Anda ainda tudo eriçado à conta das incautas palavrinhas do Papa teólogo em Ratisbona que, ao citar um confuso filósofo meio perdido nas brumas do tempo, trouxe o fanatismo a gritar para as ruas e para as nossas salas de estar via TV. Mete dó ver multidões de turcos a fazerem figura de ursos gritando tolices contra um homem cujo pecado principal é não passar disso mesmo e ter de fingir que acredita ser mais do que aquilo que todos já percebemos que ele é. Pouca coisa, de facto.
Ao argumento anti-islâmico (que Ratzinger jura a pés juntos ter sido mais inocente que beijo em bochecha de recém-nascido) gostaria de contrapôr uma passagem de Voltaire (o figurino na imagem acima) retirado da sua obra Carlos XII de 1730. Ele expressa a sua "terrível condenação" do facto de a igreja cristã ter dado origem a que, "durante tantos séculos, houvesse derramamento de sangue provocado por homens que proclamavam o deus da paz. O paganismo não conheceu sanha semelhante. Cobriu o mundo de trevas, mas praticamente não derramou uma gota de sangue, a não ser de animais". "O espírito dogmático fez medrar a loucura das guerras religiosas no espírito dos homens".
Não sou advogado do diabo nem me foi encomendado este sermão. Quero apenas demonstrar, com a singeleza que me é permititida pelo entendimento limitado que está ao meu alcance, como a um argumento se pode e deve responder com outro e levar para a estrada do diálogo e da discussão uma luta que não deve ser travada à paulada.
Um gajo vai andando e dando uns calduços no toutiço do parceiro, esquivando-se o mais que possa à previsível tentativa de resposta.
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