sábado, agosto 25, 2007
Fazendo a digestão
Há momentos em que a fronteira que separa o mundo visível daquilo que o rodeia parece abandonada à nossa sorte. Por vezes acontecem coisas incompreensíveis ou inacreditáveis, coisas tão fantásticas que abalam as nossas crenças mais enraízadas, pondo em causa a certeza de que existe uma realidade comum a partilhar entre todos, regida pelas leis da Física, da Química, da Matemática e de outras ciências que de exactas guardam o nome e, talvez, pouco mais do que isso.
Quando a alfândega da tal fronteira fica vazia, nem que seja por um momento apenas, fantasmas, sonhos e outras bizarrias aproveitam para se esgueirar discretamente fazendo-nos visitas de todo inesperadas e que nos levam a estremecer num arrepio de frio que logo se transmuta em calor e incómoda transpiração. O que aconteceu? Nada de especial, se bem que extraordinário. Apenas as fronteiras do mundo foram violadas e o nosso cérebro, habituado a encarar a realidade como sendo algo mensurável e razoavelmente explicável, fica confuso na busca instintiva de uma explicação para algo que, segundo as regras deste lado da fronteira, pura e simplesmente não tem qualquer tipo de explicação.
Nestes momentos de angústia em que nem o padre nem o cientista têm respostas que nos satisfaçam e apontem um caminho redentor, entra em cena o poeta que, sem explicar nada, nos coloca perante uma possibilidade nova, uma imagem improvável e perturbadora que, quanto mais não seja, tem o condão de nos sossegar.
Há quem diga que a salvação da alma não está na religião nem na ciência mas sim na arte. Como poderemos saber? Há também quem ponha em causa a existência dessa alma. E de Deus. E da ciência.
Fico por aqui. O guarda da alfândega regressou ao seu lugar. Acabou a sua hora de almoço. É tempo de fazer a digestão.
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2 comentários:
Maravilhoso texto. Vai para o Varal.
Bom domingo.
PS- A ilustração diz bem dos limites da fronteira, e da alfândega!
Obrigado Eduardo.
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