aos vinte anos, onde ficou até hoje em que está com setenta anos…) e que tratarei evidentemente a partir de agora conhecer…
Tentar pensar directamente o mal dói muito.
Reconciliar-se com uma vida terrível dói muito. Uma vida onde crianças de três anos morrem com leucemia, onde se perpetuam genocídios, onde a mentira é apanágio das relações sociais e políticas… O sentido da vida é de certo modo impossível (é o que permite um filme como o dos Monty Pithon acerca do assunto…) e só é pensável como gratuito, no sentido radical, como incompreensível justificação.
Não estou evidentemente a dizer que a beleza justifica o mal… Passa-se que ambos nos são dados na sua inconciliabilidade. Não são só pores do sol, também a justiça e a verdade (enquanto não-hipocrisia, enquanto mantimento de compromisso, etc) fulguram aqui.
Como é possível conciliar a beleza e o mal? E no entanto pois, repita-se, na vida é o que acontece, estamos imersos em ambos, por vezes deslumbrados. E não compreendemos muito bem, não nos compreendemos.
É aqui que se dá o sentido e não-sentido do anseio pelo divino (transcendente ou imanente, monoteísta ou politeísta…)
Por outro lado, a categoria de verdade, que tem o seu esplendor formal na arte, na religião, na ciência, é muito problemática quando usada politicamente, isto é, na gestão do espaço multi-tudo em que vivemos…
Aqui começaria ;) o comentário ao teu post, sob os eixos do anseio religioso, do político e do mal…
Mas para começo, chega e chaga ;)
Abraços.
PS: Então e esse jantar com o Tota e aqui com a mácula, vai ou não vai?
www.paredesdecoura.com
Enviar um comentário