Segue-se a transcrição de uma parte do trabalho de reportagem de Paulo Moura na Líbia, publicada na edição do jornal Público de Domingo, 6 de Março:
"Não me agrada um regime como o de Khadafi, que tira a liberdade às pessoas", diz Nader. "Por isso vim para cá ajudar os líbios a lutarem pela liberdade. Por um regime verdadeiramente livre, não uma democracia". Para ele, democracia não significa governo do povo, mas sim um regime igual ao dos EUA, de Khadafi ou Mubarak. "Na democracia as pessoas não são livres por causa do crime e da corrupção. Não há justiça quando vivemos sob a lei do Homem. Só a lei de Deus é justa. Num país onde vigora a lei de Deus, se uma pessoa rouba, o Governo manda cortar~lhe a mão. E nunca mais rouba. E também ninguém mais o faz, porque as pessoas não querem ficar sem mãos." E Nader dá exemplos da aplicação da Sharia na sua versão mais estrita. Para ele, isso permitiria viver em liberdade.
"Onde é que há verdadeira democracia? Digam-me."
Como exemplo de regime onde o povo vivia em liberdade, Nader dá o do Mullah Omar, líder dos taliban no Afeganistão. "Mubarak não permitia que o criticassem. E mandava a polícia matar os cidadãos. É isso a democracia? Se não era democracia então porque o apoiavam os americanos? Também eles não são uma democracia?"
Um dos amigos líbios que estão a ouvir o empolgado discurso de Nader interrompe-o. "Não. Nós somos pela democracia." Diz Abdessalam Ali, de 28 anos. "É errado dizer que não queremos a democracia. Somos muçulmanos mas democratas." E o outro, Jomaa Assan, de 20 anos, explica: "Se dizemos que não queremos a democracia, os americanos bombardeiam-nos. Como fizeram no Afeganistão e no Iraque. Nós não queremos a guerra com os americanos. Somos democratas."
Coisas como esta deixam-me a pensar. Sabemos bem que "o mundo de cada um é os olhos que tem" mas dificilmente conseguimos sequer imaginar o que os olhos dos outros vêem, mesmo quando estamos ambos a olhar para a mesma coisa.
1 comentário:
Mesmo muito complicado...
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