sexta-feira, maio 27, 2022

Narciso ao fundo

    O mundo em que vivemos não me parece muito nosso amigo. São demasiadas as ocasiões em que fico com a sensação de que o mundo nos está a empurrar para o lado, a por-nos à beira do prato, como se fôssemos coisas intragáveis. E não é apenas o mundo inteiro, aquilo a que também chamamos planeta, é o mundo por nós construído para nele vivermos.

    Criamos leis, traçamos fronteiras, damos nomes específicos a espaços virtuais e dizemos que aquilo são nações. Plantamos um orgulho imbecil no peito cada indivíduo que regamos com discursos inflamados e histórias-de-ir-ao-cu, fazemo-los acreditar que a sua honra e a sua felicidade dependem do grau de entusiasmo com que entregam a sua alma à tal nação. O extraordinário é que a maioria das pessoas acredita nestas patranhas. E temos o mundo entornado.

    Gostamos de nos imaginar melhores do que somos. Narciso é que sabia! Ele compreendeu a essência das coisas todas ao olhar-se no espelho das águas. Acabou afogado na morbidez do seu desejo. Não acabamos todos? Não é esse o atroz destino da Humanidade?

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