Voyeurismo mórbido ou gula por imagens da história do futuro? A primeira gravação que vi foi aquela que agora tanta celeuma tem provocado.
Numa filmagem tenebrosa, a fazer lembrar o Blair Witch Project, com as imagens a fugirem para o chão e para o tecto, senti-me chocado com a crueza do enforcamento.
Há diálogos entre carrascos e condenado, agitação e tensão dramática, o alçapão do cadafalso que se abre no vazio da morte. Tudo muito feio, muito tosco, selvagem.
O vídeo termina com imagens do ditador, já sem vida, ainda com a corda em redor do pescoço e alguma vozearia indistinta para quem não compreenda iraquiano (hoje soube algo daquilo que diziam. Os vivas a Moqtada Al Sadr, os insultos, o Inferno nas bocas daquelas pessoas mascaradas (seriam demónios?) afadigadas em cortar o ar ao tresloucado carniceiro de Bagdad).
Mais tarde vi as imagens "oficiais", muito mais comedidas e sem o "picante" da queda final de Saddam.
Depois a leitura (no Público, claro está) da descrição do funeral de Saddam na sua Awja natal confirmou a pior das premonições: nasceu um santo mártir, capaz de potenciar ao mais alto grau os instintos assassinos de legiões infinitas de fanáticos. Deram aos potenciais bandidos (mais) outra justificação para atentarem contra a humanidade onde quer que seja, contra quem quer que seja.
Saddam ganha um novo fôlego (longe de mim querer ser irónico) e podemos esperar por novas atrocidades cometidas em seu nome juntamente com o nome de Deus.
A pena de morte não tem lugar num mundo civilizado. Esta execução vem confirmar que o horror da violência serve apenas para gerar mais horror e muito mais violência. Não se apaga um incêndio vertendo gasolina no centro da fornalha. E foi isso que foi feito!
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