Peguei num post que tinha deixado por aqui há uns dias e escrevi esta carta ao Director do Público que já é quase um amigo, tantas são as que lhe escrevo!
Ressuscitar um fantasma
Saiu no Público no dia 15 de Março (página 11) uma noticiazinha assinada por Isabel Leiria com o sugestivo título: Estudos e ocupação dos pais determinam acesso ao superior. Ao longo de duas singelas colunas a jornalista cita um estudo de duas investigadoras que se deram ao trabalho de evidenciar uma evidente evidência: o acesso da juventude portuguesa ao ensino superior continua relacionado com as habilitações académicas, o rendimento e a ocupação (profissional ou outra) dos pais.Só mesmo quem tenha passado uma temporada valente a viajar pelo espaço exterior em busca de vida inteligente para lá da Colunas de Hércules poderia imaginar que a democratização, encetada após a revolução de Abril de 1974, havia esbatido em definitivo o fosso que separa o castelo dos mais ricos da rua mal calcetada dos mais pobres. Nem em sonhos.Não só temos vindo a assistir a um alargamento daquele fosso como parece estar cada vez mais profundo. A pobreza manifesta-se das mais variadas formas e a de espírito também entra nestas contas. Note-se que a simples condição económica não se traduz em elevada capacidade académica. É necessário juntar-lhe uma capacidade cultural ligeiramente superior à média (pelo menos) que entre nós nem sequer é particularmente elevada.Sendo assim, as classes dominantes continuam a dominar e as dominadas debatem-se com a ferocidade possível para saírem do buraco onde tendem a afundar-se. Se a via académica rebentar, podem sempre tentar a via mediática através de um Big Brother qualquer e aparecer nas capas das revistas chunga, mas isso é tão efémero como um peido de cão.
A sociedade que estamos a ajudar a construir não tende para o equilíbrio nem é esse o objectivo da coisa. Talvez a maioria dos cidadãos acredite na possibilidade de encontrar uma fórmula mágica que nos permita reduzir o tal fosso entre a riqueza ostentatória e a indigência vegetativa, mas, por muito que se consiga reduzir, será sempre um fosso imenso e aparentemente injusto. Anda por aí uma minoria silenciosa que vai acautelando de forma sistemática os seus interesses e mantendo a segurança dos palácios que habita.
A Educação constitui uma via possível para encurtar tais distâncias. Os socialistas utópicos do século XIX viram na generalização do ensino público uma ferramenta decisiva para a promoção da mobilidade social e a aposta dos sistemas democráticos nesse sentido é mais que uma obrigação, é quase uma fatalidade! A utopia social democrática esbarra violentamente no muro intransponível que o capitalismo selvagem constrói em volta dos seus interesses desumanos. Ao permitirmos que a Economia fosse elevada à categoria de divindade suprema perdemos o controlo das causas sociais. É tudo calculado em função dos cifrões e dos milhares de milhões que se investem aqui e ali, como se as pessoas não contassem para nada e o dinheiro, por si só e de forma completamente autónoma, pudesse resolver os problemas que nos vão sendo colocados na vida quotidiana.
De cada vez que se fala de Educação lá vêm à baila os milhões e as percentagens e os salários e todo o habitual relambório de números para isto e para aquilo que tudo justificam e clarificam para que, no fim de contas, tudo fique na mesma ou até um pouco pior. Enquanto não assumirmos que a equidade educativa não passa de uma miragem (por muito que nos custe admitir tal monstruosidade) não conseguiremos ultrapassar o limiar da mediocridade em que nos encontramos, estáticos como avestruzes de cabeça enterrada a procurar não sabemos o quê, perdido nas profundezas da areia. Há quem consiga ultrapassar todas as barreiras e ascender na inclinada pirâmide social. O actual Presidente da República Portuguesa é um bom exemplo disso, apesar de tudo.
Talvez esteja na altura de ir ao baú buscar velhos conceitos que estão mesmo a pedir novas reflexões paradigmáticas, sem dogmas nem ressentimentos demasiado azedos. A luta de classes é um bom exemplo de um fantasma a ressuscitar. Sem armas na mão nem guilhotinas na praça pública. Só para tentarmos abrir um pouco melhor os olhos.
A sociedade que estamos a ajudar a construir não tende para o equilíbrio nem é esse o objectivo da coisa. Talvez a maioria dos cidadãos acredite na possibilidade de encontrar uma fórmula mágica que nos permita reduzir o tal fosso entre a riqueza ostentatória e a indigência vegetativa, mas, por muito que se consiga reduzir, será sempre um fosso imenso e aparentemente injusto. Anda por aí uma minoria silenciosa que vai acautelando de forma sistemática os seus interesses e mantendo a segurança dos palácios que habita.
A Educação constitui uma via possível para encurtar tais distâncias. Os socialistas utópicos do século XIX viram na generalização do ensino público uma ferramenta decisiva para a promoção da mobilidade social e a aposta dos sistemas democráticos nesse sentido é mais que uma obrigação, é quase uma fatalidade! A utopia social democrática esbarra violentamente no muro intransponível que o capitalismo selvagem constrói em volta dos seus interesses desumanos. Ao permitirmos que a Economia fosse elevada à categoria de divindade suprema perdemos o controlo das causas sociais. É tudo calculado em função dos cifrões e dos milhares de milhões que se investem aqui e ali, como se as pessoas não contassem para nada e o dinheiro, por si só e de forma completamente autónoma, pudesse resolver os problemas que nos vão sendo colocados na vida quotidiana.
De cada vez que se fala de Educação lá vêm à baila os milhões e as percentagens e os salários e todo o habitual relambório de números para isto e para aquilo que tudo justificam e clarificam para que, no fim de contas, tudo fique na mesma ou até um pouco pior. Enquanto não assumirmos que a equidade educativa não passa de uma miragem (por muito que nos custe admitir tal monstruosidade) não conseguiremos ultrapassar o limiar da mediocridade em que nos encontramos, estáticos como avestruzes de cabeça enterrada a procurar não sabemos o quê, perdido nas profundezas da areia. Há quem consiga ultrapassar todas as barreiras e ascender na inclinada pirâmide social. O actual Presidente da República Portuguesa é um bom exemplo disso, apesar de tudo.
Talvez esteja na altura de ir ao baú buscar velhos conceitos que estão mesmo a pedir novas reflexões paradigmáticas, sem dogmas nem ressentimentos demasiado azedos. A luta de classes é um bom exemplo de um fantasma a ressuscitar. Sem armas na mão nem guilhotinas na praça pública. Só para tentarmos abrir um pouco melhor os olhos.
2 comentários:
Dialéctica da luta de classes sob a forma de um aforismo
"A burguesia é a classe que nega discursivamente a existência das classes sociais tendo como interesse objectivo manter a (sua) sociedade de classes.
Portanto, a dialéctica da burguesia na sua actuação quotidiana resume-se a uma negação da sua afirmação presente.
O proletariado é a classe que afirma a existência das classes tendo como interesse último e objectivo superar a(s) sociedade(s) de classes.
Portanto, a dialéctica do proletariado na sua acção quotidiana resume-se a uma afirmação pela sua negação futura."
Karl Marx? Sabes que eu, os grandes clássicos do discurso sobre fantasmas, passei ao lado. Sempre gostei mais de Ficção Científica ou outro tipo de delírios da imaginação. Obrigado pela tua colaboração neste post que ficou bem mais completo com o que escreveste!
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