O endividamento acima das suas possibilidades económicas de uma percentagem significativa das famílias portuguesas mostra como, de um modo geral, o bom povo lusitano ainda não compreendeu as regras de funcionamento da sociedade de consumo.
A verdade, verdadinha, é que saltámos de uma ruralidade saloia e miserável para uma pós-modernidade igualmente saloia e igualmente miserável. 30 anos após o 25 de Abril e 500 reformas do ensino depois, esquecemo-nos de que a escola tem, também, a função de preparar os cidadãos para a vida activa, explicando-lhes as trivialidades da existência em sociedade.
Mas não, apostamos em querer ensinar tudo ás criancinhas, logo ali, desde a mais tenra idade (actualmente, o currículo do 7º ano de escolaridade tem 14 (!!!???) disciplinas diferentes!!!). Isso mostra como, na realidade, nos estamos a borrifar. Não queremos ensinar-lhes nada. Ainda por cima não temos tempo para estar com elas (com as criancinhas) e fazemos de conta que está tudo bem. As ruas já não são o que eram, os putos prantam-se defronte aos écrãs e encontram aí, na TV, na NET, nas consolas de jogos, o amigo que falta, o progenitor incansável, a avózinha simpática, o puto fatela que lhes deixa o nariz a pingar sangue depois de um tremendo soco na fachada.
Assim não vamos lá. As igrejas foram substituídas (para pior) pelos centros comerciais, o consumo é compulsivo, sem regra nem tino, como mostram os tais números sobre a falta de pagamento de avultadas quantias que levam as famílias a perder investimentos mal feitos, destapando contas por fazer, histórias de uma estupidez boçal reveladoras de uma falta de preparação incrível.
Os modelos sociais são os que existem através das capas das revistas, coisas do género Castelo Branco ou Lili Caneças. Tivemos um aviso sério quanto ao estado a que chegámos quando Santana Lopes alcançou a chefia do governo mas parecemos de novo entregues ao estado catatónico que nos caracteriza enquanto povo. É tempo de tentarmos poupar as criancinhas.
Uma sugestão: passemos They Live (Eles Vivem), de John Carpenter, nos jardins infantis em vez do Bambi e outras tretas do género. Temos de preparar as criancinhas para aprenderem a distinguir a verdade da realidade e isso com carácter de urgência.
A começar amanhã. (Amanhã é já hoje e amanhã hoje será ontem).
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