quarta-feira, maio 11, 2022

Sem título é título?

     Uma obra de arte sem título é uma obra de arte intitulada? Esta dúvida parece-me pertinente embora reconheça em mim uma certa ignorância em termos de arte contemporânea, área espacial onde prolifera este... não título?

    Se considerarmos "sem título" como sendo uma designação particular de uma obra específica estaremos a admitir um oceano conceptual, cujas ondas, todas semelhantes, vêm bater as areias da praia do nosso entendimento arrastando consigo uma parafernália confusa. Ele são obras de pintura, de escultura, ready-made, desenhos, instalações e o mais que a imaginação e engenho artísticos sejam capazes de conceber. Sem título, sem título, sem título, sem título, um dia que alguém se dedique a contabilizar as obras "sem título" tem ali empreitada para uma vida inteira.

    Imagino que ao intitular uma obra com "sem título" (continuo a não ser capaz de decidir se se trata ou não de um título) o criador esteja a abrir o campo de significados de modo a convidar o espectador a completar-lhe o sentido. Assim mesmo, sem muleta nem indicador em riste; amanha-te espectador que tens muito boa idade para seres emancipado. É bom. 

    É bom espicaçar os sentidos de quem se pranta perante um objecto artístico tentando que ultrapasse uma certa tendência para o olhar bovino com que muitos de nós presenteiam a arte, quantas vezes com um croquetezinho na mão e a mania que somos espertos a desviar-nos a atenção, a fazer-nos concentrar sobre nós próprios... já estou a desviar-me do assunto. 

    Recentremos: o facto de uma obra de arte ser acompanhada de uma etiqueta que anuncia "sem título" contribui de forma eficaz para convidar o espectador ao mergulho no seu presumível mar de significados? Recentremos recuando um pouco mais: é "sem título" um título? Aqui chegados dir-me-ás, leitor espectador, "mas o que queres tu com esta conversa toda?" Se eu soubesse  dizia-te mas, a verdade, é que estou tão longe de uma conclusão que a dissertação sobre este assunto arriscar-se-ia a tornar-se num aborrecimento tendencialmente infinito e sabemos muito bem como este post já vai longo e tu estás a ficar farto de ler esta merda, a pensar como é bom ler  tweets ou clicar likes no facebook à razão de dois por segundo.

    Fico por aqui. Mais tarde cá voltarei, se ainda aí estiveres.

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